Um pouco da banda
A música sertaneja pode parecer muitas vezes pejorativa, principalmente quando relacionada ao som pop feito no Brasil nos últimos anos, o sertanejo universitário. Sertanília veio para desmascarar esse tabu, transformando o sertanejo em algo mais amplo, com o sertão como partida e não como fim.
O grupo que procura o lirismo das cordas e vozes com a força das percussões, foi formado em 2010, quando Aiace conheceu Anderson Cunha, que é até hoje o violeiro da banda e quem assina todas as composições do repertório. Naquele ano, Aiace ainda não sabia muito sobre a vida sertaneja, até que passou a se encantar ao descobrir os reisados do alto sertão baiano, as sambadas, as histórias.
A roda girou algumas vezes para a banda quando a questão é integrante. “Passamos por várias formações desde o nosso início. Começamos eu (Aiace) e Anderson, mas depois da nossa primeira viagem entrou o Diogo Flórez, um dos percussionistas. Mas pra fazer nosso som acontecer, há uma galera que cola com a gente nos shows: João Almy (violão), Ricardo Erick (Cello), Mariana Marin e Raul Pitanga nas percussões”, comentou Aiace.
Com pouco tempo de estrada, Sertanília já estava se apresentando, por exemplo, quando foram convidados para fazer shows em Portugal. A mesma oportunidade surgiu no Brasil ao gravarem o primeiro EP da banda. Com divulgação feita na internet, Sertanília passou a receber convites para tocar em todo canto.
O nome da banda parece um tanto estranho, mas tem uma boa explicação. Um livro lançado por Elomar (inspiração do grupo) com o nome de Sertanílias foi o estopim para a criação do nome do conjunto, enquanto que, por outro lado, o nome também foi inspirado no final “ília”, que representa geralmente um conjunto de coisas, como por exemplo “Família”, que simboliza um grupo de pessoas que vivem sob o mesmo teto ou que mantém uma ancestralidade em comum. “Dentro dessa perspectiva, enxergamos ‘Sertanília’ como um plural dos Sertões que estão de forma mais direta ou indireta influenciando nosso som desde a inspiração primeira até sua finalização”, disse Aiace.
Uma das ideias mais importantes da banda é o lado do resgate histórico. “Uma das manifestações que norteiam o som do Sertanília é o Reisado, que veio pro Brasil com a colonização portuguesa e aqui ganhou novas feições. Nos debruçamos sobre o alto sertão baiano para pesquisar, mais precisamente na cidade de Caetité e nas proximidades, onde a tradição do Reisado ainda é muito forte e junto a essas pesquisas acrescentamos o que cada um traz na sua bagagem. O Anderson nasceu em Caetité e sempre quis cantar o local de onde ele veio. Eu e Diogo viemos nos juntamos a ele nas pesquisas”, completou Aiace.
É também com esse intuito, que a mensagem da banda se baseia na vida sertaneja com as coisas simples da vida, o céu estrelado, a esperança da chuva, os amores, as saudades. Mas a Sertanília não fica estacionada nessas questões, trazendo também assuntos como política e os costumes, ao traduzir a realidade em que os integrantes vivem.
Opinião (Comentário de Aiace, vocalista da banda)
Acho que a internet veio como uma grande aliada da música alternativa. Ela ainda consegue ser democrática e permite que pessoas próximas ou distantes da sua cidade tenham acesso ao que você produz e muitas vezes de uma forma personalizada, com uma relação mais próxima entre o artista e quem ouve. Isso tem sido fundamental para formação do nosso público, já que nem sempre é fácil chegar nos outros tipos de mídia e devido à nossa extensão territorial e às dificuldade encontradas nas nossas estradas, também não é fácil circular nem dentro do próprio Estado e nem em outros Estados. Por isso, os apoios que fomos conquistando ao longo desses anos nas cidades em que circulamos, além das leis de incentivo, também têm sido fundamentais pra gente.