3 de dezembro de 2023
A Metafísica Poética na Arte Brasileira

Conto “Disfunção erétil gramatical”, de Brendow H. Godoi

Jorge, vi tua mulher num site de puta. Eu tava de bobeira dando uma olhada nas meninas. De repente vi a Luana num anúncio, com os peitos pra fora. Anal, chuva dourada, inversão de papéis e garganta profunda. Cento e vinte pratas. Ela nem fez questão de esconder a cara. Tava de aliança e tudo. Sinto muito, irmão. Eu lamento.

Porra, Jorge. Claro que não comi a Luana, pô! Eu e você somos amigos de infância. E também, ela não sabe conjugar verbo. Tava escrito “tu haveis de gozar gostosinho”. O certo é HÁS, Jorge. HÁS! Cê sabe que meu pau não sobe pra mulher que escreve errado. Tenho disfunção erétil gramatical.

Meu amigo abaixou a cabeça. Decepcionado, destruído. Corno. Discou pra mulher e botou no viva-voz:

— Alô, Luana. Meu amor, me faz uma gentileza? Conjugue o verbo haver, por favor.

Ela gaguejou e meteu um “eu havíamos”.

Jorge desligou e me acenou com a cabeça, meio envergonhado. Atravessou a rua e foi. Eu desejei ser o verme da terra que lambeu a última gota de literatura dos dedos de Clarice Lispector.