Somos uma revista de arte nacional, sim! No entanto, em respeito à inúmeras e valiosas sugestões que recebemos de artistas de diversas partes do mundo, criamos uma playlist chamada “Além da BR”.
Como uma forma de estende-la, nasceu essa publicação no site, que agora chega a sua 189ª edição. Neste espaço, iremos abordar alguns dos lançamentos mais interessantes da playlist.
Colectivo Zafra – “Será Que Yo” – (Espanha)
Escreva a melhor sinopse dessa música.
“Será que Yo” é uma canção de amor ou desgosto que fala sobre como é difícil, às vezes, entender as motivações por trás de certas decisões tomadas por uma pessoa que você ama e acredita que te ama. É um poema escrito por mim Charly Drop, e eu diria também que é uma reflexão sobre o amor e a perda, onde uso metáforas matemáticas para expressar a confusão e a dor do falante.
Musicalmente, como você descreveria isso?
Musicalmente, é uma composição que pode ser definida dentro do estilo Latin-Jazz. Começa com uma introdução aos metais que tenta levar o
ouvinte para a atmosfera de tristeza e resignação que o texto da música descreve mais tarde. Em uma sucessão de acordes que caem cromaticamente, a melodia das duas estrofes da música se desenvolve. Então, após o refrão, há um desenvolvimento dos metais para alguns
compassos que podem ser considerados dentro do estilo Bebop, mas com um sotaque de música latina, no estilo de bandas como Irakere. Para
finalizar, ele repete o refrão incorporando a clássica estrutura coro-resposta do cantor, amplamente utilizada na música cubana.
Qual a mensagem da música?
A mensagem que tento transmitir, por exemplo, quando uso metáforas matemáticas, como “A Equação Avançada” e “Não Entendo a Aritmética do Coração”, é expressar a incapacidade que às vezes temos de decifrar os sentimentos e o interesse amoroso da outra parte. Isso sugere que o amor, pelo qual fala, é um enigma que não pode ser resolvido por meio da lógica ou da razão. O texto está cheio de metáforas e imagens que representam a luta do orador para entender o amor. Por exemplo, “É intenso frio e quente” sugere a natureza contraditória do amor, enquanto “Quando você sabe de antemão que aquele trem passou” representa uma oportunidade perdida.
Que referências à world music e ao espanhol temos nesta música?
Como compositor, fui imbuído da influência de muitos artistas. De Silvio Rodríguez e Pablo Milanés, passando pelos grandes nomes do tropicalismo
brasileiro ou da canção brasileira como Caetano Veloso e Gilberto Gil ou mais recentemente Lenine. Em nosso repertório, prevalece o Jazz, um
retorno às origens do Bebop, a mistura com ritmos latinos e uma homenagem à música do Brasil com a versão gravada no álbum de “Tempo
de Amor” de Baden Powell.
Afinal, quem é o Coletivo Zafra?
O Colectivo Zafra é um grupo que nasceu no início de 2018, maioritariamente constituído por músicos formados pelo Conservatório
Superior de Música de A Coruña no Roteiro de Performance de Jazz, com o objetivo de materializar as preocupações artísticas dos músicos que
atualmente compõem a formação. Isto traduz-se na criação de um repertório original que abrange diferentes estilos de Jazz e música popular
e na interpretação de obras de referência do repertório de jazz e em geral da música popular atual. O grupo reside em A Coruña, onde já se apresentou em locais emblemáticos da cidade, como o Filloa Jazz Club, o Garufa Club e o Auditório Andrés Gaos no Conservatório Superior de Música de A Coruña e no Festival de Jazz de Burgo que se realiza todos os anos em A Coruña. A formação é baseada em um trio de Jazz que serve de suporte para o duo de instrumentos solo formado por saxofone e trombone tenor e a voz de um cantor.
Respostas de Charly Drop, contrabaixista e compositor do grupo Colectivo Zafra
Laure Trazzi – “Viens sentir le vent” – (França)
Escreva a melhor sinopse desta música :
Depois de um primeiro single mais pop-rock, saído em março, Laure Trazzi revela a sua influência latina nesta nova música fresca e cativante “Viens sentir le vent”. Esta música composta pela cantora durante o período de confinamento, conta com poesia a estranha sensação de vazio sentida nas ruas de Paris, e nos convida a transcendê-la para celebrar a vida. Entre alegria e melancolia, essa bossa-nova se mistura com um ritmo cabo-verdiano, nos levando para a dança, numa atmosfera de leveza. Uma composição que releva o amor da cantora para a música brasileira, que lhe deu muita inspiração. Os arranjos resultam de uma colaboração harmoniosa entre ela e os músicos que lhe acompanham, e que se destacam no meio jazz-brasileiro na França : Acelino de Paula (arranjo e mix), Toninho do Carmo (violão e cavaquinho), Frédéric Sicart (bateria), Christophe Gauthier (flauta).
O que a letra diz?
