14 de dezembro de 2024
A Metafísica Poética na Arte Brasileira

“Parem as Máquinas!” – poema de Deyvid W. Barreto Rosa

Epígrafe:

“Sim, meu coração é muito pequeno.

Só agora vejo que nele não cabem os homens.”

Drummond, Mundo Grande, em Sentimento do Mundo (1940)[1]


[1] Ouça o próprio Drummond declamando este poema

Diminuí o prazo do infinito.[1]

Acelerei os batimentos cardíacos.

Aumentei a velocidade do giro das engrenagens.

A intensidade, a densidade,

os mil novos cabelos brancos nascidos,

os mil pensamentos em um nanossegundo.

Os dentes se apertaram,

o corpo pediu colo,

mas a coluna se descomprimiu.

A dor aliviada,

o acordo cumprido,

a certeza de que não menti.

Caminho, de bengala,

um pouco tonto.

Mas caminho.

Vou desvirar o que estava do avesso.

Nem tudo está escrito no livro aberto,

nem todos poderão lê-lo.

Atenção,

todos os compromissos da agenda foram suspensos.

Voltei para mim.[2]

Me ofereceram um cálice,

bebi tudo de um gole só.

Se me oferecerem outro,

é provável que não hesitarei em bebê-lo.

Ao final, o gosto pode ser amargo,

a cabeça pode doer, também o peito.

Mas eu vou me recuperar.

Meu fígado é forte.[3]

Agora me lembro onde estava e o que buscava.

Vou me lembrar o porquê.

E vou te dizer o que mudou.

De: Deyvid W. Barreto Rosa


[1] Ouça “Tem dias”, da Banda Tuyo

[2] Ouça “Voltei pra mim”, de Marina Sena

[3] Ouça “O que eu bebi”, de Clarice Falcão