5 de dezembro de 2024
Google News Lupa na Canção

Clara Nunes 2024; The Cure versão BR; Samba e sátira; Pagode exportado; R&B e ritmos brasileiros/africanos [lupa na canção #35]

Muitas sugestões musicais chegam até nós, mas nem todas estarão aqui. Bem vindos ao Lupa na Canção!

Esta é uma lista de novidades lançadas recentemente, de diferentes temáticas e gêneros musicais. Dificilmente você verá no Lupa canções do mainstream. A ideia é apresentar com uma “lupa” coisas novas e alternativas aos grandes sucessos, afinal é este uma das missões da Revista.

É importante ressaltar que as posições são aleatórias, não indicando que uma seja melhor que a outra.

Banda formada por dois brasileiros e quatro alemães, Tudo Azul lança releitura de clássico de Clara Nunes

Como você enxerga esta música na versão original de Clara Nunes?

Nós da banda, enquanto pessoas brancas, estamos em um processo de letramento racial, procurando no fazer arte uma consciência do lugar de fala e nas abordagens das produções artísticas. Ao escolher peças com um cunho politico e histórico tão potentes, enxergar essa musica através do contexto em que ela estava envolvida e suas repercussões nos dias atuais é um processo de respeito, que como artistas nos instiga a tocar no tópico “fazer musica brasileira“ com mais seriedade e cuidado. Com a nossa cultura sendo tão vasta e rica, e ao mesmo tempo formada por uma historia de muito conflito e opressão, fica interligado interpretar uma peça como essa e ao mesmo tempo produzir pensamentos sobre esses tópicos.

Essa musica é em si um marco na cultura brasileira, tanto pelo seu contexto histórico quanto político. A interpretação de Clara Nunes, com sua voz potente e presença icônica, carrega um simbolismo profundo, especialmente por ser uma mulher que esteve totalmente envolvida com a cultura e religiões de origem africana. Clara foi um símbolo desse retomar da cultura africana na musica brasileira, principalmente no samba. E para a época, onde as discussões raciais ainda estavam distantes dos espaços de poder e ate acadêmicos, a importância desses marcos artísticos reverberam ate hoje, com novas discussões.

A canção, composta por Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro toca em temas sensíveis, como raça e identidade, com uma profundidade que ressoa até os dias de hoje. Embora o conceito de “raça” tenha evoluído, sendo hoje considerado impreciso biologicamente, ele mantém relevância no campo das ciências sociais e na reflexão sobre nossas origens e injustiças. A arte, como nesta obra, tem a capacidade de nos fazer refletir sobre essas questões com uma sensibilidade atemporal.

Por que regravá-la?

Desde que eu, Carolina, em 2012 entrei na UFRGS no curso de licenciatura em dança e entrei em contato com temas sobre as danças populares e a cultura brasileira, muitas discussões estavam sendo (e também não sendo) feitas sobre o assunto. De lá para cá surgiram muitos questionamentos necessários sobre lugar de fala e espaços para essas discussões, que tem sido cada vez mais aprofundadas principalmente por pessoas negras que finalmente estão podendo colocar a sua fala e seu ponto de vista em foco. Conhecer pensamentos a partir de nomes como Darcy Ribeiro, tomando consciência sobre as desigualdades sociais de novas formas dentro desse espaço universitário, foi muito importante na minha formação. Também foi uma mudança muito grande quando depois de dois anos de UFRGS eu migrei para Alemanha. Como imigrante, entrei em uma universidade em que o fazer arte estava totalmente dissociado da produção intelectual e consciência politica, o que geraram novas questões associados com a realidade do brasileiro.

Como mulher branca não sofri o preconceito enquanto não abria a boca pra falar, mas ao falar e vive-lo, conviver com outros imigrantes que também experienciavam essas historias, trouxe essa problemática ainda mais forte na minha experiência pessoal.

Desde muito cedo senti uma profunda indignação com com as injustiças sociais e opressões do mundo afora, e ao conhecer essa musica no Brasil em minha adolescência, me apaixonei pela peça, estando presente no meu repertório desde então. Em um mundo tão globalizado como o nosso, musicas como essa – com um teor histórico tão profundo – nos ajuda a refletir sobre os caminhos que percorremos, porque estamos aqui, e aonde queremos ir.

A decisão de regravá-la reflete o desejo da banda de manter essas discussões vivas, levando essa obra para além das fronteiras brasileiras, especialmente para o público alemão. Durante as performances, a banda faz questão de contextualizar a música, compartilhando sua história e significado, aproximando essas importantes discussões da realidade europeia.

O que sua versão tem de diferente, de único?

