(Divulgação)
A faixa que abre o EP, “Weimaraner” é totalmente instrumental. De onde veio essa inspiração? Quem compôs essa faixa, e como foi produzi-la?
João: A música nasceu de um riff de baixo, trazido pelo Bernardo. É um jogo contínuo entre notas de dois acordes. Intuitivamente, a ideia foi simplesmente cobrir este loop, com a guitarra entrando suavemente nas primeiras repetições, levantando um pouco a dinâmica, até a bateria entrar com o ritmo. Pensávamos muito nessa música com letra. Porém, o resultado dela nos agradou, mesmo sem a voz. Ela conta até mesmo com uma estrutura “padrão”, com intro, verso, refrão, e ponte.
No processo de produção, a prioridade era preencher o espaço sonoro com a pressão na levada de bateria e evidenciar a pulsação do baixo, formando assim, um “motor” musical. A guitarra tem função complementar, variando de papel conforme o trecho – hora fazendo base harmônica, hora fazendo pontas melódicas, trabalhando em função deste motor.
Em “Nímbica”, “Cerração” e “Segunda-feira, 6h47 (Sereno)” vocês vão longe na questão poética…
Bernardo: Falando sobre as letras, eu gosto de explorar as paisagens sonoras criadas nos encontro das palavras. Para as músicas do novo EP, estas paisagens evocam situações passadas variando entre a tristeza ou a saudade.
Em “Nímbica”, através da imagem de nuvens no céu misturadas com a fumaça de um cigarro, abordamos a dificuldade de amadurecer e adotar uma visão mais cética e determinista do mundo. Em “Cerração”, por outro lado, num ritmo de corrida afoita, falamos sobre a angústia da ansiedade; o desespero de sentir-se preso em si mesmo.
“Colibri” já é uma música mais calma, com uma “aura ” mais tranquila.
João: A função de “Colibri” no álbum é como se fosse um “descanso”, uma música que reduz a dinâmica que até então vinha se agitando no álbum. O clima é um pouco mais contemplativo, com uma letra menos carregada, num beat um pouco mais arrastado, com bastante ambiência.
Qual o conceito do nome do álbum e das músicas?
Bernardo: É difícil de falar sobre um “conceito” para o EP, uma vez que ele está mais próximo de ser um retrato de um momento específico pelo qual eu, o João e o Leo estávamos passando tanto pessoalmente quanto como banda. É um compilado de músicas que surgiram durante este tempo e fizeram sentido estarem reunidas.
O nome veio um tempo depois com o processo de composição das letras, que foram criadas sem muita pretensão também. Tínhamos em mãos letras que variavam de machucados antigos a gostosos saudosismos. O passado parecia ser o que reunia tudo isso.
Como foi para vocês criarem músicas tão diferenciadas?
João: As músicas ficaram diferentes pois, no processo, não nos preocupamos tanto com a forma que elas iriam tomar. Algumas das músicas nasceram enquanto terminávamos a pós produção do nosso outro EP, “Monotonia”. O ponto era compor despretensiosamente canções que nos surgiam a partir de uma ideia, ou de um riff – diferente do processo longo e minucioso que foi o “Monotonia”.
Qual a mensagem que vocês pretendem passar com o EP?
Acredite nos seus sonhos, não use drogas.
Vocês têm alguma história ou curiosidade interessante que queiram nos contar?
Bernardo: A música “Weimaraner” tem esse nome por uma lembrança antiga da minha infância. No jardim de uma casa em frente ao apartamento da minha vó vivia um cachorro da raça Weimaraner. Eu nunca vi movimento algum naquela casa, parecia que a única coisa existente naquela casa era o cão triste e desanimado que não tinha forças nem para levantar.
Voltando a essa história hoje em dia, penso se todos nós não temos um Weimaraner em nossa cabeça. Um sentimento puro que jogamos para escanteio e negligenciamos em meio à correria da vida adulta. Talvez “Pesares Passados, Euforia”, fale sobre isso: dar a devida atenção à essa parte entristecida dentro de nós.
Fiquem à vontade para falarem algo que eu não perguntei e que vocês gostariam de ter dito.
João: A parte instrumental foi gravada ao vivo, no antigo estúdio Mameloki (agora Estúdio Fiaca). A voz foi gravada posteriormente.