14 de julho de 2025

Lupa na Canção #43 – Coletânea de lançamentos da nova música brasileira

Muitas sugestões musicais chegam até nós, mas nem todas estarão aqui. Bem vindos ao Lupa na Canção!

Esta é uma lista de novidades lançadas recentemente, de diferentes temáticas e gêneros musicais. Dificilmente você verá no Lupa canções do mainstream. A ideia é apresentar com uma “lupa” coisas novas e alternativas aos grandes sucessos, afinal é este uma das missões da Revista.

É importante ressaltar que as posições são aleatórias, não indicando que uma seja melhor que a outra.

Nova música de Soulful Roots “conta a história de duas pessoas que se encontraram no tempo certo”, destacou Rogerio Gigo Marcondes Cesar

Qual a melhor sinopse dessa música?

“Coração Sereno” é uma canção sobre a plenitude de um amor tranquilo e maduro. Um dueto romântico que celebra o encontro entre duas almas que se reconhecem e se acolhem. A letra fala da paz que só o amor verdadeiro pode trazer, do aconchego que nasce da cumplicidade e da certeza de ter encontrado “o lar” em alguém. 

E em qual momento surgiu essa composição, o que a inspirou?

Essa composição nasceu da vontade de expressar um amor que não precisa de provas exageradas — um amor calmo, que floresce com o tempo e encontra serenidade na presença do outro. Essa letra foi inspirada na história real minha com a minha esposa, vivemos isso!

E a letra, o que especificamente ela diz?

A letra de “Coração Sereno” conta a história de duas pessoas que se encontraram no tempo certo. Cada verso é um testemunho de como o amor pode ser cura, porto seguro e destino. O casal se reconhece nas dores, nos silêncios e nas esperanças, formando uma união que não precisa de urgência, pois tem raízes profundas. É uma celebração da paz que só o amor verdadeiro oferece — sem pressa, sem medo e com a certeza de que esse encontro era pra acontecer.

Fale sobre o EP do qual essa música é uma das faixas.

“Coração Sereno” faz parte do EP “Luz da Paixão”, da Soulful Roots. O projeto reúne quatro músicas conectadas por um fio temático: o coração. Cada faixa retrata uma dimensão do amor romântico — do desejo à entrega, da dúvida à serenidade. Luz da Paixão celebra a força dos sentimentos, com arranjos emocionantes e duetos marcantes que revelam as várias faces do amor. Cada faixa é feita pra tocar fundo — com alma, com verdade e com muita emoção.

E quanto ao dueto vocal, qual seu comentário?

O dueto em “Coração Sereno” é o coração pulsante da música. Ele traz a troca real entre duas vozes que se completam, revelando a perspectiva de cada lado da relação. As harmonias são suaves, emocionantes e foram pensadas para transmitir cumplicidade. É como se cada verso fosse um abraço musical entre os dois — íntimo, verdadeiro, sereno. A união das vozes transforma a canção em algo maior: um testemunho vivo de um amor que encontrou o seu lugar no mundo.

Respondido por Rogerio Gigo Marcondes Cesar (Soulful Roots)

“É meio Beto Guedes, meio Beatles, meio João Gilberto”, disse Fernas sobre sua nova música, “Alegrias de Joana”

Fernas, qual a origem da música?

Eu costumo escrever a melodia das músicas antes das letras. Geralmente, fico cantarolando a melodia e o tema da canção vai aparecendo entre as palavras que saem da minha boca por acidente. Nessa música foi um pouco diferente, mas nem tanto: estava lendo “Perto do coração selvagem”, da Clarice, e nele tem um capítulo chamado “Alegrias de Joana”. Fiquei muito mexido pelo que li, peguei o violão e sai cantando e anotando as palavras que apareciam por cima de uma melodia que tinha escrito na mesma semana. Daí a letra saiu pronta em mais ou menos uns 30
minutos.

Qual ideia é trabalhada na letra e qual sua mensagem?

Acho que “Alegrias de Joana” é sobre um estado de presença que aprendi a acessar de vez em quando, pela música, pelas sessões de análise e pelo amor geral pelas coisas. Nos momentos raros em que eu consigo viver sem tanto medo da morte, sem tanta culpa de tudo, quando esse freio da neurose dá uma afrouxada parece que eu finalmente consigo enxergar a beleza plena das coisas, por menores que sejam. Então tem o banho em água doce, a porta da casa de alguém querido, alguns flashes de memória da infância também – tudo parece ter alguma unidade ou sentido que eu não notava antes.

Quais propostas musicais você traz na canção?

Essa música é meio Beto Guedes, meio Beatles, meio João Gilberto. Ela começa com um riff de violão de nylon, vai para uma levada um pouco mais rock quando entra a voz e depois aparece uma bossa nova no refrão, uma “mistureba” mesmo, gosto muito. O que dá unidade pra ela é o fato da gente ter tocado o instrumental base ao vivo (violão, bateria e baixo), todo gravado ao mesmo tempo na fita analógica, só a voz e o órgão foram gravados depois. Por ser tudo ao vivo e não ter como editar a fita, tem uns errinhos aqui e ali, mas em compensação a gente ganhou uma unidade de performance que seria difícil de replicar se a gente tivesse gravado os instrumentos separados, até porque gravamos sem metrônomo. E de
quebra, aprendi a amar o erro.

