(Foto/Divulgação)
Há muita poesia em “Restinga”, segundo álbum de Robson Cavalcante. Inspirado pelas paisagens do estado de Alagoas onde nasceu e cresceu, o músico resgata a tradição da MPB e da bossa nova e compõe sobre a perspectiva e as referências estéticas do jovem brasileiro em 2019.
Com produção de Fellipe Pereira, o disco passeia por faixas inéditas que mostram a musicalidade romântica de Robson, com o cenário urbano da Maceió contemporânea de um lado e o legado atemporal da música brasileira em paralelo. Assim como a restinga é a faixa de areia que une a laguna e o mar, o álbum soma os diferentes aspectos que compõem a estética do cantor e compositor.
“Restinga” é um novo ciclo para Robson, que se aventura agora por cenários e poesias mais grandiosas que em seu trabalho de estreia, “Lar do Viajante” (2017). Como ele explica, a água calma da laguna encontra seu momento mais bonito na restinga quando sai de seu comodismo para desaguar no agito do oceano.
Robson Cavalcante ficou conhecido no cenário independente de Maceió como tecladista da banda Milkshakes. Eu seu projeto solo, sua personalidade romântica e afetuosa em relação à vida e ao país fala mais alto.
“Restinga” chega com a já lançada “Barulho Bom” no repertório sob novo arranjo. A arte da capa traz uma obra da artista também alagoana Sophia Larangeiras.
De onda vem toda essa poesia presente em “Restinga”?
Restinga inclui-se num contexto urbano/litorâneo onde é preciso mais que antes, mais tempo e mais força. A poesia vem dos amores vividos e das paisagens introjetadas, sejam elas fictícias ou paisagens naturais (no caso de minha cidade, banhada por águas). São elas quem acalmam, as águas. Da restinga se avista o ponto mais bonito, quando saem do comodismo e se aventuram na imensidão, sem saber onde chegarão, mas com a certeza que é preciso avolumar as águas agitadas.
E essa emoção, marca tão forte de “Restinga”? Podemos dizer que é uma entrega musical e “espiritual” sua?
O álbum é fruto de experiências pessoais, mas a liberdade criativa nos permite ir além, transformando o nosso universo em algo maior. O cenário poético e a abordagem estética do disco refletem bem a minha fase atual, com apego aos trabalhos já feitos mas com o cabeça voltada pra necessidade de movimento, com mais guitarras e synths, fazendo um paralelo com o contexto político atual através da mudança estética.
Que nome você daria para o álbum musicalmente falando? Vejo várias influências, mas ao mesmo tempo, uma unidade.
Eu gosto do termo Nova MPB, porque mantém a abrangência de ritmos da MPB clássica e acrescenta o elemento temporal.
Este trabalho é inspirado pelas paisagens do estado de Alagoas. Nesse sentido, o que vem a ser o nome do álbum? O que ele significa?
A Restinga é faixa de terra que divide a água doce das lagunas com a água salgada do mar, na minha visão é um ponto de encontro entre duas ideias, sempre com o curso voltado a levar as águas calmas pra dentro das agitadas.
Não dá para não se sentir calmo com as músicas de “Restinga”. “Saudade” é uma boa demonstração disso, pra quem quer começar a se aventurar no álbum…
Sempre fiz música com a intenção de transportar quem ouve pra um ambiente agradável. Onde o ouvinte estiver, seja numa apresentação minha, seja no trânsito, no trabalho, em viagem, a intenção é fazê-lo se sentir em casa.
Como foi para você e para o álbum como todo, ter a participação das cantoras Lorena Firmino e Júlya Passos?
Desde o princípio eu resolvi produzir esse álbum envolvendo pessoas próximas, com quem eu gosto de estar. Com relação a “Calor” e “Pseudoamor”, sentia que faltava algo às músicas. Então, as vozes das meninas trouxeram a singeleza e sinceridade que eu procurava. Júlya é minha irmã e Lorena é uma grande amiga, então voltamos mais uma vez ao movimento de estar em casa.
Você tem alguma(s) história(s) ou curiosidade(s) para nos contar?
No meu primeiro álbum (“Lar do Viajante”, 2017), eu utilizei os profissionais mais renomados do estado, participou até músico que toca com Djavan. Em “Restinga” preferi envolver os amigos e parceiros do dia-a-dia, num total de 12 pessoas na produção e fiquei impressionado como o disco ficou muito mais com o meu perfil, soou como as coisas que eu gosto de ouvir e sinto uma vibração diferente em torno das novas músicas.
Fique à vontade para falar algo que eu não perguntei e que você gostaria de ter dito.
Agradeço demais à produção da Revista Arte Brasileira e me coloco à disposição pro que precisarem.