14 de dezembro de 2024
PARA SE INSPIRAR

PARA SE INSPIRAR – As artes visuais de Gregory Antony

Gregory Antony é, além de comunicador digital, artista visual, atividade que o engloba como desenhista, cartunista, quadrinista e ilustrador. Nascido no final dos anos 1980 na capital paulista, criado em Rio Preto, interior de SP, e atualmente mora também no interior do estado, em Piracicaba.

Ao longo de sua vida artística, iniciada ainda na infância, desenvolveu vários projetos, recebeu reconhecimentos e é o nosso alvo para integrar a sessão “PARA SE INSPIRAR”. Conhecemos Gregory por meio de Danilo Martire, cantor e compositor que teve as capas de seus mais recentes singles desenhadas por Gregory.

Vamos embarcar nesse artista inspirador?

Quadrinho de Gregory Antony

PRIMEIROS PASSOS

Tudo começou como na maioria das vezes começa: rabiscos em sulfites, com “casas quadradas habitadas por humanos-palitos sob nuvens azuis”, como ele mesmo diz. Porém, os primeiros raios de criatividade vieram da observação de Gregory a respeito dos objetos à sua volta. Tudo muito simples, e a partir dos erros, muitos aprendizados.

Tentava copiar o traço de outros desenhos que eu encontrava em jornais e revistas, além de rabiscar coisas que via do cotidiano. Tive aulas de arte na escola por um tempo, onde aprendi algumas técnicas, mas foi só isso. Ainda dependo muito da minha criatividade quando encontro uma dificuldade de expressão visual. Mas acho que tem dado certo pra mim, para o meu traço, tentar encontrar esses caminhos para superar uma limitação.”

Começam então seus personagens e quadrinhos

Já na adolescência, Gregory tinha duas grandes influências: tiras de jornal e quadrinhos de super-heróis. Na época, sua mãe tinha um comércio no centro de Rio Preto, e diariamente recebiam o jornal da cidade. Enquanto a mãe fazia as palavras-cruzadas, Gregory lia as tiras de humor.

“Conheci Garfield, Calvin e Haroldo, Snoopy, Hagar e outros dessa forma. Então, por causa deles, criei meu próprio personagem de tiras de humor, O Azarado. O plot era bem simples: tudo que ele fazia, de alguma forma dava errado. Criei outros personagens para aquele universo, algumas dezenas de tiras e uma história de origem. Porém, nunca o desenvolvi depois de adulto.”, diz ele.

“Já os quadrinhos de super-herói vieram de algumas poucas revistinhas que comprei durante a infância. Batman e Superman basicamente. Delas eu comecei a copiar o traço para criar minhas próprias revistinhas. Meus bonecos também serviram de referência para os desenhos. Já a história era uma mistura de tudo que eu via e lia na TV e HQs: numa edição o herói era encolhido e fazia uma viagem dentro do corpo humano; em outra ele lutava com o vilão com robôs gigantes; já em outra, a revista virava um livro-jogo, onde havia várias escolhas para o fim da história… O curioso é que não tenho a edição n° 1 desse herói, a sua ‘história de origem’. Eu emprestei essa revistinha para um colega de classe ler em casa e, no dia seguinte, ele disse que a perdeu… Inocência de criança.”, completou.

E a arte digital?

Em 2006, Gregory teve a oportunidade de ter, pela primeira vez, um computador em sua casa. Junto com ele, chegou uma máquina multifuncional, que escaneava e imprimia. A partir de então, Gregory passou a digitalizar alguns de seus desenhos e colori-los no Paint com o mouse, um processo que, logicamente, era lento.

“Anos depois, já na universidade, comprei um notebook e depois uma mesa digitalizadora, que é uma mesinha com caneta que você conecta via USB e todos os traços que você faz na mesa aparecem na tela do computador. Foi aí que realmente comecei a me aprofundar no desenho digital e fui deixando de lado o lápis e papel, pois, devido a questões financeiras, meus desenhos eram quase sempre em preto e branco e, no digital, eu poderia explorar infinitas cores e diversas texturas.”, explica Gregory.

O grande avanço mesmo veio a acontecer em 2015, ano em que ele já estava bem adaptado ao digital. Gregory comprou um tablet portátil acompanhado de uma caneta própria para desenho. Este foi o momento que marcou a sua imigração completa ao digital. “Foi nesse tablet que fiz, e ainda faço, os meus principais trabalhos. Por ele ser portátil, pude levá-lo a diversas viagens e fazer desenhos complexos em lugares inusitados, como no meio do mato, ou nos horários de descanso quando trabalhava de garçom, por exemplo.”, diz ele.

Arte feita por Gregory para a banda Augustine Azul

PROJETOS ESPECIAIS

Física e Quadrinhos

A paixão de Gregory pela ficção científica e pela ciência o motivou a entrar no curso de Física na Unesp de Rio Claro. Neste período, ele não abandonou as artes, fato que o fez desenhar tendo a física, química e matemática como inspirações principais. Então, Gregory percebeu que poderia levar a acessibilidade dos quadrinhos para o universo científico. Percebeu até mesmo que temas de difícil compreensão como a Física Moderna poderia ser facilitada no formato de quadrinhos.

