Adalberto morria de medo do mar, ou melhor, mantinha-se distante do mar exatamente pra não morrer. Se há quem não nasceu pra surfista, Adalberto não havia nascido nem pra catar conchas na areia da praia.
Pra ele aquelas ondas indo e vindo, indo e vindo, indo e vindo na inspiravam a mínima confiança. Ainda mais pra um sujeito como ele, que ficava péssimo de sunga e, pior, nadava tanto quanto uma bigorna.
Ele preferia ficar em São Paulo, curtindo os feriados ali mesmo no Grajaú, onde não havia aquela água salgada horrível e o constante risco de se afogar. Os outros que enfrentassem sozinhos os tubarões.
– Oceano, pra mim, só na televisão – Adalberto dizia. – Prefiro ficar aqui, com a casa só pra mim, tomando minha cervejinha.
Toda a família havia viajado pro litoral e Adalberto combinou com uns amigos – também desapegados à praia – uma festinha particular. Às dez horas eles chegariam, acompanhados de algumas garotas devidamente contratadas.
Como o Sol começava a cair, Adalberto bebeu a saideira e foi pra casa. Tomaria um longo banho e relaxaria até que chegasse a hora do “vamos ver”.
Entrou no banheiro tropeçando nas próprias pernas e cantarolando um pagode. Ligou a torneira e deixou a banheira encher. Foi até a cozinha e pegou mais uma cerveja na geladeira, para tomar enquanto se refrescava na segurança de seu banheiro. Entrou na água com a garrafa de cerveja na mão e emergiu confortavelmente até o peito. Ficou ali, pensando nas safadezas de logo mais e tomando cerveja pelo gargalo.
A cerveja na cabeça foi dando sono e Adalberto acabou adormecendo na banheira cheia. Deslizou, deslizou e afundou. Acordou assustado, pensando estar no meio de um pesadelo marítimo. Ao tentar levantar-se, escorregou e caiu, batendo a cabeça na borda.
Afundou de novo e morreu afogado ali na banheira, onde não tinha tubarão, mas também não tinha salva-vidas.
Escrito por Gil Silva Freires em 19/02/1996