Revista Arte Brasileira Além da BR Playlist “Além da BR” #254 – Sons do mundo que chegam até nós
Além da BR

Playlist “Além da BR” #254 – Sons do mundo que chegam até nós

Somos uma revista de arte nacional, sim! No entanto, em respeito à inúmeras e valiosas sugestões que recebemos de artistas de diversas partes do mundo, criamos uma playlist chamada “Além da BR”. Como uma forma de estende-la, nasceu essa publicação no site, que agora chega a sua 254ª edição. Neste espaço, iremos abordar alguns dos lançamentos mais interessantes que nos são apresentados.

Até o primeiro semestre de 2024 publicávamos também no formato de texto corrido, produzido pela redação da Arte Brasileira. Contudo, decidimos publicar apenas no formato minientrevista, em resposta aos pedidos de parte significativa dos nossos leitores.

Stefan Meylaers“Colors Of The Amazon” – (Bélgica)

Colors Of The Amazon

De uma maneira geral, apresente a música!

Algum tempo depois de apresentar “Amazonas”, uma composição para piano e orquestra, no belo Teatro Amazonas em Manaus, voltei para visitar os povos indígenas da floresta amazônica brasileira, onde tive a oportunidade excepcional de fazer uma gravação de uma canção tradicional. Em “Colors Of The Amazon”, uso essa canção em sua forma original e sem filtros como uma estrutura. O resultado é uma composição que me permitiu explorar um mundo sonoro fascinante onde a world music e a tradição orquestral se abraçam.

Resposta de Stefan Meylaers

KOMRADIN“Mandira” – (Israel)

Quem compôs a música, qual é seu significado para a música regional e por que ela é atemporal?

Mandira (também conhecida como “Mandira Hijaz”) é uma peça tradicional otomana composta pelo sultão Abd al-Aziz. Ela ocupa um lugar especial no repertório da música clássica do Oriente Médio, exibindo a elegância e a complexidade das composições otomanas. Sua atemporalidade decorre de sua capacidade de transcender eras, cativando o público com sua elegância e servindo como um testamento à riqueza da herança musical otomana.

Como trio, que elementos novos e especiais vocês trouxeram para essa música?

O trio aborda “Mandira” com um respeito único pela tradição e interpretação inovadora. O arranjo mostra uma interação entre o oud, o saxofone e a percussão, entrelaçando a linguagem improvisada do jazz com as ricas texturas da música clássica árabe. O resultado é uma perspectiva nova e dinâmica sobre esta peça histórica, onde cada instrumento contribui com uma nova camada de significado para a música.

“Mandira” é uma das faixas do seu álbum. Conte-nos sobre esse novo trabalho como um todo.

O álbum de estreia do trio único e emocionante KOMRADIN, Qamar al- Din, apresenta interpretações instrumentais de composições do gênero vocal árabe clássico Muwashah.

Este gênero, enraizado na poesia árabe clássica, é conhecido por suas melodias intrincadas e ciclos rítmicos complexos. O álbum abre com um prelúdio tradicional (Dulab), inspirado pelo Wasla sírio e egípcio do século XIX. Ao longo do álbum, Abed Natour fornece três leituras dos textos originais de Muwashahat, preservando a essência dessas obras tradicionalmente vocais.

Além das peças clássicas, o álbum inclui duas adaptações de renomadas composições de jazz, incorporando elementos da música clássica árabe, como Taqsim Mauwzon.

Há algo curioso sobre este lançamento que você gostaria de destacar?

A criação de Qamar al-Din foi uma jornada intensamente colaborativa para nós. Muitos dos arranjos ganharam vida naturalmente durante os ensaios, onde pudemos realmente nos conectar e deixar a música evoluir no momento. Esse processo nos permitiu canalizar a energia vibrante e a espontaneidade não filtrada de uma apresentação ao vivo. Trazer padrões de jazz para a mistura e reinterpretá-los através das lentes da música árabe clássica pareceu uma extensão natural de quem somos como músicos, unindo nossas raízes e influências de uma forma que parece surpreendente e profundamente pessoal.

Por fim, quem é o trio israelense KOMRADIN ?

