Revista Arte Brasileira Música “Meu disco é muito Brasil”, afirmou Wado em entrevista sobre o disco PRECARIADO [ENTREVISTA]
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“Meu disco é muito Brasil”, afirmou Wado em entrevista sobre o disco PRECARIADO [ENTREVISTA]

 

PRECARIADO é o décimo álbum de Wado em 17 anos de carreira. O disco, inspirado no samba e em outros ritmos, traz sonoridades ora eletrônicas e experimentais, e por vezes, com forte dinâmica da banda. É nesse sentido, que as faixas do álbum traduzem a identidade do pop contemporânea e autentico (marca registrada de Wado).

O disco tem 11 faixas inéditas, e sucede o DVD WADO AO VIVO NO REX JAZZBAR, que celebrou sua obra como um todo. PRECARIADO surge como uma forma de afirmar o experimentalismo e a essência do pop feito por Wado.

Por ser o décimo disco ele tem ido muito bem, geralmente quem se debruça sobre ele tende a gostar bastante, o que sentimos um pouco é a dificuldade de seduzir as pessoas, no charco de milhões de coisas, pra escutar o que requer dedicar meia hora a ele. Geralmente quem o faz volta muitas vezes.

 

1. A Grama do Esgoto (com Kassin)

2. Janelas (com Peartree e Tuyo)

3. Bailar dos Barcos (com Baleia)

4. Roupa (com Morfina)

5. Tudo Salta (com Momo)

6. Girassóis

7. Correntes Comprimidas (com Morfina)

8. Força

9. Contas y Conchas

10. Quem Dera (com Figueroas)

11. Onda Permanente (com Teago Oliveira)

 

Abaixo, confira na íntegra uma entrevista que fizemos com Wado.

 

 

Para começar, de onde vem o título PRECARIADO?

O título veio dessa circunstância nossa, do proletáriado ir se precarizando. Lembro de ter ido num terreiro em São Paulo há mais de três anos, antes da crise onde estamos, e uma entidade, o Caboclo Sete Flechas, estava me alertando de períodos de recrudescência moral e cívica pela qual passaríamos, da necessidade de passarmos por estes encolhimentos de forma leve. Depois, assisti o documentário RÉQUIEM PARA UM SONHO Americano de Noam Chomski e as peças foram se juntando. Estas foram algumas intuições de por onde o disco caminharia, um retrato relativamente leve sobre isso. 

 

Você se inspirou no samba e em outros ritmos para o álbum. Gostaria que falasse um pouco mais dessas influências.

O samba é o pai e a mãe do Brasil. Nossa identidade, nosso traço pro mundo, é o barro de que somos feitos. A única coisa na MPB maior que o samba é o disco ROOTS do Sepultura, mesmo cantado em inglês, o álbum parte de matizes indígenas, acho que é o único disco de música popular brasileira massivo que pode ser considerado ancestral ao samba, pois o samba mistura África com Europa; e o Sepultura neste disco trabalha o Brasil antes da colônia: a música indígena; misturada ao metal, não por menos, uma das coisas mais conhecidas mundialmente que temos. 

Meu disco é muito Brasil, mas, mais do que conhecemos do Brasil pós colonização, tem muito samba, que é o que a África deu no Sudeste (Rio de Janeiro) e Ijexá/Axé que é o que África deu no Nordeste(Bahia). Musicalmente assim como etnologicamente massacramos os índios, minha hipótese é que essas matizes dos torés não entraram tão abrangentemente na nossa música popular além de Sepultura e Villa-Lobos. No meu disco essas tintas entram suavemente, dialogando com o que acontece com o pop do mundo em 2018.

 

Capa do álbum

 

Nesse sentido, o que é PRECARIADO musicalmente, para você?

O PRECARIADO do título é mais uma circunstância de feitura do que algo que se reflita no som, o som do disco arriscaria dizer, é até um contraponto ao título, pois se alinha tecnicamente as coisas sofisticadas contemporâneas e é tecnicamente compatível a seus pares do Brasil e do Mundo. A precariedade está nos conteúdos e não muito na estética, ao menos é assim que me bate isso.

 

Fale o mesmo para o lado poético do álbum.

O discurso é da vida diária de quem sobrevive num país em crise, com família, contas, dia a dia, a poesia corre por esse caminho onde os conteúdos tentam manter a leveza neste panorama adverso. É: “tendo de te amar com força”.

 

Como foi o processo de criação das 11 faixas inéditas?

São canções dos últimos dois anos ou mais, então, tendo esta circunstância social posta, e eu não me negando a nenhum assunto, deu nisso. Se você ouvir o disco vai ver que 2016 e 2017 estão de pano de fundo, discos são polaróides. Faço muito canção em parceria, então não foi difícil compor não. 

 

Chama a atenção o fato de você ser o próprio produtor do disco. Como foram esses momentos de produção? Como foi produzir seu próprio disco?

É prazeroso e difícil ao mesmo tempo. O prazer vem de ser responsável pelas escolhas todas, o que também acontece com as dificuldades do mesmo fato, tem gente que não aguenta acumular essas funções e desiste no meio do processo, tem horas que você se sente mesmo num mato sem cachorro… Mas quando acha a clareira do caminho, é uma alegria imensa.

 

 

 

 

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