Capa do lançamento (Arte de Kassio da Rocha)
Dario Julio & Os Franciscanos, na verdade, é o pseudônimo musical da carreira solo do cantor e compositor Dary Esteves Jr, homem forte e marcante que contabiliza mais de cem obras em sua discografia. Desse montante, surgiu, recentemente, outras seis, mas agrupadas em “Suíte Bipolar em Dó Maior”, EP no qual Dario vai das emoções pessoais a uma crítica social/política que extrapola os clichês e que é o rosto sem filtros do músico.
Assumidamente como “idealista passional e irrecuperável”, Dario Julio presenciou as crises de sua mãe, oriundas de um transtorno psicológico. Esse calculo errado do que se espera de uma vida feliz, alinhado ao mundo de 2021 e o Brasil atual – mas com problemas que parecem eternos.
“É um morde-e-assopra sobre a nossa realidade. Com esperança, retrato a falsa simetria que permeia o debate sobre a polarização política no Brasil. Sabemos que há extremos, mas só um é abertamente fascista e contra a democracia, embora a narrativa pró-terceira via insista em uma dissimulação”, frisou ele.
As verdades nuas do EP chegam ao público por meio do bom e velho pós-punk produzido entre o fim dos anos 80 e o começo dos anos 90. Ainda assim, contornando as brechas oportunas, as sonoridades das canções são, gentilmente, pinceladas por tons do folk, alt-country e powerpop.
FAIXA-A-FAIXA (Elaborada pelo próprio artista sob encomenda para a Arte Brasileira)
1) “Provérbios 18: 4-7”
É um mantra folk sobre liberdade com mensagem nem tão cifrada assim.
2) “Democracia Gourmet (Contém Ironia)”
A letra veio primeiro. Como fica evidente, foi inspirada na votação do afastamento de Dilma Roussef. Inicialmente, se chamaria “Declaração de Voto”. É uma espécie de guia do novo cidadão de bem. A sonoridade reafirma as minhas devoções.
3) “É Preciso Coragem”
Foi como quis tratar negacionismo e ilusão de controle com moldura de Teenage Fanclub e David Bowie. Reitera a influência do mais importante escritor curitibano, Jamil Snege (1939-2003), sobre o meu trabalho. Os versos do coro feminino no final da canção são adaptações de suas ideias.
4) “Profissão de Fé”
Resgata a música original de Allan Yokohama (Terminal Guadalupe, Yokohama Café) para uma letra que já teve duas harmonias diferentes e das quais igualmente me orgulho. Agora, de volta à melodia para a qual foi composta, marca a retomada da parceria com o Japa. Ficou bem alt-country.
5) “O Tempo Não Apaga O Que É Amor”
Talvez a canção mais bonita e pessoal da suíte, é baseada em histórias reais. Minha maior crítica aprovou, mas fãs de Bruce Springsteen também devem gostar.
6) “Alerta de Gatilho”
A vinheta de encerramento lembra as estruturas das músicas de Sérgio Britto, dos Titãs. Fecha a suíte e acena para os futuros álbuns de Esteves & Nadal e Terminal Guadalupe.
FICHA TÉCNICA
Local de gravação: Nicos’ Studio (Curitiba-PR)
Produção musical: Bruno Sguissardi (Banda Anacrônica)
Apoio vocal: Sandra Piola e Ju Liana Morais
Músicos: Ivan Rodrigues (bateria) e Tiago Martins (gaita e slide guitar)
Mixagem e masterização: Fábio Della (estúdio DellaProd, de Belo Horizonte-MG).