Fale sobre o álbum do qual esta música é uma das faixas.

“Terra d’água” é um álbum de 9 faixas feito por muitas mãos, mas que leva meu nome por ser eu o autor das composições. O disco foi todo gravado em sessões ao vivo e em fita analógica no estúdio Forest Lab (RJ) pelo Lisciel Franco, nome mais relevante do Brasil no que diz respeito a gravação analógica. É às vezes um diário de bordo das minhas sessões de análise, do meu reencontro com o prazer pleno de fazer música e dos vários momentos de ternura e beleza que vivi nos últimos anos. Sinto que reaprendi a compor fazendo esse disco.

É também um álbum de canção brasileira inspirado por Gilberto Gil, Joyce Moreno, João Bosco, Jorge Mautner, Jards Macalé e uma porrada de nomes que jamais caberiam aqui (e vários começam com “J”, vai entender…).

E, enfim, quem é o cantor e compositor Fernas?

Sou um cantor e compositor de 29 anos que não consegue largar o osso da música desde que se entende por gente – é realmente a paixão da minha vida. Esse é o meu primeiro álbum solo e o segundo da minha carreira se contar o que fiz com minha banda anterior. Não me vejo parando de fazer discos, mas espero fazer pra cada vez mais gente. No fim das contas, meu sonho é só esse.

Respostas de Fernas

Disponível na playlist “Brasil Sem Fronteiras…”

“Feitiço Carioca” – Uma bossa de Matheus Fonseca que “facilmente seria cantada por Alcione, Caetano Veloso e Emílio Santiago”

Qual a origem da música e o que ela diz? 

“Feitiço Carioca” é uma bossa nova sobre amores inacabados. Fala da perspectiva de quem não consegue aceitar o fim e deixa a porta entreaberta, na esperança de que o outro volte a entrar. A letra é a narração dolorosa da longa espera de alguém que precisa ouvir, de forma clara, que acabou — que só assim consegue seguir em frente. Escrevi essa música para um grande amigo, Daniel Bitran, saxofonista que gravou a faixa comigo. Na época, ele ainda vivia o luto de uma relação sem desfecho, que o acompanhava há dois anos. Passamos uma madrugada conversando sobre a dificuldade de virar a página, sobre como recomeçar mesmo quando o coração insiste em ficar.

Dias depois, a canção simplesmente surgiu. Como um chamado, quase um sussurro: “Eu preciso fechar essa porta, é melhor assim.”  Letra e melodia vieram juntas, num só fluxo. Só precisei escutar e seguir o que a música pedia. Em menos de uma hora, estava pronta — como se fosse uma carta escrita às pressas, com palavras que vinham com vontade própria. Não tem refrão, nem fórmulas. Só reflexões sinceras e profundas.

Musicalmente, o que você explorou na música? 

O que eu quis trazer musicalmente foi uma produção minimalista — violão, baixo, bateria e sax — que sustentasse a canção sem tirar o protagonismo da poesia e da narrativa, que são o coração da música. O sax, em especial, vai contornando a voz com delicadeza, como se revelasse novas camadas da história nas entrelinhas. Pra mim, isso acabou sendo a cereja do bolo.

Há também uma mudança de tonalidade na parte final da música — justamente quando o eu lírico decide seguir em frente. Esse momento é simbolicamente forte, conduzindo a canção para uma tonalidade maior, como quem busca um final feliz. 

 É possível comparar essa música com outras de outros artistas? 

Acho que é uma bossa nova que poderia facilmente ser cantada por Alcione, Caetano Veloso ou pelo eterno Emílio Santiago, modéstia a parte. Carrega essa alma da canção brasileira — a tradição da letra poética e da história bem narrativa, que se transforma em imagens na cabeça de quem ouve. Canções como Perfume Siamês”, do Altay Veloso, ou “Trocando em Miúdos”, do Chico Buarque, são grandes referências pra mim nesse tipo de abordagem composicional: íntima, delicada e profundamente visual.

Hoje em dia, artistas como Tó Brandileone, Ayrton Montarroyos, Martins e Rubel continuam trazendo essa sensibilidade, cantando histórias que tocam fundo. Fazer parte dessa geração inspirada pela MPB é, pra mim, um privilégio.

“Feitiço Carioca” é parte do seu novo álbum, fale sobre ele. 

“Feitiço Carioca” é um dos singles de “Latitude Zero (Vol. 2)”, meu novo álbum previsto para setembro de 2025. Depois de viver alguns anos no Equador, gravei um disco dividido em dois volumes, inspirados nos dois hemisférios do planeta, com a linha do Equador como símbolo de equilíbrio. O primeiro volume, lançado no ano passado, foi um mergulho nas minhas raízes brasileiras, com ritmos como ijexá, baião, samba e bossa nova.

Já o segundo volume abre espaço para novas influências e paisagens sonoras: boleros em espanhol, um samba-flamenco, bossas fusionadas e uma costura jazzística que conecta tudo. É uma MPB com espírito livre, que reflete as transformações da minha música ao longo de tantos caminhos percorridos pela América Latina e Europa nesses 7 anos.

