Jorge, vi tua mulher num site de puta. Eu tava de bobeira dando uma olhada nas meninas. De repente vi a Luana num anúncio, com os peitos pra fora. Anal, chuva dourada, inversão de papéis e garganta profunda. Cento e vinte pratas. Ela nem fez questão de esconder a cara. Tava de aliança e tudo. Sinto muito, irmão. Eu lamento.
Porra, Jorge. Claro que não comi a Luana, pô! Eu e você somos amigos de infância. E também, ela não sabe conjugar verbo. Tava escrito “tu haveis de gozar gostosinho”. O certo é HÁS, Jorge. HÁS! Cê sabe que meu pau não sobe pra mulher que escreve errado. Tenho disfunção erétil gramatical.
Meu amigo abaixou a cabeça. Decepcionado, destruído. Corno. Discou pra mulher e botou no viva-voz:
— Alô, Luana. Meu amor, me faz uma gentileza? Conjugue o verbo haver, por favor.
Ela gaguejou e meteu um “eu havíamos”.
Jorge desligou e me acenou com a cabeça, meio envergonhado. Atravessou a rua e foi. Eu desejei ser o verme da terra que lambeu a última gota de literatura dos dedos de Clarice Lispector.