KOMRADIN é especialista em tocar música árabe clássica antiga. Por meio de uma pesquisa profunda, a banda traz um toque moderno à música, misturando-a com a estética do jazz contemporâneo e adicionando novas camadas de significado. O repertório inclui obras de Sheikh Sayed Darwish, Sultan Abdel Aziz, Muhammad Othman, Omar al-Batsh e outros, com foco em peças intrincadas da tradição egípcia e síria Muwashah do século XIX. A mistura estilística única do conjunto, a instrumentação não convencional e a performance virtuosa criam um som cativante e sem precedentes.

Os membros se conheceram quando adolescentes no Conservatório de Música de Israel (Shtricker) durante seus estudos de jazz e desenvolveram uma forte amizade. Eles fundaram a banda durante a pandemia de COVID-19 após um show gravado em casa, que pareceu uma descoberta inovadora. Com o tempo, a visão artística do conjunto evoluiu por meio de apresentações em clubes de Tel Aviv e jam sessions regulares na casa de Onn. A banda se apresentou extensivamente nos principais festivais e locais de Israel, incluindo o Tel Aviv Jazz Festival, Highbreed Jazz Festival, Tmuna Theater, SohoHouse TLV, Beit Haamudim e Jazz Kissa.

Respostas de Asaf, da banda KOMRADIN

Haga187 “A Clockwork For Breakfast” – (França)

O que é, em linhas gerais, este single?

A Clockwork for Breakfast é uma música sobre o caos diário e a perda de controle em um mundo onde hábitos e rotinas acabam nos consumindo.
É uma reflexão sobre acordar todas as manhãs preso num ciclo mecânico: trabalhar, consumir, repetir. O próprio título evoca uma rotina absurda, quase distópica, de ter “um mecanismo para o café da manhã”, uma homenagem às sociedades modernas onde os humanos se tornam engrenagens de uma grande máquina impessoal.

A música é profundamente inspirada na ideia de que em nossa busca por produtividade e conformidade, perdemos nossa humanidade, nossos sonhos e nossa espontaneidade.

O que diz a letra e qual sua mensagem?

A letra de A Clockwork for Breakfast é deliberadamente enigmática e repetitiva, refletindo a monotonia de uma sociedade em loop. Falam de
frustração face a um sistema que esmaga os indivíduos, mas também de desejo de fuga e rebelião.

O refrão, com seu ritmo hipnótico e quase mecânico, reflete a alienação de pessoas que, todos os dias, repetem os mesmos gestos, prisioneiras de uma máquina social. A mensagem é simples: devemos sair deste ciclo, romper com as expectativas impostas, encontrar uma forma de liberdade interior

Trace uma conexão entre esta música e a música e a cultura mundial.

A música reflete um sentimento universal de opressão e cansaço da sociedade moderna. Vivemos numa época em que os indivíduos estão
constantemente sob pressão para terem sucesso, produzirem e se enquadrarem num sistema que deixa pouco espaço para introspecção ou
criatividade livre.

Culturalmente, o título também se refere a uma época em que as crises sociais, económicas e de identidade se multiplicam. Vivemos um período
de esgotamento coletivo, onde as pessoas buscam sentido para sua existência. A Clockwork for Breakfast levanta uma questão essencial:
ainda estamos no controle de nossas vidas ou somos apenas engrenagens de uma máquina que está além de nós?

Há algo de curioso que você queira destacar sobre o lançamento?

Este é o single homônimo do álbum “A Clockwork fornBreakfast” que será lançado em 13 de janeiro na Apple Music, Spotify, Deezer,Amazon
Music.

Apresente-se aos leitores do Além da BR e diga em que este lançamento
contribui para a sua carreira.

Eu sou Peter Dos Santos, o artista por trás do projeto Haga187. É uma banda de um homem só que mistura influências punk, pós-punk e garagem
com uma abordagem minimalista e DIY. Meu objetivo é capturar emoções cruas e autênticas através de uma música despojada, mas carregada de
energia.

O single A Clockwork for Breakfast é a pedra angular do meu projeto musical. Representa tudo o que tento transmitir: uma crítica às normas sociais, um apelo à rebelião interior e uma exploração da condição humana através de melodias simples, mas impactantes.

Respostas de Peter Dos Santos, de Haga187

Gabriel Ganiarov“Je définis sa géométrie” – (Venezuela)

Qual a melhor descrição do lançamento?

