21 de junho de 2025

Desbrave todas as canções de “O Bebê da Pandemia”, novo EP de Ravenc

Capa do lançamento.

Há aproximadamente quatro anos, o jovem cantor e compositor Ravenc saiu do interior do Pará para viver o sonho musical na cidade de São Paulo. Nesse meio período, Lançou até o momento três EPs: “Sem Pré-Tensão”, “Palavras de um Terráqueo” e “O Bebê da Pandemia”, sendo o terceiro disponibilizado ao grande público somente no início deste mês.

Ousado, criativo e triste com os rumos que a pandemia e as gestões governamentais tomaram sobre as vidas humanas e do planeta, Ravenc encontrou, mais uma vez, a “solução” nas ondas sonoras e na poesia. Assim, nasceu este trabalho de apenas seis canções, mas todas autorais e inéditas. A gravação aconteceu de forma caseira, algo que dá um charme especial às músicas.

Caseira, no entanto, não solitária. Isso porquê Ravenc foi apoiado na prática com uma turma de amigos artistas. Os instrumentais (com exceção do violão) são dos músicos do Novos Bardos. Na faixa de encerramento, a cantora não-binária Zezza Vic empresta seus vocais em uma lírica “sinistra e ousada”, como o próprio Ravenc define.

Apesar do trampo ser baseado na catástrofe pandemia do Covid-19, Ravenc foi cuidadoso em tornar todas as canções atemporais. Os versos atípicos que detalham histórias envolventes chegam até os ouvintes por meio de uma sonoridade que, por meio da MPB, reverbera tons do bolero, jazz e o blues.

“A luta pela sobrevivência diante de uma súbita pandemia e da loucura capitalista, tudo isso inspirou as seis faixas, além das notícias assustadoras, das redes sociais cada vez mais doentias, de homens em moto, mulheres grávidas, a ignorância e a sabedoria, em meio ao medo de uma vida efêmera”, resume o cantor.

FAIXA-A-FAIXA sob encomenda para a Arte Brasileira

“Thiago saiu do Brasil”

A inspiração para esta veio dos tweets que eu com frequência via dizendo a mesma coisa: quero ir embora do Brasil. Um dia, um cantor de nome Thiago escreveu que, se pudesse, voltava para Buenos Aires e eu pensei que isso daria um ótimo verso: Thiago saiu do Brasil! Mas eu quis criar uma letra que fosse meio mórbida e divertida, então tentei trazer aquela dramaticidade que parece que só o bolero e as línguas hispânicas sabem passar – o que explica o verso que abre a faixa. Pra deixar tudo mais irônico também, brinquei com essa fusão de línguas e gêneros, colocando um quê de marcha de carnaval, já que este ano, devido à pandemia, não tivemos carnaval. O título também é ambíguo porque deixa uma dúvida: o Thiago realmente viajou ou ele de repente morreu? Fica a questão.

 “O Bebê da Pandemia”

Aqui, de novo, o título veio primeiro. Quando o mundo parou, ou precisou parar, lá em março de 2020, eu fui um dos que não parou porque eu trabalhava em um mercado. Então, eu nunca soube de fato o que foi uma quarentena. Eu continuava vendo pessoas aonde ia, via filas lotadas nos supermercados, mulheres grávidas, transporte público lotado, tudo normal. Para mim, as notícias não condiziam com a minha realidade e nem com a minha carga horária, já que continuei trabalhando por 8, 9 e até mais horas que isso todo dia. Daí, essa sensação de estar num universo paralelo, que eu cito na música. Quando finalmente eu entrei de férias, a melodia brotou. Eu quis algo que soasse como um blues, então me inspirei em Miss Celie’s Blues, de “A cor púrpura”, meu filme preferido. É uma canção para ser libertadora, para que a gente tenha coragem de viver o momento, apesar do caos ao redor, e saber se permitir e aceitar que não podemos mudar certas coisas, mas podemos esquecer dramas banais pra viver pequenas coisas boas.

 “Beijo clandestino

Essa faixa foi feita intencionalmente pra ser a mais suave do EP. Pra ela, me inspirei no álbum “Norma” da Mon Laferte, então eu também quis que soasse dramático como ele. Por isso, o espanhol errôneo de novo. Eu queria que ela ao mesmo tempo não fizesse sentido nenhum, mas falasse um pouco sobre o ser humano e seus instintos; sobre a necessidade que temos de manter contato, procurar por algo físico, e como isso, nos tempos atuais, se tornou assustador, perigoso, quase punível, clandestino mesmo. Dizem que o beijo não é natural do ser humano, mas nossos instintos são e aqui existe alguém que simplesmente beijou alguém e se sentiu errado, por mais que, no fundo, fosse certo.

“Muleke maravilhoso”

Raul Seixas é um dos cantores que cresci ouvindo e ele tem uma canção chamada Moleque Maravilhoso, que eu sempre entendi que é sobre alguém sem escrúpulos, mau, um diabo na terra; então, eu tentei converter isso como uma resposta minha a esse desgoverno atual. Nela, eu tento entender como alguém pode causar o mal por escolha própria e como pode ter pessoas que compactuam com isso. É como confrontar o mal ao se esforçar para compreender o motivo de tanta maldade consciente.

“Disk 66…”

Essa faixa à primeira vista parece um julgamento, mas minha proposta é justamente apontar erros como extensões da nossa humanidade. É complicado lidar com opiniões, ignorância e conhecimento, porque todos eles são usados como base para criticar e demonizar o outro. Daí essa vibe maquiavélica num refrão que é pra ser místico e assustador. É interessante perceber que temos uma tendência a demonizar nomes, figuras e símbolos também. Então, quando eu canto e repito no refrão esse número e palavras que foram estigmatizadas, tento confrontar esse medo de dizer tudo isso em voz alta. É como uma fusão de referências a religiões na busca por uma possível união, por algo universal.

 “Toca de novo, Aquela que fala do povo

O poema que fecha foi escrito pela Danielle Gomes. Nossa intenção era que passeasse entre a crítica atual, mas também uma reflexão atemporal; não uma observação grosseira da realidade, mas lúdica e artística. Ele conclui nos últimos segundos com sons da cidade, de ruas, trânsito, como se todas essas histórias do EP tivessem ocorrido durante o dia e a movimentação urbana, e no final todo mundo voltasse pra casa ou saísse do Brasil.

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