O escritor Jorge Ventura lança o livro “Outras Urbanas”, onde, no auge de sua maturidade poética, trata da relação do homem consigo mesmo e com a sociedade que o cerca nas grandes cidades, com poesias que jogam luz no que há de mais prazeroso, alucinante e, ao mesmo tempo, de mais caótico e decadente nos centros urbanos.
A característica primordial desta obra está na junção do signo verbal ao icônico (desenhos, fotos, imagens, alternância do preto e branco no fundo da página e/ou na mancha do texto), num belo projeto editorial da Ventura Editora, com execução/montagem do designer Gustavo Gama, e desenhos de Val Mello, fazendo o leitor transitar entre o poético e a realidade.
CONVITE À REFLEXÃO por César Manzolillo
“Quando as estrelas começarem a cair, me diz, me diz pra onde é que a gente vai fugir?” – Renato Russo
Penso que qualquer manifestação artística deve ser realizada da forma mais livre possível, sem amarras ou regras rígidas. Apesar disso, no que diz respeito à coletâneas literárias (reunião de contos ou de poemas, por exemplo), julgo que a proposta se torna mais satisfatória quando o autor, mais do que uma junção pura e simples (muitas vezes aleatória) de textos, decide pôr sua capacidade criativa a serviço de um projeto. Em outras palavras, os textos que compõem a publicação dialogam entre si, formando um conjunto coeso e harmônico.
Essa é claramente a opção de Jorge Ventura, que agora nos traz este belo Outras Urbanas. Aqui, os poemas apresentam temática urbana, e as máculas da cidade recebem um olhar poético. Ventura é autor de múltiplos recursos, dono de uma sólida obra poética, enriquecida agora com este título que você tem nas mãos. (…)
(…) Com este livro, Jorge Ventura oferece ao leitor, além do deleite estético, a possibilidade de reflexão, algo fundamental na vida de qualquer ser humano. Assim, sugiro que você avance logo algumas páginas e comece a leitura, deixando-se impregnar pelo talento impermisto contido neste necessário Outras urbanas.
OUTRAS URBANAS /OUTRAS VISÕES por Adriano Espíndola
Quando Baudelaire cruza com uma majestosa mulher, em uma rua agitada de Paris, certo de que nunca mais tornará a vê-la, ou quando avista uma esplêndida carniça em uma esquina ou, ainda, quando nos fala da perda da sua aura de poeta sublime no lamaçal da rua, está, com essas peças, sugerindo um novo espaço do acontecimento poético: o espaço da grande cidade. Diferentemente do locus romântico, que instava o poeta a refugiar-se na natureza e a cantá-la, certo de que ali poderia fundir e aplacar a sua subjetividade atormentada, o seu Eu nostálgico em busca do absoluto, o autor de As flores do mal (1857) vai surpreender na cidade uma nova e insuspeitada beleza, “metade transitória, metade eterna”. A beleza da própria modernidade. (…)
Jorge Ventura é um desses poetas que faz avançar, já no século 21, essa incontornável linha temática da poesia moderna, como podemos atestar neste seu novo livro, Outras urbanas. O próprio título parece-nos sugerir a consciência dessa retomada, como se dissesse que agora surgem “outras (poesias) urbanas”, a partir da significação verbal-poética associada à representação gráfico-visual, perfazendo, ao longo do volume, uma “via de mão dupla”. (…)
Mas aqui o desafio maior está mesmo em expressar poeticamente a dura realidade humana e social da cidade – da cidade do Rio de Janeiro, onde nasceu e vive o poeta – , com seus problemas, medos, violências, injustiças e ameaças que cercam o dia a dia dos habitantes da outrora “cidade maravilhosa”. E isso o autor o faz de forma precisa, ao denunciar o processo de desumanização dos espaços e de seus viventes, nas quatro partes do livro (“Gente”, “Bichos”, “Ruas” e “Caos”), mas também, aqui e ali, pontuando-o com a voz lírico-existencial (“sou criança/no azul pátrio/das manhãs/marginais”) e amorosa (“a musa, a música, o bom vinho/à noite, todo sonho é bem-vindo” (…)
Considerando a unidade temática voltada para a cidade e o ousado projeto gráfico-visual, podemos afirmar que, com Outras urbanas, Jorge Ventura logra realizar, na contemporaneidade, um dos mais criativos e instigantes livros de poesia, dando continuidade à estética dissonante dos poetas modernos, inaugurada por Charles Baudelaire.
Sobre Jorge Ventura
Jorge Ventura é escritor, roteirista, editor, ator, jornalista e publicitário. Tem pós-graduação em Marketing e Didática do Ensino Superior. Possui 10 livros publicados e participação em dezenas de coletâneas e antologias nacionais e estrangeiras. É presidente da APPERJ (Associação Profissional de Poetas no Estado do Rio de Janeiro), vice-presidente da ABLAP (Academia Brasileira de Letras e Artes pela Paz), titular do Pen Clube do Brasil, membro diretor da UBE – RJ (União Brasileira de Escritores) e um dos integrantes do grupo Poesia Simplesmente. Recebeu diversos prêmios, em nível nacional e internacional, como autor e intérprete. Tem poemas vertidos para o inglês, francês, espanhol, italiano e grego. É sócio proprietário da Ventura Editora e Editora Iniciatta.
Instagram: @jorgeventura4758
Texto de Paula Ramagem/Arte Cult (assessoria de imprensa)