Sou um ser apaixonado desde sempre, escrever e compor é para mim uma fuga do mundo em que tive que viver. A música Je définis sa géométrie nasceu como uma canção para um amor ideal e é a descrição do que um homem sente ao tentar transmitir o que uma mulher o faz sentir.

Minha poesia está centrada nesse eixo, amor, decepção, nostalgia e esquecimento, em como isso nos afeta e tento ser fiel ao que sentimos quando amamos.

Qual foi a origem da música?

Uma experiência pessoal. Quando amamos, nem sempre recebemos a mesma qualidade de amor que damos. Por isso, a música é um esforço para definir essa paixão que, às vezes, é impossível de definir com palavras, com pincéis, com fotografias. Em muitas de minhas músicas, é quase como uma obsessão, tentando definir um rosto e o sentimento que ele provoca em nós.

O que você canta nas letras e qual é a mensagem?

A mensagem da música tenta definir uma mulher incrivelmente bela, com linhas que fogem a qualquer descrição e os esforços do amante para capturar essa beleza que ele carrega dentro de si, que o faz amar essa mulher como se fosse impossível

A música descreve a nostalgia desse amor e seu desespero por ser um encontro distante.

Musicalmente, como você o descreveria?

Musicalmente, meu estilo é eclético, depende da atmosfera do poema, assim como o ritmo, a harmonia e o desenvolvimento do tema.
Nesse caso específico, o sentimento agridoce do poema me levou a desenvolvê-lo como um jazz cigano, uma mistura de amor, alegria e dor.
Em meu perfil do Sound Cloud, há cerca de 30 temas que desenvolvem vários temas, com ênfase no tema do amor.

Por fim, como essa música se relaciona com a cultura e a música venezuelanas?

O amor é universal. Ele não se concentra em uma nacionalidade ou em um folclore específico. Em minha discografia, há músicas em inglês, francês, espanhol, italiano e português. Em vários estilos e ritmos

Sempre dependerá da atmosfera do poema, pois antes de ser músico, sou poeta.

A propósito, faço parte de uma antologia de poesia em português, O Perfume da Palavra, publicada pela Muiraquitá, Niterói.

E, finalmente, como expatriado de minha terra natal, considero-me um cidadão do mundo. É por isso que escrevo em vários idiomas e sempre, sempre, enfatizando o amor como um veículo para consertar nossa humanidade e protestar contra a injustiça onde quer que ela seja praticada. Por fim, como essa música se relaciona com a cultura e a música venezuelanas?O amor é universal. Ele não se concentra em uma nacionalidade ou em um folclore específico. Em minha discografia, há músicas em inglês, francês, espanhol, italiano e português. Em vários estilos e ritmos sempre dependerá da atmosfera do poema, pois antes de ser músico, sou poeta.A propósito, faço parte de uma antologia de poesia em português, O Perfume da Palavra, publicada pela Muiraquitá, Niterói. E, finalmente, como expatriado de minha terra natal, considero-me um cidadão do mundo. É por isso que escrevo em vários idiomas e sempre, sempre, enfatizando o amor como um veículo para consertar nossa humanidade e protestar contra a injustiça onde quer que ela seja praticada.

Respostas de Gabriel Ganiarov

Sonia Johnson“O Amor Em Paz” – (Canadá)

Qual é a melhor visão geral deste lançamento?

A cantora de jazz Sonia Johnson é uma artista canadense vencedora do Juno. Com o lançamento de algumas músicas remasterizadas, como esta versão intimista em trio de ‘O Amor Em Paz’, ela celebra a reedição de 20 anos de seu álbum 4 estrelas Don’t Explain, lançado inicialmente em 2005. 

Qual é a origem da música?

Podemos ouvir nos vocais de Sonia , as tristezas de um amor desfeito e também a esperança de novos, expressa nas letras incríveis de Vinícius de Moraes e na música de Antonio Carlos Jobim. 

Musicalmente, quais ritmos dão cor a essa música?

A escolha dessa música há 20 anos foi uma forma da artista demonstrar seu amor pelo estilo bossa nova, apreço que ela continuou a compartilhar ao longo de sua carreira em suas próprias composições ou em colaborações com artistas brasileiros como Rodrigo Simões.  

Respostas de Sonia Johnson

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