A rua ensina o caminho para uma criança conhecer o Rap, e o Rap muda sua vida em questão de anos, dias ou semanas. Começa sempre em uma batalha entre amigos na própria rua ou dentro de alguma casa, depois evolui e passa a ter plateia.
Caio Lima Silva de Souza, 19 anos, nasceu na cidade de Salvador em 11 de maio, teve seus primeiros contatos com a música logo quando criança e de tanto usar referência, hoje é reverenciado.
JAPA CONTA SUA HISTÓRIA
Eu sempre morei aqui em Águas Claras e sempre gostei muito de música, mas não escutava tanto rap, minha influência era mais voltada ao Reggae por conta de minha madrinha, e ao MPB por conta da minha mãe. Depois de um tempo eu comecei a escutar muito os funks do “Furacão 2000” e passei a acompanhar mais os mcs de funk que cantavam sobre a realidade: Menor do Chapa, MC Marcinho, Smith, Pixote… Daí fui desenrolando escrever uns funks também, tem um amigo meu de infância Yashi que já escutava funk e fazia umas rimas, hoje ele não tá mais nesse caminho, mas me ajudou muito a evoluir e se não fosse por ele, hoje eu não estaria fazendo rap.
E com isso comecei a fazer freestyle e escrever minhas primeiras letras, tudo isso em 2011, tinha apenas 10 anos de idade. O Rap que se fazia presente aqui em Águas Claras, eram aqueles raps que chegavam em todas as favelas, Racionais, Facção e Sabotage. O primeiro rap que escutei foi “Eu não pedi pra Nascer” do FC, na casa de um amigo de infância. Eu não tinha acesso a internet, sempre fui mais de viver na rua jogando bola, então ouvia falar de rap apenas por um amigo meu da escola o Léo que sempre foi fã e hoje tem até um grupo; Da Rua MC’s.
Com ele, eu passei a acompanhar mais o que era novo naquela época, MCs como: Emicida, Projota, Rashid... Foram os 3 primeiros MCs que me tornei fã. Como eu sempre escrevi minhas letras voltadas para o funk, não procurava muito saber sobre o rap, até que em 2013 o Mc Griot daqui de Cajazeiras chegou até minha casa com alguns raps que ele tinha escrito, e isso me inspirou bastante a tentar fazer também. O que não foi tão difícil para mim já que eu não via tanta diferença entre os funks conscientes e os raps, só as batidas. A partir disso me tornei um grande fã, não só do rap, mas do hip hop em si. 2016 fui para minha primeira batalha de RAP, o Pega Rex, e tô aqui até hoje…
COMPLEMENTO DO AUTOR DA REPORTAGEM
Japa tentou ser jogador de futebol, jogando no Bahia e na divisão de base do Vitória. Ajudou a revolucionar o cenário da batalha de cajazeiras, sendo o primeiro MC da história do bairro a ser campeão municipal, o primeiro a participar de uma fase do nacional. É o MC que mais tem 3º round e organiza a Pega-Rex que foi a única da história de Cajazeiras a participar de um circuito seletivo para o Nacional.
Luan FH – A música em sua vida sempre foi uma referência objetiva para o desenvolvimento do artista que hoje você é, porém, alguma vez você se deparou com alguma situação que se encaixou perfeitamente em uma frase de alguma música que você ouviu?
Japa – Muitas vezes, uma das músicas que mais me salvaram foi “Mil Cairão” de Rashid, pelo fato de ter passado por várias situações em que eu me vi perdido e consegui achar uma luz para seguir em frente. “Levanta e Anda” do Emicida com o Rael também, já que é uma música que fala muito sobre a falta de motivos que você tem pra correr atrás do seu sonho, mas o excesso de coragem.
VERSOS EM DESTAQUE DAS MÚSICAS CITADAS
“Mil Cairão” (Rashid)
Só tenho a agradecer por cada dia
E por me fazer maior do que qualquer problema
Tem quem não acredite em ti, enfim
Eu acredito por saber que o Senhor também acredita em mim
“Levanta e Anda” (Emicida)
Quem costuma vir de onde eu sou
Às vezes não tem motivos pra seguir
Mas eu sei que vai, que o sonho te traz
Coisas que te faz prosseguir
Então levanta e anda, vai, levanta e anda
Vai, levanta e anda
Luan FH – Você vive no trap, no rap ou nos dois?
Japa – Vivo nos dois. Apesar de muitas pessoas não considerarem a mesma coisa, eu não gosto de dividir trap e rap. Trabalhos para os mesmos objetivos, vivemos nos mesmos ambientes com as mesmas pessoas. No fim, o rap e o trap salvaram e vão salvar a vida de muitas pessoas, isso já é o bastante!
Luan FH – Tem alguém que te inspira?
Japa – Com certeza, o que seria das pessoas sem inspirações. Eu sempre busquei motivação nas pessoas próximas a mim, nos meus irmãos de cajazeiras, nos irmãos que fiz nas batalhas, e em mim mesmo. De artista já conceituado, também tem vários que me inspiram, mas ultimamente o artista que eu mais tenho me identificado é Dudu…
Luan FH – Qual foi a reação da tua família ao saber das tuas conquistas no rap?
Japa – No começo foi meio duvidoso, eles não me criticavam, mas também não amavam. Minha mãe nunca amou o fato do filho fazer rap, mas como é mãe, ela nunca deixou de apoiar minhas escolhas. Depois de crescer, eu entendi muito o lado dela, mas mesmo jovem isso nunca me abalou porque sabia que uma hora iria mostrar a família que eu tinha/tenho talento pra isso. Hoje em dia todos da minha família me acompanham, recebi muitas mensagens quando apareci na globo, recebi muito apoio quando participei da batalha de Emicida, das eliminatórias nacionais e do Duelo na Tela. Sou muito grato e abençoado pela família que tenho.
Luan FH – Vou deixar um espaço livre para você desenvolver uma filosofia, ou qualquer mensagem, sacou?
Japa – Eu não sou muito bom com palavras, só queria deixar meu agradecimento a minha família e a Léo, Piaget, Yashi e Griot. Sem eles, eu não teria metade das conquistas, assim como ajudei muito eles, eles me ajudaram muito. Também queria deixar claro que nenhum sonho é impossível. Eu nasci e cresci em um bairro onde temos muita cultura, mas poucos exemplos. Eu vim literalmente do baixo, do 0. 2 anos atrás eu ajudei meu mano Vini a levantar a Batalha da Praça, e nós ficávamos rimando para 10 pessoas, sendo 8 delas, MCs. Hoje eu sou considerado um dos melhores do estado, recebo convites de outros estados oferecendo pagarem minha passagem para ir rimar na batalha deles, fui convidado para rimar em uma Batalha de Emicida.. Você é do tamanho dos seus sonhos! Se você sonhar alto, você vai ser gigante. Apenas.