Nossa versão traz uma nova roupagem instrumental, com destaque para a bateria, percussões leves como o tamborim, guitarra e, posteriormente, piano e flauta que entram com o primeiro coro. Além disso, no final da música, há uma participação especial de músicos de diferentes nacionalidades – brasileiros, alemães e ucranianos – que se unem em um coro, simbolizando a fusão cultural e a conexão que a música proporciona entre diferentes realidades.

Há alguma curiosidade sobre este lançamento que você gostaria de destacar?

Uma das peculiaridades deste lançamento é a composição da banda, formada por dois brasileiros e quatro alemães. Essa mistura de culturas enriquece as interpretações e os diálogos que a música proporciona. Canções como essa e outras, como a original “Ipanema” da banda, promovem uma reflexão sobre temas como opressão e preconceito, revelando tanto as semelhanças quanto as diferenças entre as sociedades brasileira e alemã.
Através da música, conseguimos não apenas trocar influências culturais, mas também construir diálogos sobre o passado, presente e futuro dessas questões. Tambem por todos os integrantes serem (ou terem sido) alunos de cursos de musica no espaço acadêmico e perceberem o quanto ainda é escasso o aprofundamento dessas questões e diálogos dentro dessas universidades na Alemanha, a própria banda tornou-se um espaço para trazer esse dialogo e essas questões.

Respostas da integrante Carolina (cantora)

Como um doce beijo entre as culturas brasileira e norte-americana, Monica Casagrande apresenta intacta a música brasileira aos fãs da banda britânica The Cure

A música é do The Cure, alvo desta releitura. Como você enxerga a versão original?

A letra, sempre foi o que me conquista e me envolve numa canção. “In Between Days” é cheia de mistério, e existem várias teorias da inspiração desse clássico, desde ser simplesmente uma representação de um triângulo amoroso, até de brigas internas na banda. Pra mim, é uma letra extremamente humana e universal. Consegue conversar com todo mundo que começa a perceber a passagem do tempo, o quanto a gente às vezes não dá a atenção necessária a pessoa que amamos e a esperança, que continua levando a gente pra frente. Particularmente, eu amo o The Cure e como Robert Smith consegue ser denso e tão leve ao mesmo tempo. Acredito que essa capacidade de navegar entre o leve e o profundo torna a canção atemporal.

Em qual situação você teve a intenção de gravá-la e por que?

Eu quis gravar “In Between Days” em um momento muito especial da minha vida, após me mudar para os Estados Unidos e iniciar o projeto “Saudades Tropicais”. Esse projeto é uma fusão das minhas experiências musicais e pessoais entre o Brasil e o exterior. Essa música, sua melancolia, a saudade imprimida nela, me pareceu a ponte perfeita entre esses dois mundos, tanto em termos de sonoridade quanto em termos de temática. A dualidade emocional presente na canção reflete bem o que eu estava sentindo naquele momento de transição.

Sua versão tem o quê de diferente, de seu?

Minha versão traz uma nova camada de interpretação, combinando o Smooth Jazz com elementos da música brasileira, como o Baião e o Maracatu. O arranjo foi pensado para trazer essa fusão cultural, algo que é muito presente no meu trabalho, unindo o jazz com ritmos brasileiros. Acho que isso dá uma nova textura à música, mantendo sua essência original, mas ao mesmo tempo transportando-a para um espaço sonoro mais introspectivo e tropical.

É correto dizer que este lançamento reforça o seu lado artístico entre Brasil-EUA?

Sim, com certeza! Esse lançamento é parte do projeto “Saudades Tropicais”, que justamente explora essa conexão entre as influências musicais dos dois países. Acredito que a fusão do Smooth Jazz, típico do cenário musical norte-americano, com ritmos brasileiros, mostra essa minha jornada artística entre Brasil e Estados Unidos. Essa música simboliza bem esse intercâmbio cultural que tem sido uma parte central da minha carreira recentemente. Mas não acho que para por aqui. Eu quero girar o mundo, misturar influências e culturas. 

Você tem alguma curiosidade sobre este lançamento que queira destacar?

Uma curiosidade interessante é que a gravação foi feita no Estúdio Medusa em São Paulo, com produção de Alexandre Elias, enquanto eu já estava morando nos Estados Unidos. Foi um processo colaborativo a distância, que só reforçou o espírito do projeto, que é essa mistura de saudade e novas descobertas. Além disso, a direção vocal foi feita por Estela Paixão, uma grande parceira artística que tem estado comigo em vários projetos, e que traz uma força única para as minhas interpretações.

Respostas de Monica Casagrande

Disponível na playlist “Brasil Sem Fronteiras…”

Uma sátira sobre a dissonância cognitiva sem as clássicas amarras do samba; é esta uma boa descrição sobre nova música de Michel Tasky

Michel, qual a melhor sinopse desta música?