Eu compus essa música em 2021, então era no período de pandemia ainda. Nos versos descrevo o ambiente nas ruas de Paris durante o período de confinamento, ou de recolher obrigatório. Essa impressão estranha de vazio, de cidade fantasma, e o estresse das pessoas que deviam voltar para casa logo. Mas no entanto, eu falo da proximidade que nos encontramos neste período, através do telefone, com as possibilidades de comunicação que a internet nos dava. Então evoco ao mesmo tempo o sentimento de solidão que cada pessoa podia sentir, e essa necessidade de se comunicar e se aproximar para sentir ainda esse calor humano que estava faltando. Tem uma tristeza ligada à situação, mas também uma esperança de poder rever-se e viver normalmente de novo. E no refrão, eu falo justamente dessa esperança, chamando a gente para dançar nos bancos. Eu falo desse sentimento de liberdade que nós temos por dentro e que não estava perdido, mesmo nessa situação de restrição.
Qual sua mensagem ao mundo?
Eu convido as pessoas a celebrar a vida, mesmo numa situação triste e pesada como essa, e a guardar sempre esperança. Essa situação virou um exemplo, para dizer de maneira mais geral que em cada situação triste que cada um pode viver, tem sempre uma esperança, sempre um jeito de contatar a joia dentro de nós, e de superar o sentimento de tristeza ou desespero ou medo. A dança e o canto são justamente dois remédios, dois jeitos de relaxar, botar para fora o negativo, e acolher o positivo da vida. São dois refúgios em que podemos achar uma forma de liberdade, independentemente da situação que vivemos. Eu convido as pessoas para viajar numa outra realidade na qual nós temos essa possibilidade de se mover e se expressar e onde podemos soprar sobre as nuvens que representam a parte obscura da situação. Então bora a viver! Isso é a mensagem da música.
Como e por que surgiu esta música?
Eu escrevi essa música depois de três primeiras músicas em inglês. Então queria escrever uma música em francês, e nesse período de confinamento, o ambiente estranho de Paris me deu inspiração. Era uma coisa que nunca havíamos vivido antes, um pouco surreal e tão excepcional que achei muito interessante deixar uma traça deste período, sem entrar num modo crítico ou político. A minha intenção era só de contar e descrever uma situação concreta e uma sensação de solidão e de vazio improvável que todo o mundo sentiu ao mesmo tempo, e que nem a cidade tinha conhecido, ou só muitos anos atrás. A música começou com esse ponto, como a descrição de uma pintura, uma atmosfera, e o ritmo bossa nova trouxe essa sensação de leveza que guiou o refrão com essa mensagem mais positiva, a nota de esperança no meio da esperança.
Também, essa música se destaca por seu ritmo bossa-nova misturado com um ritmo cabo-verdiano. Da vontade de dançar, e dá uma sensação de joia e de leveza que contrasta com a tristeza do assunto. Eh uma música diferente das outras do meu EP, na qual eu quis colocar a minha influência brasileira, o meu afeto para a bossa nova e a música brasileira que eu canto há muitos anos e que me deu muita inspiração. Era importante para mim colocar uma música mais ritmada, com uma levada bossa-nova assim, porque faz parte da minha vida e do meu percurso musical.
O que esta música diz sobre seu país, a França?
Essa música revela um certo afeto para a minha cidade, Paris. Não fala diretamente da França ou dos franceses, mas fala em segundo plano da beleza de Paris através do sentimento de vazio, da vida que ela perdeu nesse período, e que nós parisienses adoramos. Ponho em evidência as coisas lindas da cidade e da saudade que a gente podia sentir dessas coisas, do ambiente.
De uma certa forma, fala também de um individualismo acentuado por causa dessa situação, que às vezes podemos sentir em Paris ou em qualquer cidade grande. Mas sobretudo, fala do nosso amor por essa cidade cheia de história e de cultura.
Respostas de Laure Trazzi
Hugo Arán – “Nova” – (Espanha/Brasil)
De uma forma geral, o que é esta música?
“Nova” é uma bossa nova, parceria do Hugo Arán com o produtor e compositor Pablo Acevedo.
A música tem um jeito retrô futurista já que os elementos da produção são metade eletrônico e a outra metade orgânicos, pode se perceber então uma mistura muito conhecida, mais ao mesmo tempo com um som bem novo.
O que a letra diz e qual sua mensagem ao mundo?
A letra faz uma descrição de uma nova vida, nesse caso Júlia, a filha de Pablo. Uma pessoa que nasce e tem muitas coisas pra explorar, o dia a dia na casa, os brinquedos dela, o quarto dela e como vai crescendo e descobrindo a vida pouco a pouco.
Quais ritmos nacionais encontramos em “Nova”?
O ritmo é basicamente um samba canção (lento) ou uma bossa nova, ela tem também uma parte instrumental que faz lembrar as antigas orquestras dos anos 40-50, com cordas e metais acompanhando a melodia e dando uma sensação cinematográfica.
