Já é um sucesso o nosso quadro ALÉM DA BR, focado em artistas não-brasileiros. Com o ALÉM DA BR, já divulgamos mais de três mil músicas de artistas de todas as partes do mundo. Agora, apresentamos um novo lado desta lista, no qual iremos focar no processo de composição e criativo. Para isso, selecionaremos sempre cinco artistas, que irão contar com suas próprias palavras como foram estes processos de sus novas músicas. Vale dizer que o conteúdo produzido por eles tem exclusividade da Arte Brasileira, escrito sob encomenda. A sequência foi escolhida via sorteio, ou seja, não há “melhores e piores”.
Vamos nessa?
PaoliPR – “Dime Algo” – (Porto Rico)
Esta música nasceu de uma conversa comigo mesma tarde da noite — aqueles momentos em que você está preso na sua cabeça, precisando de clareza de alguém com quem você se importa, mas essa pessoa está em silêncio. Eu queria que a música capturasse essa tensão emocional: a mistura de saudade, frustração e vulnerabilidade quando você só quer que a outra pessoa “diga algo”, qualquer coisa, para quebrar o silêncio.
A inspiração veio de experiências reais de amor e desgosto, mas também do sentimento coletivo que muitas pessoas têm hoje, onde a comunicação pode falhar mesmo com tantas maneiras de se conectar. Eu queria que a letra soasse crua e direta, quase como uma mensagem de voz deixada no celular de alguém, com a produção transmitindo aquela vibe urbana e melancólica que equilibra o reggaeton com o peso emocional.
A composição foi uma mistura de sessões de freestyle e reescritas intencionais. Primeiro, criei o refrão de uma só vez, porque ele fluía naturalmente — “dime dime…” parecia carregar toda a carga emocional que eu queria. Mas depois levei um tempo refinando os versos, garantindo que cada verso se baseasse nessa tensão e refletisse a história que eu queria contar. A colaboração com meu produtor foi fundamental; trabalhamos juntos para encontrar as batidas e texturas certas que não sobrepujassem a vulnerabilidade da letra.
No geral, “DIME ALGO” se tornou mais do que apenas uma música para mim — é como uma carta aberta, uma liberação catártica de emoções que eu nem sabia que ainda guardava. Espero que os ouvintes sintam essa honestidade e se conectem com ela à sua maneira, e apreciem a voz de quem realmente quer compartilhar uma mensagem de qualquer maneira possível.
Comentário de PaoliPR
Tomás Jensen Boum – “Boum Boum (feat. Bïa)” – (Argentina / Canadá)
“Boum Boum Boum” (feat. Bïa) é o primeiro single do próximo álbum de composições originais de Tomás intitulado “À l’humain ! À la vertu!”. “Boum Boum Boum” é um dueto com a artista brasileira Bïa. Esta suave bossa nova, uma canção romântica-humorística, imagina um casal onde o samba é mais importante do que qualquer outra coisa. Mais do que o casal… porque “o ritmo do samba é natural como a água que bebemos, vem da terra e do céu ao mesmo tempo.”
Previsto para ser lançado no outono de 2025, “À l’humain ! À la vertu!” (que pode ser traduzido como “À humanidade! À virtude!”) marcará o retorno de Tomás ao primeiro plano da cena musical. “O título do álbum “À l’humain ! À la vertu!” vem da letra do segundo single “Big Bro”, que traz um pouco de otimismo com ele, algo que todos precisamos agora!” diz Tomás.
Comentário de Tomás Jensen Boum
Crispy Watkins – “In the Hills” – (EUA)
Na época em que escrevi esta música, eu estava sofrendo muito em um relacionamento tóxico. Minha vida virou um caos e eu me sentia muito deprimida. Colocar minha dor em uma música começou a me ajudar a me sentir livre e a imaginar uma saída. Usei meu conhecimento da Terapia de Sistemas Familiares Internos e minhas experiências pessoais com dor e cura para compor a música.
“As colinas da minha casa” representam o meu mundo interior — um lugar que pode parecer vasto e misterioso. Percebi que sempre posso encontrar conforto e força quando olho para dentro. A parte de mim que se sente perdida ou assustada não é a única. Às vezes, quando me encolhi no chão e chorei, senti algo mais ali me segurando.