“Dissonância Cognitiva” tem uma letra repleta de exemplos de gente que pensa de uma forma e tem suas ações contradizendo seus pensamentos. Trata-se também de uma reflexão sobre a “síndrome da barata que vota no inseticida”. Nos últimos anos, tenho visto muita gente com distopia de si mesmo, resultado de um mundo de fakenews cada vez mais organizado.

Na real, acho que todos nós convivemos com algum nível de dissonância cognitiva, então a idéia da música não é julgar e sim brincar com esta condição humana quase universal e relativizar nossas contradições

A letra faz várias referências e me parece uma sátira. Estou certo?

Totalmente. Trata-se de uma sátira sim, porém com exemplos que infelizmente representam o nosso mundo atual. Num universo onde o acesso à informação é infinito, só dá para ser feliz tendo um nível razoável de alienação. Ou seja, não ter princípios super rígidos é uma caminho para a felicidade. E vamos combinar que brincar com tudo isso ajuda (e muito) a encontrar a paz.

A música busca a junção do samba com outras sonoridades?

O arranjo do Itamar Assiere é luxuoso. Traz até influências barrocas e momentos de música erudita dentro do arranjo, contribuindo assim para uma ruptura com a sonoridade tradicional do samba e também para uma abertura da mente para além do óbvio. Afinal esta música é sobre isso mesmo.

Qual a proposta do seu novo álbum, ao qual esta música faz parte?

“Alma Apressada” é um álbum que viaja desde a minha infância na Bélgica até a minha vida adulta quando me apaixonei pelo Rio de Janeiro e que termina em Lisboa onde moro atualmente. Neste álbum, conto minhas histórias sentimentais nem um pouco ortodoxas, esta paixão quase viciante pelo Rio de Janeiro e minha transformação de belga nativo em carioca convicto.

Estou também refletindo neste álbum sobre o tempo que passa, o efêmero da beleza, do tesão e da “idade”, terminando com uma música sobre a chegada aos sessenta que foi um choque emocional intenso para mim.

Há alguma curiosidade que você julgue importante destacar sobre este lançamento?

Este é o meu quarto álbum, mas ele é de longe o mais intimista. Sendo 100% autoral, as canções vieram num prazo de algumas semanas quase que psicografadas sempre pela manhã. Me reconheço em cada canção e nunca revelei tanto de mim num álbum.

“Alma Apressada” é a história de um belga nascido no subúrbio de Bruxelas que, por caminhos diversos, voltou para o seu lugar no Brasil e especialmente no Rio de Janeiro onde viveu intensamente por mais de 30 anos.

Respostas de Michel Tasky

Disponível na playlist “Brasil Sem Fronteiras…”

Rico Cortês, de 14 anos, eleva o alcance do pagode com o sucesso “Voz do Coração”, gravada com Thainná Marques

Rico, quem é este jovem músico?

Rico é um menino talentoso de 14 anos, que escreve suas próprias músicas desde os 10.

Qual a mensagem dela ao mundo?

Rico é autor de mais de 1 milhão de plays na plataformas com suas músicas autorais, e sua música Voz do Coração tem sido a maneira leve de questionar o preconceito ao estilo musical do pagode.

E como o clipe intensifica esta mensagem?

Esta música tem tanta relevância na carreira musical do Rico, que recebeu a maior nota do Norte Fluminense no edital da Lei Paulo Gustavo, sendo contemplada com um clipe pelo Governo Federal.

Qual o lugar desta música no pagode atual?

Essa música atravessou o continente, e o Rico regravou-a em um feat com o Grupo Tell a Tale, de Seul, Coreia.

Há alguma curiosidade sobre este lançamento que você queira destacar?

Hoje podemos afirmar que o Rico é exportador da nossa cultura para o Oriente!

Respostas de Otávio Côrtes, pai e produtor fonográfico de Rico Côrtes

Disponível na playlist “Brasil Sem Fronteiras…”

YVY MARAEY vai de R&B e ritmos brasileiros/africanos em “Coming Down”

Em resumo, o que é esta música?

A musica é sobre amor e o sentimento de sentir seguro com uma pessoa. E uma musica muito romântica.

Ela diz algo ao mundo e o que há em sua letra?

As letras são sobre o sentimento de sentir seguro no amor e também o sentimento de que gostaria de estar com a essa pessoa no momento.

Qual sua fonte de inspiração?

A minha inspiração vem de muitas direções, mas muitas vezes começo a escrever a partir de minhas próprias experiências. A natureza também é uma grande parte da minha inspiração. Gosto de passar muito tempo na natureza.

Musicalmente, como você a descreve?

A musica é uma mistura de R&B e ritmos brasileiros e africanos.

O que representa a capa da música?

A capa da musica representa o sentimento que eu estou descrevendo na musica, um sentimento de felicidade de sentir seguro.

Respostas de YVY MARAEY

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Fundador e editor da Arte Brasileira. Jornalista por formação e amor. Apaixonado pelo Brasil e por seus grandes artistas.