11 de dezembro de 2024
Além da BR

Playlist “Além da BR” #217 – Sons do mundo que chegam até nós

Além da BR

Somos uma revista de arte nacional, sim! No entanto, em respeito à inúmeras e valiosas sugestões que recebemos de artistas de diversas partes do mundo, criamos uma playlist chamada “Além da BR”. Como uma forma de estende-la, nasceu essa publicação no site, que agora chega a sua 217ª edição. Neste espaço, iremos abordar alguns dos lançamentos mais interessantes que nos são apresentados.

Até o primeiro semestre de 2024 publicávamos também no formato de texto corrido, produzido pela redação da Arte Brasileira. Contudo, decidimos publicar apenas no formato minientrevista, em resposta aos pedidos de parte significativa dos nossos leitores.

Lill Primo – “Walk In The Park” – (EUA)

Qual aspecto da vida humana e social você retrata nesta música? Em “Walk in the Park“, exploro o contraste entre a facilidade da vida na superfície e a realidade de navegar em um ambiente difícil. Essa música aborda resiliência e determinação, especialmente em situações onde as coisas não são tão fáceis quanto parecem. O “parque” representa um espaço desafiador, sugerindo uma mensagem mais profunda sobre como enfrentar os medos e enfrentar as lutas de frente.

E qual mensagem você esperava levar ao seu público? Queria encorajar as pessoas a abraçarem a sua própria força e confiança, mesmo quando o mundo à sua volta pode ser difícil ou duro. O título e o tom servem como lembretes de que os desafios – sejam sociais, pessoais ou ambientais – são uma parte inevitável da vida, mas superá-los com confiança é crucial. Através desta faixa, espero que os ouvintes se sintam capacitados para realizar seus próprios “passeios no parque”.

O que inspirou esta composição? Essa música é inspirada em experiências da vida urbana, principalmente em lugares onde é preciso ficar atento.  A inspiração veio da batida e do desejo de capturar o público com letras que ressoem e se relacionem com o público.

Musicalmente, como você descreve a música? Musicalmente, esta faixa é uma mistura arrogante de ritmos trap e fluxos melódicos, dando-lhe coragem e elasticidade. O refrão e as tonalidades elevam a vibração, tornando-a cativante e memorável, ao mesmo tempo que mantém um toque de vanguarda. Ele foi desenvolvido para ser envolvente, mas simples o suficiente para causar um forte impacto nas redes sociais, com energia para manter as cabeças balançando e profundidade para ressoar.

E por que a escolha dessa arte de capa? Walk in the Park” brinca com ironia; já que o título sugere uma jornada sem esforço, mas a capa conta uma história diferente – mostrando um perigoso parque de Los Angeles onde uma simples caminhada não é nada fácil.

Respostas Lill Primo

Hinry Lau – “Prevail (Prov. 19:21) 謀事在人成事在…” – (Hong Kong)

Que aspecto da vida humana e social esta música retrata? Olá, sou Hinry, o produtor e artista da música Prevail (Prov 19:21). Eu não era cristão até cinco anos atrás, mas sempre senti que a vida tinha um propósito, mesmo sem saber qual era. Meu primeiro álbum estreou em 2018 em Hong Kong com a música Monster, que me trouxe muita fama. Mas com a atenção vieram os desafios, e comecei a me comparar com o sucesso de outras pessoas. Por mais que eu me esforçasse, não conseguia repetir as conquistas do início da minha carreira. Senti uma necessidade de controlar cada parte da minha vida, acreditando que, com esforço suficiente, tudo era possível. Segui várias tentações em busca de realização, até que conheci Jesus. Ele me ajudou a entender que “Muitos são os planos no coração do homem, mas o propósito do Senhor é que prevalece” (Provérbios 19:21).

O que inspirou essa composição? A inspiração vem de Provérbios 19:21, que diz: “Muitos são os planos no coração do homem, mas o propósito do Senhor é que prevalece.” A sociedade muitas vezes nos diz que podemos ser os donos do nosso destino; os anúncios, filmes e programas dizem que, se apenas acreditarmos em nós mesmos, podemos alcançar tudo. Mas Deus nos diz que as coisas não funcionam assim. O verdadeiro desafio é se temos coragem para deixar Jesus assumir o controle. Entregar-se não significa fazer nada; significa dar o nosso melhor enquanto deixamos Deus decidir o resultado.