A música explora as loucuras de buscar alguém fora de si para suprir uma necessidade interior. Também explora desejos ocultos, incluindo explorações de identidades queer e de gênero que parecem contrárias às expectativas relacionais. Por fim, a música abraça o poder e a beleza da natureza e da deusa. “A Senhora da Água” fala do conforto e do consolo que encontrei em qualquer corpo d’água e exalta minhas tendências animistas.
Esta é uma canção de esperança, de encontrar recursos e força para seguir em frente em meio a circunstâncias difíceis. É um lembrete de que existe mais em cada um de nós do que imaginamos. A cura e o crescimento são sempre possíveis.
Comentário de Crispy Watkins
A Different Thread – “Over Again” – (EUA)
Escrever e compor esta música foi como um renascimento. Tínhamos acabado de chegar aos Estados Unidos para começar um novo capítulo em nossas vidas juntos, e houve um eclipse solar total no dia em que pousamos. Eu tinha parado de beber recentemente, ajustado minha postura — tanto física quanto emocionalmente — e abraçado um novo começo. A música se tornou um reflexo daquele momento de transformação.
A música foi inspirada na ideia de nos libertarmos de padrões e ciclos negativos. Quando nos mudamos para os Estados Unidos, as cigarras estavam emergindo do solo após dezessete anos de dormência. Coincidentemente, já fazia sete anos que formamos o A Different Thread, e sentimos uma profunda conexão com esses insetos magníficos e sua metamorfose. O eclipse solar de 2024, nossa jornada rumo à cura do trauma intergeracional e nossa esperança de construir um futuro mais brilhante moldaram o espírito desta faixa.
Compusemos esta música perto do final do processo de gravação do nosso álbum, com pouco tempo disponível. Os acordes surgiram quase por acidente, enquanto testávamos microfones no nosso pequeno estúdio em casa. A letra do refrão surgiu como um sonho, e rapidamente juntamos os versos antes de gravar os vocais. Foi um turbilhão, mas a música carrega uma mensagem clara: continue em frente nos momentos difíceis — um passo de cada vez — mesmo quando o caminho não for fácil.
Comentário em conjunto pelo duo A Different Thread
Joey Calderaio – “Birds of a Feather” – (EUA)
Recentemente, gravei um cover de estúdio de “Birds of a Feather”, de Billie Eilish, reimaginando-o sob uma perspectiva reggae-rock com toques sutis de pop e dub reggae. A base da faixa foi criada no meu estúdio em casa, onde pude explorar o arranjo livremente e capturar uma energia crua e honesta que combinava com o tom da música. Após a gravação inicial, enviei as sessões para EN Young — um dos principais nomes do reggae moderno — para mixagem e masterização. Sua expertise ajudou a moldar o som final, realçando o calor dos graves e dando espaço para as texturas do dub respirarem sem sobrepujar a emoção dos vocais.
O que me atraiu nessa música foi sua vulnerabilidade e profundidade lírica. “Birds of a Feather” é sobre devoção, conexão e o tipo de amor que perdura apesar de tudo — ideias que ressoaram profundamente em mim. Fui inspirado a trazer esses sentimentos para um mundo sonoro diferente, enraizado nos ritmos descontraídos e nas texturas comoventes do reggae. O reggae sempre teve essa maneira única de expressar alegria e introspecção ao mesmo tempo, e eu queria ver como esse sentimento se misturaria com a beleza assombrosa da música original de Billie.
O processo criativo foi muito orgânico. Comecei construindo o groove — bateria sólida e baixo quente — para criar uma base que parecesse firme e estável. A partir daí, adicionei camadas de guitarra skanks, delays no estilo dub e texturas ambientais para dar à faixa aquela vibe espaçosa e inspirada na ilha. Vocalmente, tentei me manter fiel à emoção da música original, adicionando meu próprio sentimento e fraseado. Foi um desafio divertido e gratificante reinterpretar uma música tão conhecida de uma forma que parecesse autêntica tanto ao material de origem quanto ao meu próprio estilo.
Comentário de Joey Calderaio