11 de setembro de 2024
Música

Realidade brasileira é destaque no novo álbum de Sid Ferreira

 

É na mistura de gêneros musicais genuinamente brasileiros que Sid Ferreira apresenta seu mais novo álbum, “Outros 500”. O samba e choro combinam com ijexá e jazz, em uma fusão harmoniosa de composições que manifestam a insatisfação com a classe política e denunciam a realidade atual do país.

— Neste CD mais uma vez eu tive o prazer de poder contar com a participação de músicos muitos talentosos, muitos se tornaram amigos e parceiros, como Matheus Prevot, que canta uma de nossas parcerias comigo no disco, Yumi Park, que canta uma música que fiz sobre o Rio, e leo Mucuri, com quem divido os vocais na canção que abre o disco. — comentou Sid.

 

Abaixo, veja na íntegra uma entrevista especial que fizemos com Sid Ferreira.

 

 

Na questão temática, você usou a realidade do país. Como chegou nesse assunto? O que exatamente te inspirou para isso?

No meu primeiro CD SEM FANTASIA as composições falam de amor. Neste segundo trabalho quis fugir um pouco deste tema e, considerando o período de transformações negativas que o Brasil vem passando, focar em assuntos que infelizmente permanecem atuais, como racismo, corrupção na política e intolerância religiosa. Esta mudança de foco nas letras foi a razão para eu ter escolhido OUTROS 500 como título do novo CD e esta expressão, além de fazer referência aos quinhentos anos de história do país, é bastante adequada se considerarmos a sua origem, que aparentemente nasceu de uma lei instituída na península Ibérica por volta do século XIII que estipulava uma multa de 500 soldos a quem ofendesse um nobre, tendo ainda o agressor, se reincidente, que pagar outros 500.

 

Você escolheu ritmos genuinamente brasileiros para compor o álbum. Por que teve essa escolha?

As letras do CD falam da realidade do Brasil, então naturalmente os arranjos deveriam representar a música brasileira. Mas além de samba, choro, ijexá e bossa nova, houve a inclusão de outros gêneros, como jazz, salsa e bolero, pois também sou bastante influenciado pela música latina.

 

Nesse sentido, quais foram suas influências?

Costumo dizer que sou uma salada de frutas de influências musicais. Na adolescência ouvia de Hanson a Nightwish, mas a minha formação musical tem como base a MPB. A MPB clássica de Ivan Lins e Chico Buarque principalmente. E a MPB contemporânea de Jorge Vercillo e Fabio Cadore, por exemplo.

 

Você também usou temas mais leves…

Sim. A temática “amor” não foi inteiramente deixada de lado neste trabalho, no entanto abordei nas letras o amor pela música, pela natureza, pela vida e pelo Rio de Janeiro, minha cidade natal.

 

Com esse disco, você acredita estar contribuindo para uma sociedade melhor? Como fez Chico Buarque e como faz Criolo?

A arte em si contribui para uma sociedade melhor. Eu, como todo artista, sou apenas um canal que oferece suas próprias emoções, histórias e ideias para tentar emocionar, divertir e causar reflexão. Mas esse efeito depende mais de quem consome a arte e do que de quem a faz.

 

Esse disco é totalmente autoral. Gostaria que você comentasse como foi o processo de composição das 12 faixas.

Sobre o processo de composição: para cada música a criatividade brota de uma forma diferente. Às vezes de uma ideia de melodia, às vezes surge uma letra de algo que ouço, vejo, penso, vivo ou até mesmo sonho. A inspiração está em toda parte.

 

Tem alguma história que envolva o disco?

Sim. Especificamente sobre a composição de SILENT RIO (CARIOCA) que surgiu durante um show. Faz quase dez anos, durante o show de lançamento do CD NOSSAS CANÇÕES no SESC de Madureira, Ivan Lins conversava com seu parceiro de palco, Celso Viáfora, sobre o orgulho de ser carioca e que apesar de estar sempre rodando o mundo fazendo shows, o Rio de Janeiro era o seu lar. Eu estava na platéia ouvindo as conversas que eles tinham entre uma música e outra, e dado momento Ivan comentou de uma frase que havia lido em algum lugar (não lembro se um livro ou poema) que dizia algo como: o Rio tem algo especial que amanhece e aqui parece que tudo se amou. Ao ouvir essa fala, os versos do que viria a se tornar a letra de Silent Rio vieram a minha mente. Foi até um pouco engraçado, na época não tinha smartphone, eu estava sem papel, sem caneta e fiz um grande esforço para decorar a letra durante todo o trajeto do ônibus para voltar pra casa.

Já a música surgiu com bastante naturalidade também. Eu já tinha a sequência de acordes da primeira parte da música pronta, o que facilitou a criação de uma melodia que casou perfeitamente com a letra.”

 

CONHEÇA FAIXA A FAIXA DO DISCO, segundo Sid.

 

  1. Diversidade

A música que abre o disco é um ijexá, cuja letra fala sobre a (in)visibilidade negra na mídia: as oportunidades negadas, a sociedade reforçando esteriótipos e o racismo velado.

 

  1. F.D.P. (Filosofia Dos Políticos)

A letra surgiu de um poema da Keissy Carvelli que transformei em música, enquanto tentava aprender uma batida de violão de um samba do João Bosco.

 

  1. Viva a Vida

Esta canção é um samba sobre aproveitar as coisas simples da vida, respeitar a natureza e buscar a felicidade.

 

  1. A Voz da Alma

Uma música de amor sobre o amor à música. Esta canção explicita outra vertente das minhas influências musicais: o jazz.

 

  1. Silent Rio (Carioca)

Canção entre jazz e bossa nova que fala sobre o Rio de Janeiro, mas não do ponto de vista de um turista, mas pela ótica de um trabalhador. A letra fala da rotina de alguém que acorda de madrugada, encara a labuta, e ao fim do dia, encantado pela magia da cidade, recarrega suas energias ao aproveitar a noite carioca.

 

  1. Copo d’Água

Um samba que simboliza duas correntes políticas opostas, mas ambas decepcionadas com os políticos brasileiros. E o dilema mudar o país ou mudar de país?

 

  1. Comédia Romântica

Choro sobre a mente feminina do ponto de vista masculino. No arranjo, a flauta simboliza a  mulher e o cavaquinho simboliza o homem contando a história.

 

  1. Veja Somente

Uma mistura de bolero com arrocha que é a minha composição mais recente a entrar no disco, e também primeira parceria “não virtual”. Matheus Prevot e eu nos reunimos, começamos e terminamos letra e música em uma só noite.

 

  1. Aos Nossos Pais

Segunda parceria com Keissy Carvelli que fez a parte inicial da letra a partir do meu pedido de fazer o outro lado de “Aos Nossos Filhos” (Ivan Lins / Vítor Martins).

 

  1. Estado Laico

Um pop-rock inspirado nas trilhas sonoras dos filmes do 007, cuja letra fala de intolerância religiosa.

 

  1. Keissy

Uma música que traduz as diversas fases da adolescência passeando por vários gêneros musicais, do pop ao samba. Teve inspiração na sonoridade do nome de minha parceira Keissy.

 

  1. Simone

Uma singela homenagem a uma das minhas cantoras brasileiras favoritas.

 

 

 

 

 

 

 

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Fundador e editor da Arte Brasileira. Jornalista por formação e amor. Apaixonado pelo Brasil e por seus grandes artistas.