Ela misturou vários ritmos numa só “coisa”. Porém, o que chama a atenção é que esses ritmos foram pensados no formato música brasileira, que é uma das maiores paixões de Luíza Boê, ao transportar suas poesias em um disco com 10 faixas autorais, na qual COCOON e também e LUA NOVA se destacam, o que não quer dizer que as demais não sejam boas.
“Esse disco, em sua pluralidade de junções cósmicas, é o reflexo de um grande resgate de mim mesma, da minha essência – é o que me compõe e me faz compor. Cada música, tão singular, como tudo que é feito pelas mãos de um artesão, recebeu um olhar diferente, um cuidado, uma ontologia que refletisse sua intenção de existência”, conta Luíza.
Abaixo, você verá uma entrevista na íntegra que fizemos com Luíza Boê.
Você transita muito pela MPB e pelo Indie também. Quais foram suas influências para esse álbum?
Esse álbum foi uma grande mistura de influências da música feita no Brasil – a bossa, o samba de raiz, o choro, o brega, o manguebeat, o tropicalismo. Cresci ouvindo muita música brasileira, até hoje ouço muito mais música brasileira do que de fora, e eu gosto da mistura. Os músicos que participaram acabaram trazendo suas referências também, do rock, do jazz, do blues.
A sonoridade do disco parece ser bem complexa. Como chegou nesses ritmos?
Acho que a complexidade vem com a experimentação, com a intuição, que foi a base desse trabalho. Eu sempre tive como referência a mistura, que está no tropicalismo, no manguebeat, a antropofagia que constitui a música popular brasileira. Então isso traz muitas possibilidades de experimentação sonora, que dialogam com o indie. E os universos musicais dos músicos participantes contribuíram pra essa mistura acontecer. A guitarra está presente em quase todas as músicas e exploramos timbres e estilos diferentes. O Haroldo, guitarrista da minha banda, por exemplo, vem do jazz e foi o músico ideal para tocar PORTAS FECHADAS, que tem uma levada jazzística, mas também fez uma guitarra incrível para ENGODO, que é uma música que tem referência no brega. As músicas mais densas, como POSTAL, LUA NOVA e CIGANA pediam guitarras do Ventura, que trouxe muito do indie rock para as músicas.
Há alguma faixa que você considere como carro chefe? Pelo o que vi, parece muito que as faixas complementam umas às outras.
COCOON, música que abre o disco, é como eu me apresento, então sempre terá uma importância especial. É uma música solar, mas esse disco também traz uma densidade, ele tem luz e tem sombra, tem dia e tem noite. E LUA NOVA vem como o momento mais escuro do disco, que antecede o renascer do sol. É uma música sobre mergulhar no desejo do renovar, ao mesmo tempo em que se sente as angústias do que é conhecido. O clipe sai em breve, com uma proposta estética bem diferente de Cocoon, mas que se complementa.
Você quem compôs as 10 faixas do álbum. Como foi isso?
Eu sentia que o meu primeiro disco deveria ser 100% autoral, porque tem a ver com investigar e explorar as possibilidades das músicas que eu componho e me conhecer mais como compositora. É incrível quando uma música criada voz e violão (com solos de guitarra imaginários cantarolados) ganha arranjos de outros instrumentos e também é incrível quando uma música criada voz e violão é gravada assim porque é justamente essa a sua intenção de existência. Sinto também que lançar um disco autoral é um gesto de coragem e de amor por mim, porque tem a ver com confiar no meu poder de criação e no que eu tenho a oferecer como compositora 🙂
Tem alguma história ou curiosidade interessante que envolva o álbum?
Eu compus COCOON na véspera da gravação de voz, a música me chegou de uma vez, mas ficou faltando um verso. Na manhã seguinte, antes de ir pro estúdio, estava tentando encontrar esse verso e entrou um beija-flor pela janela do meu quarto minha casa, foi até o bebedouro na janela da cozinha e saiu pela mesma janela que entrou. Aquilo foi tão bonito, ver a capacidade daquele pássaro se orientar dentro da minha casa me inspirou a escrever o verso que faltava “eu sou um beija-flor que se norteia”.