Gênio da bossa nova e ativo no mercado até hoje, Roberto Menescal já teve sua trajetória retratada em seis livros. O mais recente, publicado em 2020 e novamente promovido em 2022, é diferenciado. O fato de que “Um Arquiteto Musical” seja de autoria de sua prima, Claudia Menescal, é a base mais sólida para explicar esse fenômeno.

A relação próxima com o biografado permitiu uma pesquisa distinta. Alinhado a isso, o acervo pessoal e inexplorado de Roberto, e o acesso a outros personagens marcantes da vida do bossanovista. A partir desses alicerces, nasceram as 288 páginas deste livro, disponível em versão física, pela Editora Futurama.

Considerado leve e de fácil digestão, a obra é fruto de um momento despretensioso, do qual a autora e Roberto organizavam seu acervo. Os alhares atentos e curiosos, no entanto, perceberam que os guardados traziam à luz datas, eventos e locais já esquecidos por ele.

Esse conteúdo gráfico totaliza 300 fotografias, e se soma a recortes de jornais e revistas. Tudo inédito. E na década em que o artista chegou aos 80 anos de idade.

Com exceção da apresentação inicial das origens de Menescal relatadas em ordem cronológica, Claudia e o primo poupou o público do sensacionalismo e de fofocas, dois itens indesejados pelo artista, que os considera irrelevantes. A decisão foi um acordo em conjunto.

Primordialmente, a publicação tem foco na sua dinâmica e relevante carreira, com as demais facetas minimizadas. Rico em novas informações, o livro aborda principalmente a era bossa nova (os amigos do movimento, as musas inspiradoras, as parcerias, as composições).

Os textos são acompanhados por fotos em preto e branco. Mas não representa todas, já que muitas foram emprestadas por Menescal, e nunca devolvidas.

Além de registros da infância e adolescência, há fotografias da bossa nova e de quando atuou como diretor artístico da Polygram, gravadora de sucesso à época responsável por lançamentos de Elis Regina, Rita Lee, Gal Costa, Maria Bethânia, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso e muitos outros.

Os leitores também podem se deliciar com fotos com Roberto ao lado de Ronaldo Bôscoli, Nara Leão, Tom Jobim, João Gilberto e outros do movimento bossanovista.

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CURIOSIDADES

#1 – O TÍTULO DO LIVRO

É um trocadilho genial. O pai de Roberto cultivava o desejo de que ele estudasse arquitetura, assim como outros membros da família. Sua vontade, entretanto, era outra. Como de praxe, houve um conflito familiar, que se amenizou com o nome do filho reconhecido por meio de suas composições.

Infelizmente, Menescal pai não presenciou o auge da bossa nova. Morreu precocemente, em decorrência de uma doença.

#2 – SEM CENSURA

Outro fato de excelência do livro é que Menescal não fez uma pré-leitura antes da publicação. “Ele sabia mais ou menos o que ia ser publicado. A cada nova descoberta, eu comentava com ele. Mas, disse que não queria ler nada antes de ser publicado. Não viu capa, não sabia dos depoimentos dos amigos, nada!”, acrescentou Claudia em resposta à Arte Brasileira.

#3 – PESQUISA ÁRDUA

Foi um processo longo, de aproximadamente 4 anos. O processo naturalmente foi cuidadoso, em vista de que se tratou de muitas entrevistas, as mais duradouras com o próprio biografado. Porém, alguns eventos importantes e indispensáveis para a biografia não eram exatas na memória de Menescal.

As pesquisas na internet não garantiram muita credibilidade por motivos explícitos. Claudia, portanto, teve que recorrer ao caminho mais difícil: consultar fontes, incluindo participantes destes eventos.

#4 – OS PRIMOS

Devido a diferença de idade, eles não conviveram muito no passado. Na adolescência, Claudia passou a frequentar os shows em que Roberto participava. Os tímidos encontros no camarim excluíam as revelações do parentesco.

Tempos depois, em um show no antigo Java Club, Claudia enfim contou sobre o assunto. A partir de então, se aproximaram e ela conheceu o ser humano além do artista. “O que mais me impressionou foi que descobri um ser humano fantástico, generoso e querido por todos. Não conheço pessoas como Roberto Menescal, ele é único!”, disse ela.