Em cartaz até o dia 6 de dezembro, Sérgio Free ocupa Galeria Alma da Rua na exposição “Antrópicos” – palavra que nos remete às alterações feitas pelo homem no mundo.
Reconhecido pelas ruas de São Paulo por seus graffitis, Sérgio traz nessa ocupação uma analogia ecológica entre a metrópole e o planeta Terra, onde a arte urbana é denominada crime ambiental e vandalismo. Com 10 obras, ele aponta e questiona as grandes empresas mundiais que jogam responsabilidades e consequências nas mãos dos consumidores.
“Nessas telas eu apresento um olhar muito crítico e reflexivo em relação às empresas que poluem o ar, rios, solos e oceanos com seus resíduos. Eu, como artista, me sinto obrigado a fazer essa provocação. A arte é isso também”, comenta Sérgio Free.
“Além de utilizarem recursos naturais em uma velocidade muito elevada, causando desequilíbrios nos ciclos biogeoquímicos. São esses negócios que colocam em risco a existência de qualquer espécie, inclusive a humana”, complementa.
O serviço completo da exposição está logo após o fim da entrevista.
SOBRE O ARTISTA
Nascido na Bahia, Sérgio passou a morar na capital paulistana ainda criança e, em seus pequenos trajetos rotineiros passou a observar a arte urbana em pichações. Só descobriu que aquilo não era bem visto pela sociedade quando, muito novo, ajudava alguns artistas de seu bairro e estes foram levados pela polícia. “Aos 8 anos de idade, tudo era muito lúdico, ainda mais na visão de uma criança. Foi duro começar a entender como a cena do street art era percebida”.
Sérgio Free participou de diversas exposições coletivas, e, em sua primeira individual, em 2018, teve todas as obras vendidas no dia de abertura, bem como a ocupação na Casa Jacarepaguá, que aconteceu em agosto deste ano. Desde então tem atraído a atenção de colecionadores tanto do Brasil como no Exterior. “Antrópicos” é a sua terceira solo.
SOBRE A GALERIA
Mais que uma galeria, é um espaço gerador e articulador de Arte Urbana. O local fomenta diversos tipos de manifestações culturais e tem o intuito de revelar artistas, proporcionar atividades através da reflexão e agregar valor a uma expressão artística antes não reconhecida.
A missão é defender a importância da pesquisa criativa e oferecer experiências significativas e acessíveis não só para o público que já é adepto, mas também atrair a um novo público. Localizada no Beco do Batman, na Vila Madalena, considerado o bairro mais boêmio e cultural de São Paulo.
– Aquela perguntinha óbvia [HAHA]. Qual foi o seu gatilho para essa a produção desse material e para essa exposição?
O gatilho principal foi o problema do plástico nos oceanos, isso me motivou, já faz tempo que me pergunto como os poderosos de uma grande empresa conseguem viver em paz sabendo que estão causando uma imensa curva no processo evolutivo de espécies marinhas em consequências dos resíduos no ecossistema.
– Qual a mensagem que você traz com essa exposição? E o quanto acredita que este trabalho pode impactar a sociedade?
A mensagem principal é afirmar que essas empresas jogam toda a responsabilidade social e ambiental para os consumidores e que isso não deveria ser assim, essas empresas deveriam se responsabilizar por cada tipo de problema que seus produtos causam mesmo depois de consumidos pelo cliente final, sendo assim adotar outras medidas 100% eficaz. A sociedade de certa forma pela falta de conhecimento, é obrigada a se adaptar a forma de vida que é imposto pelo sistema capitalista, aprendem a reciclar, separar lixo, consumir menos, mas isso é muito pouco perto do impacto causado. Quanto a impactar a sociedade isso seria muito pouco perto da mensagem que eu quis passar, isso muitas pessoas que pensam a nível social já fazem eu produzi com um pensamento em uma escala a nível global evolutivo e se for para conseguir impactar que sejam as empresas. Com a arte para a sociedade deixo registrado o momento em que vivemos.
– Além do público visitante, você acredita que a exposição pode chegar em grandes cabeças de algumas empresas, e assim, causar alguma conscientização e mudança?
Sei que já seria difícil chegar em grandes cabeças de empresas e quem dirá muda-las, mas aprendi que uma ideia quando é verdadeira ela vai longe e pode romper barreiras, como afirmação a isso é o fato de eu estar respondendo a essa entrevista e assim essa mensagem pode tomar outras proporções.
– Para você o que exatamente na cultura empresarial provoca tantos crimes ambientais? Como você enxerga esse assunto?
Em primeiro lugar a ganância, em segundo lugar a falta de uma equipe multidisciplinar onde os biólogos e ecólogos sejam realmente ouvidos, pois isso tudo que estamos vivendo agora em termos ecológicos já foi dito e explicado a muitas décadas atrás.
– Você fez algum tipo de estudo antes da produção do material da exposição?
Eu estudei bastante sim, mas para a expo estudei apenas técnicas de pinturas. Minha teoria ecológica vem se formando há quase duas décadas.
– Você tem alguma(s) história(s) ou curiosidade(s) interessante(s) para nos contar?
Sim, muito interessante foi a história da tela capa da expo, eu sou um artista que não gosto de pegar carona em tragédias, não é meu estilo pintar algo na sequência de um fato trágico. Eu tinha pintado a tela com o símbolo de uma empresa petrolífera pensando apenas no ciclo do carbono e suas consequências, então com a exposição quase pronta e tema já desenvolvido aconteceu o desastre ecológico das manchas de óleo nas praias do nordeste e os barris que foram encontrados foram justamente os barris dessa mesma empresa quem pintei na tela.
– Sinta-se a vontade para falar algo que eu não perguntei e que você gostaria de ter dito.
Na exposição apontei várias empresas de grande porte, porém não significa que são só aquelas que causam problemas ao meio ambiente, e da mesma forma que citei acima sobre a responsabilidade ecológica. Claro que também existe a responsabilidade social e isso eu vejo como o mesmo problema só que em escalas diferentes, por esse motivo fiz essa analogia entre a Metrópole representando o planeta e as empresas representadas pelo “vandalismo”. Agora é só colocar na balança.
Textos de Fernanda Burzaca
Edição e entrevista de Matheus Luzi
SERVIÇO
Sérgio Free em exposição “Antrópicos” na Galeria Alma da Rua
Endereço: Rua Gonçalo Afonso, 96 – Beco do Batman, São Paulo
Data de abertura: 7 de novembro
Horário de abertura: 17h às 21h
Data de visitação: 8/11 a 05/12
Horário de visitação: de segunda a domingo, das 11h às 19h
Entrada Gratuita. Sujeito à lotação.
https://galeriaalmadarua.com.