Como você descreveria a música musicalmente? Eu descreveria como R&B asiático, com harmonias vocais ricas—na verdade, são oito camadas de vocais. Normalmente, gosto de colocar muitos elementos em minhas músicas para torná-las mais abundantes, mas com Prevail, aprendi que menos é mais. Evitei adicionar camadas desnecessárias para manter a música simples e consistente, permitindo que as pessoas se concentrem na letra. Musicalmente, também acrescentei um solo de baixo de 6 cordas aos 1:06 para dar uma vibração a mais!

É possível estabelecer uma conexão direta ou indireta com sua região, Hong Kong? Em meu álbum de estreia, tenho uma música chamada TaeYang (que significa “sol”), onde explorei muitas influências do R&B coreano. Após seu lançamento, muitos brasileiros me seguiram no Instagram e até criaram um fã clube. Achei realmente inspirador que a música pudesse me conectar com pessoas do outro lado do mundo. Desde então, sei que um dia irei ao Brasil para conhecer meus ouvintes de lá.

Por fim, conte-nos quem é Hinry Lau. Sou Hinry, de Hong Kong. Cresci em uma cidade muito comercializada e me tornei um agrimensor profissional após a universidade. Mas eu não queria me acomodar, então arrisquei e participei do The Voice em Hong Kong. Tive a sorte de ganhar, o que me deu coragem para deixar meu emprego estável no governo e me dedicar à música por um ano. Minha mãe era contra e disse que eu não poderia continuar a menos que pudesse ajudar a família financeiramente. Esse primeiro ano se transformou em um segundo, e outro, e agora já se passaram 14 anos! Três anos atrás, senti um chamado de Deus para espalhar o evangelho através da música, então deixei Hong Kong e me mudei para o Reino Unido. Após anos escrevendo principalmente em cantonês, finalmente concluí meu primeiro álbum em inglês, 5,777 Miles Away, que inclui Prevail.

Respostas Hinry Lau

Don’t Tell John“Grandad” – (EUA)

Por que nosso leitor deve ouvir essa música? Colocamos nosso coração nessa música. É uma banda de amigos e familiares que trabalharam duro para compor uma faixa emocional e honesta. Mas, na verdade, o destaque é a voz de Veronica. No YouTube, os fãs a compararam a Janice Joplin. Sua alta energia, seu vocal poderoso e cheio de alma são o destaque da faixa.

Como vocês descrevem a sonoridade? Nos amamos rock clássico, com guitarra e orientação para o blues. Achamos que ele se encaixa naquele espaço estreito entre o rock clássico e o rock contemporâneo. Com um pouco de sabor dos anos 90.

Quais outros artistas e bandas foram inspirações? Bandas da velha guarda dos anos 70 como Led Zeppelin, mas bandas dos anos 90 como The Black Crowes e Stevie Ray Vaughn influenciaram todos nós. Mas bandas contemporâneas como Larkin Poe, Greta Van Fleet e Tedeschi Trucks têm alguma influência nessa faixa… em algum lugar!

Há alguma curiosidade sobre esse lançamento que você gostaria de destacar? Nós gostamos da ironia de uma poderosa vocalista feminina de 27 anos realmente cantando a história de um velho que perdeu tudo em seus últimos anos. Achamos que isso apresenta uma textura rica para a música.

Respostas Don’t Tell John

Alicia Glass – “Trailer Park Queen” – (EUA)

Em resumo, qual é o conceito desta música? Eu estava sentada nos degraus de madeira instáveis do lado de fora de um ônibus escolar que minha irmã tinha convertido em uma casa, estacionado perto da fronteira do Novo México, com o cachorro da minha irmã, quando escrevi essa música pela primeira vez. Ela fala sobre um momento da minha vida em que eu sentia que estava em uma encruzilhada. É sobre o desespero de lutar, trabalhar em empregos sem futuro, sem saber para onde ir ou o que fazer, sem ter muito dinheiro, e apenas querendo ser livre de todas as restrições e pressões da vida.

O que especificamente dizem as letras da música, e qual é sua mensagem para o mundo? Essas letras estão entre as minhas favoritas que já escrevi. Escrevi essa música primeiro como um poema quando estava sentada em uma cafeteria observando as pessoas ao lado na lavanderia. Ela fala sobre as dificuldades e desgostos que vêm com as lutas de ser humano, mas ainda assim ter esperança e ver a beleza no mundano.