O que este lançamento diz sobre você, Hugo Arán?
O lançamento de “Nova” faz parte de “Ar”, o quarto disco do compositor espanhol Hugo Arán, um trabalho com grandes parcerias brasileiras (Ney Matogrosso, Vinícius Cantuaria, Paulinho Moska, Ceumar, Sergio Santos, Leo Minax, Thiago Amud e o produtor e autor de “Nova”, Pablo Acevedo.
Há alguma curiosidade sobre este lançamento que você queira destacar?
Uma curiosidade sobre a música é que Pablo e Hugo tiveram já um projeto como dupla 15 anos atrás com nome Tato Azevedo, e eles gravaram um disco que se chama “Sordo” (2008), depois Pablo foi morar pra México e Hugo voltou a Barcelona, cidade onde mora na atualidade.
Respostas de Hugo Arán
Minna LaFortune – “Shine di Light” – (Jamaica)
Resumindo, sobre o que é essa música?
“Shine di Light” é um grito de guerra pela verdade e justiça econômica, incitando os ouvintes a expor e confrontar a maldade e a inveja que permeiam a sociedade. Com seu ritmo contagiante e mensagem envolvente, a faixa ressoa profundamente, capturando a essência da luta pela justiça econômica e equidade.
O que a letra diz e qual é a sua mensagem?
O verso 1 mergulha nas duras realidades da vida nas ruas, onde a luta é contínua e a sobrevivência é primordial. A letra de LaFortune enfatiza a necessidade de lançar luz sobre essas lutas, tornando a situação dos oprimidos visível a todos. O verso 2 destaca o sofrimento constante dos pobres, justaposto à indiferença e à transferência de culpa daqueles no poder. É um lembrete gritante dos problemas sistêmicos que perpetuam a pobreza e a injustiça. O verso 3 chama os “trabalhadores da desigualdade” – os caluniadores e malfeitores – que prosperam no engano e na exploração. As palavras poderosas de LaFortune encorajam o público a expor esses malfeitores e permanecer firme contra seus delitos.
Como e por que essa música surgiu?
A música surgiu da leitura de notícias sobre as diversas injustiças no mundo.
O que essa música diz sobre seu país, a Jamaica?
A música não especifica a Jamaica em particular; em vez disso, ela fala sobre um problema global de injustiça socioeconômica, transferência de culpa, ciúme e ganância. Ela encoraja o ensino dos jovens sobre o amor e que as pessoas devem levantar suas vozes para lançar luz sobre atos perversos e ganância onde quer que os vejam em seu ambiente para o mundo ver.
Respostas de Minna LaFortune
Hank Hehmsoth – “A New Day” – (EUA)
Imagine que você tem que apresentar rapidamente essa música para alguém, o que você diria?
Minha música “A New Day” é uma cativante peça de trio de piano instrumental de jazz que exala uma sensação de frescor e otimismo. A música flui sem esforço, criando uma atmosfera serena, mas edificante, que atrai os ouvintes.
O que se destaca em “A New Day” é sua capacidade de misturar elementos tradicionais do jazz com uma sensibilidade moderna. A natureza improvisada do trabalho de piano é envolvente e relaxante, tornando-a uma faixa perfeita para momentos de relaxamento ou contemplação. Meu toque nas teclas é delicado e expressivo, permitindo que cada nota ressoe com clareza e emoção.
Existe uma mensagem por trás do instrumental?
Decidi compartilhar “A New Day” para mostrar a versatilidade e a profundidade do piano jazz. É uma faixa que transcende as fronteiras do gênero, atraindo entusiastas do jazz e ouvintes casuais. A sensação leve e arejada da peça a torna uma ótima companhia para começar o dia com uma nota positiva ou relaxar à noite. É um exemplo perfeito de como a música instrumental pode transmitir emoções profundas e contar uma história sem palavras, tornando-a uma adição valiosa a qualquer coleção de música. Ela vai além dos limites convencionais do gênero.
Se há uma mensagem por trás da música, é permanecer “leve” e “arejado” ao longo da vida.
Como e por que essa música surgiu?
Meu trio toca 2 shows por noite, 6 noites por semana. Meu trio precisa se manter vivo e com tanta execução, quero o máximo de material novo possível. Lembro-me daquelas primeiras faixas de “smooth jazz” da 2K, como David Benoit, Dave Grusin ou Bob James. Eu realmente amo a vibe, e isso me lembra da minha infância quando descobri esse gênero musical.
Além de compor, tocar e gravar meu jazz, percebi que o jazz contemporâneo pode ser empacotado em compilações, adequadas para restaurantes e cafeterias em todo o mundo, e várias das minhas faixas estão sendo consideradas trilhas sonoras para filmes, TV e publicidade.
Há algo interessante sobre este lançamento que você gostaria de destacar?
A música faz parte do meu álbum de 2024 “Exit”. Tenho 5 álbuns gravados.
Respostas de Hank Hehmosoth