“Como melhor entender sobre espaço-tempo, dilatação temporal e relatividade do tempo do que através de uma linguagem que tem como cerne o mapa temporal? Minha ideia era torcer, retorcer, modelar e dar formas variadas aos quadrinhos para mostrar os efeitos previstos pela Física Moderna em nosso universo, de forma muito mais intuitiva do que outras linguagens. Este era para ser o meu projeto de TCC, porém, acabei percebendo que essa ideia tinha muito mais a ver com um curso de artes do que com um curso de física, então ele acabou não vingando com minha orientadora…”

Gregory intitulou a ideia como “Física e Quadrinhos”, mas o projeto ficou inacabado. Porém, pode acontecer de voltar a ser desenvolvido. Gregory explica que um projeto dessa magnitude exige muita pesquisa, empenho e energia criativa. “Porém, é muito claro para mim que esse projeto, mesmo que ele não “exista” de fato, foi essencial para consolidar a visão que eu tenho da linguagem dos quadrinhos, a sua estrutura e a forma que eu penso nela nas minhas obras.”, diz Gregory.

Capas de álbuns/singles

A música é outra paixão de Gregory. Influenciado desde criança por ela e especialmente pelo rock, sentiu em 2016 que poderia unir as artes visuais e a música. A primeira ideia foi a de fazer uma arte de fã de uma banda de Paraíba chamada Augustine Azul. O trabalho foi bem recebido, o que abriu outras oportunidades de desenhar para músicos e bandas desde então. No entanto, Gregory menciona que seu maior desafio nesta categoria foi desenvolver as capas para o cantor e compositor paulistano Danilo Martire que, ao todo, foram oito capas de singles, cada uma com características próprias, mas compartilhando um mesmo conceito visual.

“Tentei traduzir em cores e objetos as principais ideias de cada uma das canções do Danilo, aplicando-os num conceito de metamorfose visual da música, num estilo fragmentado e cheio de detalhes, que é uma espécie de “assinatura” que aplico em muitas de minhas obras. A sintonia que consegui com o Danilo também foi essencial para esse projeto, pois, ao mesmo tempo que ele confiava na visão que eu estava dando para suas músicas, eu sentia que eu estava complementando a sua arte musical com imagens, símbolos e cores de uma forma muito orgânica.”

Por fim, Gregory menciona o trabalho com Danilo Martire como o que representou um salto técnico e artístico em sua carreira, devido a riqueza de detalhes e conceitos.

Gregory Antony produziu uma série de capas para os singles do cantor e compositor Danilo Martire. Esta é a capa da música “Virtual”.

OLHA QUE INTERESSANTE!

O ano era 2013. Por sugestão de um colega, Gregory participou de um curso de extensão intitulado “Performance Matemática Digital”, cujo uma das finalidades era a de desenvolver vídeos explorando conceitos matemáticos por meio de performances artísticas para, depois, participar de uma competição no Canada. Gregory ofereceu o que poderia: suas habilidades em desenho. O grupo, então, desenvolveu um projeto de animação, algo inédito para Gregory.

“O ponto alto para mim foi quando fui convidado a palestrar ao grupo sobre os conceitos que desenvolvi no projeto “Física e Quadrinhos”, para ajudar todos a desenvolverem ideias para o projeto. O interessante foi que nunca tinha organizado as informações e concepções que tinha sobre quadrinhos numa única linha de raciocínio e muito menos feito uma apresentação sobre o tema, o que para mim foi uma experiência única. Infelizmente, após a palestra não pude mais frequentar as reuniões, pois havia arranjado um emprego à noite. No fim eles acabaram desenvolvendo outros vídeos e os enviando para a competição, enquanto eu trabalhava paralelamente na animação, que, por falta de tempo hábil, nunca finalizei.”

“O resultado veio e fomos premiados: todos nós ganhamos medalhas do Instituto Fields enviadas do Canadá. Mesmo eu que não participei diretamente da performance premiada, fui reconhecido pela colaboração no processo e pelo engajamento de ideias para a performance. Para mim a medalha que recebi representou mais uma gratificação artística do que o produto de uma extensão universitária em matemática, pois neste curso explorei muitas habilidades artísticas que não estava habituado na época, e todo esse processo me ajudou muito a evoluir como artista.”

CONCLUINDO…

Gregory é um artista de mão cheia e mente criativa, de várias vias e ainda muito jovem, com um caminho longo a ser desbravado. Nesta reportagem, nós tentamos passar um pouco de sua trajetória. Esperamos que sirva de inspiração!

Gregory Antony (Crédito: Jessica Lane)

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FONTES: Entrevista com Gregory Antony

Crédito da foto de capa: Anne-Godoneo

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Fundador e editor da Arte Brasileira. Jornalista por formação e amor. Apaixonado pelo Brasil e por seus grandes artistas.