25 de abril de 2025

CONTO: O Flagrante No Suposto Amante (Gil Silva Freires)

Eleutério andava desconfiado da mulher. Ultimamente a Cinara andava de cochichos no telefone e isso e deixava com uma pulga atrás da orelha. Vira e mexe, a esposa era apanhada nesses telefonemas, ele perguntava quem era e ela desconversava, dizendo ser uma amiga. Mas por que diabos ela precisava cochichar com uma amiga? Por que ela sempre desligava rápido quando ele aparecia?

Só existia uma explicação: Cinara o estava passando pra trás. Cinara tinha um amante.

Naquela manhã Eleutério iria mais cedo pro trabalho e retornaria bem mais tarde que o de costume, devido a um acúmulo de serviço no escritório. Cinara amanheceu toda contentinha, dizendo que aquele era um dia muito especial. Mas como dia especial, se não era data comemorativa e ele ia passar o dia todo no escritório, atolado na papelada da contabilidade? Não, sabia perfeitamente o que tornaria aquela quinta-feira especial para a esposa: o amante viria tão logo ele virasse as costas e a safadeza duraria o dia todo. Mas Eleutério não era bobo e acabaria com a farra adúltera.

Entrou no carro pensando no que seu velho pai faria em situação semelhante. O velho gaúcho não perdoaria. Resolveu que voltaria da metade do caminho e daria cabo dos dois com o trinta e oito que trazia na valise. Depois tomaria o primeiro avião e fugiria pra casa do pai, nas margens do rio Uruguai, dando um jeito de atravessar a fronteira.

Deixou o carro estacionado na esquina e voltou caminhando. Fez a volta na casa, silenciosamente e parou diante da janela do quarto. Ouviu uma risada de homem que se misturava à de Cinara. Os dois sem-vergonhas estavam na cama, rindo da cara dele.

Tocou o revólver na cintura e ficou alguns minutos calculando a vingança. Entrou na casa e encontrou Cinara na sala. Quando o viu, ficou claramente nervosa e veio abraçá-lo, cheia de dengos e falando alto, na certa pra alertar o amante. Eleutério viu quando um vulto passou rápido diante da porta da cozinha.

– Eu sabia! – gritou Eleutério.

– Do que você está falando, querido? – perguntou Cinara, sorrindo sem jeito.

Eleutério entrou na cozinha e sacou o revólver.

– O que é isso? – apavorou-se Cinara.

Armário da despensa? Lugar estranho pra um amante se esconder. Em geral os amantes preferem os guarda-roupas ou, mais espertos, pulam pela janela.  Apontou o revólver e atirou uma, duas, três, quatro vezes. Cinara gritava desesperada.

– Peguei esse safado! – gritou Eleutério, de honra a salvo.

Abriu a porta e viu o corpo do pai caído no chão, a cara atolada naquilo que tinha sido um belíssimo bolo de aniversário. Cinara gritava desesperada. A mãe dele saiu detrás da cortina da sala e desmaiou.

Seus pais tinham chegado do Rio Grande naquela manhã, depois de telefonarem várias vezes à nora, combinando a festa surpresa. O pessoal do escritório tinha se encarregado de segurar o aniversariante até que tudo estivesse pronto.

Escrito por Gil Silva Freires em 22/12/1994

CONTO: O Operário Dedicado e O Regozijo do Aposentado (Gil Silva Freires)

Seo Leocádio era o tipo de homem totalmente estável e mantivera o mesmo emprego durante toda a vida. Se haviam.

LEIA MAIS

VÍCIO ELEGANTE – A história de um clássico de Belchior

  “Vício Elegante” é o nome do último álbum de estúdio do nordestino Belchior, lançado em 1996, e que sem.

LEIA MAIS

LIVE BRASILEIRA #6 – O rock underground da banda Seu Juvenal e o indie rock

1º Convidado A banda Seu Juvenal é de rock underground, formada em Minas Gerais, e oficializada em 1997, ao gravar.

LEIA MAIS

A invisibilidade da mulher com deficiência física (por Clarisse da Costa)

Eu amei o tema da redação da prova do ENEM de 2023: Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho.

LEIA MAIS

Maringa Borgert guia passeio pela história, cultura e artes do Mato Grosso do Sul

O Mato Grosso do Sul é um estado independente e unidade da Federação desde o final dos anos 1970 quando.

LEIA MAIS

Explore o universo literário

Você tem que se aventurar no campo literário e fazer novas descobertas. Você como leitor não pode ficar só focado.

LEIA MAIS

Muitos artistas querem o mercado; Tetel também o quis, mas na sarjeta encontrou sua liberdade

Tetel Di Babuya — cantora, compositora, violinista e poeta — é um projeto lançado por uma artista do interior de.

LEIA MAIS

“Quer casar comigo?” (Crônica integrante da coletânea “Poder S/A”, de Beto Ribeiro)

Todo dia era a mesma coisa. Marieta sempre esperava o engenheiro chegar. “Ele é formado!”, era o que ela sempre.

LEIA MAIS

Entre a sinestesia e a sistematização, Zé Ibarra se consolida como voz de sua geração

PERFIL ⭐️ Em meio a exuberante flora do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Zé Ibarra comenta com fluidez e.

LEIA MAIS

Podcast Investiga: A arte como resistência política e social (com Gilmar Ribeiro)

Se a arte é censurada e incomoda poderosos do capital, juízes, políticos de todas as naturezas, chefões do crime organizado,.

LEIA MAIS