Por fim, há algo de curioso que vocês queiram destacar?

Acho que gravar um disco brasileiro longe do Brasil transforma a percepção da música, e tenho aprendido muito com isso ultimamente. A distância cria um olhar de saudade e, ao mesmo tempo, de experimentação, um diálogo entre a memória das raízes e as descobertas do novo, que se traduz na sonoridade e nas letras. 

O “Latitude Zero” foi gravado em Quito, literalmente sobre a linha do equador, e a quase 3 mil metros de altitude. Pensar a música brasileira sob essas condições é quase um ato de rebeldia, e o resultado das colaborações artísticas que esse disco traz com Jorge Pardo, Cuarteto Latinoamericano, Ran Blake, Jazz The Roots, etc, mostram o poder da música sem fronteiras, como ponte de conexão entre culturas. Gosto de pensar minha música como uma alma livre, por isso me mantenho como um artista independente, e comprometido em transmitir minha mensagem de coração aberto.

Respostas de Matheus Fonseca

Disponível na playlist “MPB – O que há de novo?”

“Ele esqueceu um cordão de prata na sala só para voltar no outro dia”, é esse o ambiente da nova música R&B de Mesaque

Qual a história que você retrata na letra?

“Cordão de Prata” retrata a saudade, o desejo de estar junto à pessoa amada. O acessório foi esquecido, propositalmente, por mim no sofá da pessoa por quem tenho uma tara,  apenas como um subterfúgio para retornar à sua casa e matar a saudade que sinto.

Qual a origem da música?

A origem da música surgiu enquanto eu ouvia o álbum “Caju” da Liniker. O que me inspirou a escrever algo como um poema e que eu pudesse transformar em música.

É possível comparar essa música com outras de outros artistas?

Sim, no Brasil existem muitas músicas semelhantes à “Cordão de Prata”, músicas que falam sobre saudade e trazem mais do R&B. Podemos encontrar, por exemplo, em faixas de artistas como: Glória Groove, Liniker, Belo e outros.

Qual a proposta do videoclipe?

O vídeo clipe traz referências do dia em que compus a canção “Cordão de Prata”. Eu bebia vinho, dançava e me divertia com os acordes do violão. Aluguei um telefone antigo para utilizar durante a gravação, deixando claro que estou numa chamada desde o início da música. Eu queria trazer algo relacionado aos anos 90, por isso o telefone antigo e partes do clipe em preto e branco.

Por fim, há algo de curioso que vocês queiram destacar?

Eu não tinha o hábito de compor e nem me agradava com as coisas que eu escrevia, mas “Cordão de Prata” superou as minhas expectativas e é uma canção que adoro cantar.

Respostas de Mesaque

Disponível na playlist “Brasil Sem Fronteiras…”

Gil Félix divulga a atualidade do país africano Burkina Faso em canção que une música brasileira, afrobeat e pop

Qual a origem de “Bukina B”, o que a inspirou?

“Bukina B” é uma fusão de música brasileira, afrobeat e pop, incorporando o fluxo musical transatlântico e o intercâmbio atual. Inspirada pelos recentes acontecimentos políticos em Burkina Faso, onde a situação da população está mudando rapidamente devido às novas prioridades da liderança do país, a música “Bukina B” me inspira. Vejo como nossos ancestrais e precursores africanos, como Nelson Mandela e Thomas Sankara, ainda estão presentes neles. A música é, portanto, uma homenagem a todos os trabalhadores que se levantam todas as manhãs, sacodem a poeira e continuam a luta e o trabalho árduo:

”Quem procura encontra, Quem trabalha levanta, Cedo para a labuta”

”Bukina B” é uma das faixas do EP “América Abubaka II”, fale sobre esse trabalho e se as demais faixas tem ou não proximidade com esta.

O EP “América Abubaka II” foi gravado em Estocolmo pelo renomado internacionalmente Andres Unge, juntamente com músicos suecos renomados, e é uma continuação do meu último álbum, “Ubalafon”, de 2024, e da minha música “Kanga Musa”, de 2021. Ambos carregam uma mensagem pan-africana, e o EP em si conta a história do príncipe Abubakari II, do Mali, que navegou para o oeste com sua armada e nunca mais retornou. Pesquisas recentes sugerem que ele fundou assentamentos na América muito antes da chegada dos europeus.

Por fim, conte-nos quem é o cantor e compositor Gil Félix. 

Sou artista e compositora de Salvador, Bahia, e trabalho como artista internacional e independente há 25 anos. Conheci o Afropop em Paris nos anos 80, que ainda é minha maior influência musical. Desde 2020, moro em Estocolmo, onde formei uma banda tricontinental e nos apresentamos regularmente. Minha criatividade segue a trajetória do impacto da África Ocidental na história brasileira e mundial, e tento desenterrar um pouco da história oculta e trazê-la de volta à luz, enquanto faço as pessoas dançarem e aproveitarem a vida.

Respostas de Gil Félix

Disponível na playlist “Brasil Sem Fronteiras…”

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