Como e por que essa música surgiu? Minha irmã e eu moramos juntas em um trailer em nossa pequena cidade montanhosa no sudoeste do Colorado por alguns anos. Ficava tão frio no inverno que eu acordava e encontrava o copo d’água ao lado da minha cama congelado. Caminhávamos à noite depois do trabalho no verão, ouvindo os grilos, tomando cerveja em copos de café para viagem, e brincávamos que deveríamos formar uma banda chamada “Trailer Park Queens“. Nunca começamos essa banda, em vez disso, escrevi uma música refletindo sobre aquele tempo em nossas vidas e a chamei de “Trailer Park Queen.”

O que a capa da música nos diz? Eu mesma desenhei a arte deste EP. Tento criar paisagens sonoras oníricas na minha música, e queria que esses elementos de sonho também estivessem representados na arte. A capa é uma representação visual de um mundo de sonhos. Meu rosto está desfocado para representar o borrão entre a realidade e os devaneios.

Há algo interessante sobre este lançamento que você gostaria de destacar? Este é o meu primeiro lançamento. Estou muito empolgada para compartilhar essa música que venho trabalhando nos últimos dois anos. Gravei os vocais no estúdio caseiro de um amigo. Gravamos todas as partes instrumentais, exceto a bateria, em um quarto. Acho que o ethos do “faça você mesmo” dá à música uma sensação íntima, emocional e autêntica. Esta música é para os sonhadores.

Respostas Alicia Glass

Jim Knable & The Randy Bandits“Lord Buckley” – (Estados Unidos)

Primeiro: diga-nos, resumidamente, que música é essa? Esta é uma música que escrevi há muito tempo para minha banda The Randy Bandits tocar comigo. Na época, eu era obcecado por um comediante e contador de histórias americano dos anos 1950 chamado Lord Buckley e queria escrever uma homenagem a ele. Tenho tocado essa música com cada iteração da minha banda desde então, mas não a gravei para um álbum até agora.

O que a música retrata na letra e qual é a sua mensagem? A música é sobre admirar indivíduos que fazem coisas originais na vida que de alguma forma nos inspiram, mesmo que a maioria das outras pessoas não tenha ouvido falar deles. Lord Buckley inspirou pessoas como Robin Williams com sua apresentação ultrajante de si mesmo como um lorde inglês que fala jive e preside um círculo interno de caras descolados, mas a maioria dos americanos não tem ideia de quem ele era, e é muito difícil encaixá-lo em uma caixa. Também tenho versos sobre Sonny Terry, um músico de blues famoso por tocar gaita, e Lady Gregory, uma patrona das artes e ocultista do início dos anos 1900, que apoiou poetas como William Butler Yeats. O último verso imagina um céu inspirado por Dante e deve ser misterioso, mas cheio de alegria. Nossos heróis, ou mesmo apenas pessoas que achamos fascinantes, nos inspiram, mas também nos mantêm encantados e cativos, e não há nada que possamos fazer sobre isso.

Quanto ao som, quais são suas considerações? O som da música é intencionalmente como a música do álbum Loaded do The Velvet Underground. É um groove legal e legal que me deixa dizer algumas coisas e deixa a guitarra elétrica e o tecladista fazerem solos enquanto o baixista e o baterista também se divertem. A progressão de acordes nos versos intencionalmente lembra Werwolves of London, Take the Money and Run e até Sweet Home Alabama — comentando sobre a natureza eterna do rock and roll groovy. As pontes de “time on the radio” levam a um riff simples, mas clássico, que traz de volta os versos. Essa música provavelmente poderia continuar para sempre.

O que essa música diz sobre seu país? Os Estados Unidos são uma colisão de ideias e influências muito contraditórias, assim como essa música. Todo mundo que é interessante aqui tem sua própria lista de figuras inspiradoras surpreendentes. Eles nem precisam ser americanos para serem cooptados pelos americanos. Nós aceitamos e, no final das contas, reivindicamos todos, quer eles queiram ser reivindicados ou não.

Tem alguma curiosidade sobre esse lançamento que você queira destacar? Espero que todos que estejam ouvindo essa música procurem as três pessoas nomeadas nela, especialmente Lord Buckley. Há um livro muito bom chamado Dig Infinity que as pessoas deveriam usar como inspiração.

Respostas Jim Knable & The Randy Bandits

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Fundador e editor da Arte Brasileira. Jornalista por formação e amor. Apaixonado pelo Brasil e por seus grandes artistas.