Revista Arte Brasileira Por que resenhar esse som? Rock progressivo mineiro em 2022? Banda Apartamento Mobiliado responde com “Gioconda”
Por que resenhar esse som?

Rock progressivo mineiro em 2022? Banda Apartamento Mobiliado responde com “Gioconda”

Capa do EP

O rock progressivo é uma vertente que, dentre os leigos e semi-leigos, gera confusões em torno das suas características e grandes dificuldades em definições, o que é justificado justamente pela complexidade de elementos que o compõe. É, também, anti-comercial, principalmente em decorrência de sua complexidade musical e durações extensas das faixas.

Por essas e outras, não é muito comum no cenário nacional surgirem bandas que pensem e agem como os progressistas dos anos 1970, data que marca o auge do movimento, com Pink Floyd como “garoto propaganda”. Se levado em consideração o imaginário da música mineira, se torna ainda mais curioso quando um conjunto de rock mineiro se declara progressivamente.

É assim, em meio a um campo sem holofotes, e de poucas expectativas de goleada, que a banda mineira Apartamento Mobiliado apresenta o seu primeiro EP, “Gioconda”, antecessor do álbum de estreia, “Em Obras” (2020).

Vamos lá…

O EP é um experimento de duas faixas de mais de 11 minutos de duração. Mais do que isso, o próximo passo desta banda de Juiz de Fora, tendo o seu devido lugar na cena como uma meta a ser alcançada, sendo que “Gioconda” é uma luz que os leva na direção correta.

Sem compromissos com gravadoras ou empresários, a Apartamento é nitidamente livre em suas gravações. Tem no “levar experiências e desabafos como forma de arte” como propósito vital, ato genuíno merecedor de aplausos. Também, em referência ao pequeno espaço das novidades do rock no Brasil, acredita na força de ser o próprio criador deste cenário.

“Sempre pensamos em trazer elementos dos anos 70, mas entendendo também, que não podemos fugir de nosso cotidiano que é o século 21. Ou seja, mesclamos o que é popular e interessante na nossa visão de ambas as épocas, e moldamos nosso som em torno disso.”, pontua Yves da Mota, guitarrista solo.

Por que escutar este som?

Indie, shoegaze, hard rock, rock psicodélico, rock alternativo e a música erudita são as inspirações do EP, que forma, então, o seu mosaico progressivo. Atrelado a isso, é inevitável que a Apartamento traga a essência mineira, apesar ser algo “involuntário” e “sem pretensão de se igualar aos clássicos regionais”.

Sobre o conceito, vale dizer que a segunda faixa é a sequência da primeira, mas não somente no arranjo, que afinal não está isolado da letra. Alternada entre o inglês e o português, o EP narra as cabulosas sensações e conflitos internos de um relacionamento. Nesse quadro de um eu lírico desgastado, desesperançoso e pessimista, a harmonia e melodia são acompanhantes intensas.

A banda

Criada para servir o público de bares com som acústico, à época a banda tinha em mente ter algo próprio, um veículo singular de expressão de sentimentos, memórias, momentos e reflexões.

Várias formações surgiram, e num período curto se estabeleceram quatro integrantes: Diego Sartori (vocal/guitarra base), Yves da Mota (guitarra solo), Thiago Wurtz (teclado) e Marco Schmidt (bateria), além da participação de Lucas Barbosa (baixo) no álbum de estreia.

Como ainda se trata de um grupo de idade jovem no mercado, os próprios membros mencionam o título de progressivo como não definitivo, assim como ‘qualquer outro que possa vir a nomeá-los.

“A liberdade criativa e as diversas referências e momentos nos levam a diversas ideias e viagens, podendo ser o próximo EP de uma estética completamente diferente”, explica Diego.

O Rock progressivo

Surgiu a partir da segunda metade dos anos 1960, com The Beatles e Moody Blues como importantes percussores. No início da década seguinte, o movimento se popularizou com as bandas Pink Floyd, Yes, Genesis e o trio Emerson, Kale & Palmer. No Brasil, Casa das Máquinas, Os Mutantes e outras bandas se destacaram. Seu auge foi quebrado em 1974 com o nascimento do seu opositor, o punk rock.

Também chamado de Art Rock (por apresentar shows cênicos), o movimento é caracterizado por: misturar-se com a música clássica e outros gêneros; ir além dos conceitos básicos do rock, o elevando artisticamente; gravar com instrumentos atípicos como flauta, saxofone, violino, sintetizadores, efeitos e colagens eletrônicas, e timbres diversificados); e romper estruturas padronizadas (com longos períodos para cada faixa, trechos instrumentais estendidos e interlúdios musicais).

Por fim, vale mencionar que esta vertente do rock exigiu maior esforço do ouvinte, dos compositores e dos músicos, e foi responsável, entre outros feitos, por elevar a credibilidade do rock, conquistando fãs fieis até os dias atuais.

Confira uma playlist com algumas boas indicações:

FICHA TÉCNICA DE “GIOCONDA”

Gravação em novembro de 2021, na cidade de Juiz de Fora, no estúdio LaDoBê

Vocal, riffs de guitarra: Diego Sartori

Guitarra base-solo e baixo: Yves da Mota

Bateria: Marco Schmidt

Teclado-órgão: Thiago Wurtz

Mixagem e masterização: Bernardo Mehri.

Capa: Diego Sartori / Foto por Federico Scarionati

FONTES

  • ENTREVISTA REALIZADA COM A BANDA
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