Hoje, especialmente hoje, a música popular brasileira vive um momento de saudosismo. O dia raiou nostálgico. O sol nasceu saudade. É comum pensarmos na vida como um intervalo solto no tempo. Um intervalo que dura uma eternidade, às vezes, mas ainda um intervalo. E hoje, especialmente hoje, vivo em nossas memórias, Tom Jobim completa 95 anos de seu intervalo eterno.
Mas não é, necessariamente, sobre um dos compositores que levou a MPB ao mundo que eu vim falar aqui hoje. Na verdade, o centro desta matéria não poderia estar mais longe. Entretanto, não posso negar que o que passa pela minha cabeça agora é uma porção, nada humilde, do carinho pela vida que nosso artista carregava em suas músicas.
Vocês vão entender. Eu tenho, atualmente, 21 anos, três meses e quatorze dias. Não lembro de momento algum da minha vida — desde quando seria capaz de me lembrar, é claro — em que a música não me fosse uma parceira sincera. Na infância, ela estava presente. Na adolescência, ela me puxou pelo braço. No início e complicado começo da vida adulta, ela me forneceu o amparo necessário. Quando a depressão quis me derrubar, tive onde descansar para continuar seguindo. Quando a ansiedade quis me tirar o fôlego, tive quem me devolvesse o ar. Para muitos, a música é só música. Para mim, é um dos motivos de seguir em frente. Para muitos, a música é um mero toque saindo de algum aparelho da modernidade. Para mim e para o amado Tom Jobim [aqui entra nosso querido artista], a música é um espaçar singelo entre as tristezas e a força necessária para sobreviver a elas, onde é impossível ser feliz sozinho (Wave, Tom Jobim, 1967 – A&M Records).
Esse é o motivo de eu estar aqui: a música é uma metáfora sincera dos sons que meu coração sinestésico ouve ao lembrar de alguém. E hoje, especialmente hoje, não comemoro só o quase centenário do Jobim, mas também os 28 anos da pessoa a quem eu me referia quando usava o termo “música” no parágrafo acima.
Franciele Bezerra de Morais, a forte mossoroense que eu conheço, é claro, a minha vida toda, ou “Ciele” para muitos e até mesmo “Teté” para o meu eu menino, minha irmã, é uma das três pessoas que eu mais amo na vida. Uma das personificações musicais que meu coração se refere ao me lembrar dos motivos de continuar lutando.
É sabido que a poesia ganha o mundo, seus significados tocam o céu com a beleza de um pássaro na mesma proporção em que a mantém apagada e humilde, como o baixo voo de Dédalo. Assim, não me aventuro em dizer o que de fato ela significa, mas não furto o pensamento ao qual ela representa para mim:
Como disse o poeta, “[…] as águas de março fechando o verão, é promessa de vida no seu coração […]” (Tom Jobim, 1972, Zen Produtora Cinematográfica e Editora Musical Ltda.)
E ao contemplar esses pequenos versos, eu não poderia esquecer de quem passou ao meu lado por todos os paus, pedras e fins de caminho, não posso esquecer de quem, ao observar os restos de toco, nunca me deixou sozinho.
Que Deus te abençoe e a Virgem Puríssima te conceda uma vida alegre, repleta de bençãos e te mantenha na disciplina da busca pela realização dos sonhos. Saiba que meu apoio você tem, minha irmã. Eu te amo. É um prazer para mim dividir meu intervalo eterno com você. Lembre que sempre poderá contar comigo, seu irmão, ainda pigmeu de família gigante.
Muito obrigado.