6 de outubro de 2024
Lupa na Canção

Lupa na Canção #edição25

Muitas sugestões musicais chegam até nós, mas nem todas estarão aqui. Esta é uma lista de novidades mensais, com músicas novas, quentes, diferentes. A seleção é eclética, serve para todos os gostos. É importante ressaltar: que as posições são aleatórias, não indicando que uma seja melhor que a outra; essa lista é atualizada diariamente, até o encerramento do mês.

Os “genocídios passivos” plantados por tiranos são narrados por Leo Maia em rock e metal progressivo

Qual seria o resumo ideal desta música?

“Passive Genocide” é um conto sobre decadência moral de um tumulto político. Com vocais abrangendo 4 oitavas, ritmos complexos e violinos etéreos, esta mistura de rock e metal progressivo explora o lado escuro da natureza humana. A letra aborda problemas sistemáticos que atormentam a sociedade por meio de uma experiência musical épica. Uma música que sem dúvidas desperta conversas significativas!

O que dizem os versos e qual sua mensagem?

Os versos contam a história de um tirano mascarado ganancioso que utiliza de mentiras constantes para manipular uma população pobre, levando-a à sua própria cova. A letra trabalha com metáforas de plantio, onde fazendas são utilizadas para semear almas para colher riquezas. Negligência, manipulação e mentiras gerando covas massivas configuram a principal imagem de um genocidio passivo que a música aborda como forma de crítica política.

O que gerou a composição, o que inspirou esta canção?

Essa música foi diretamente inspirada em eventos reais. Mais precisamente, a abordagem política da COVID-19 no Brasil e em outras partes do mundo. Eu fiquei muito impactado quando vi a foto das covas em massa a céu aberto em Manaus, resultantes de mentiras e negligência, que eu interpretei diretamente como uma grande fazenda onde o pobre pagou a conta para o rico se manter rico. Ficou nítida para mim a ideia de plantar almas para colher riquezas, que é a premissa principal da música.

Musicalmente, como você descreve “Passive Genocide”?

A música é uma jornada épica que trabalha com elementos progressivos para construir uma dinâmica de uma verdadeira montanha russa de energia. Com diversas seções calmas e pesadas intercaladas, utilizando de transições meticulosas, o instrumental pouco a pouco constrói uma expectativa para um grande clímax no final. A linha vocal começando muito grave e terminando muito agudo e a cereja do bolo desta jornada.

A fórmula muda a cada compasso gerando imprevisibilidade e instabilidade enquanto a música ainda sim se mantém coesa e fácil de digerir através da melodia forte, utilizando muito de coerência de motivo. Os violinos da artista convidada Irene Senent junto com a cama de mellotron gera um ambiente misterioso e dramático que contrasta com os sintetizadores e guitarras pesadas de Jeff Black (Glyph, Gatekeeper). Finalmente, Rod Rodrigues contribui com um solo de guitarra virtuoso com uma melodia muito bem composta que contrasta com o solo lento inspirado em Pink Floyd que eu (Leo Maia) performo com minha single coil.

Qual a simbologia da capa do single?

A capa foi diretamente inspirada nas fotos das covas improvisadas massivas a céu aberto em Manaus durante o COVID-19. A intenção era utilizar essa referência de uma forma psicodélica digna de capa de progressivo. A capa mostra uma fazenda de almas, com cabeças representando pessoas enterradas plantadas em um vale que se estende até o infinito. Acima disto, encontra-se um rosto poderoso responsável por isso tudo. Este rosto possui uma máscara se rachando, representando o tirano manipulador.

Há alguma história ou curiosidade sobre este lançamento que você queira destacar?

Acho interessante como cada pessoa que lê a letra interpreta de uma forma diferente. Já ouvi pessoas perguntando se era uma crítica a Israel, outras perguntando se era uma crítica a Donald Trump ou Jair Bolsonaro, além de outros líderes políticos. Isso apenas mostra que a música é atemporal. Embora inspirada nos eventos da COVID-19, a figura de um tirano manipulador levando pobres à própria morte em troca de enriquecimento infelizmente permeia nossa sociedade além de todas as fronteiras de forma atemporal, sempre existiu e sempre irá existir.

Respostas de Leo Maia

Disponível nas playlists “Brasil Sem Fronteiras…”, “Novidades do Rock e do Pop Rock Nacional” e “MBIA – Música Brasileira Indefinida e Alternativa”

A “infantilidade masculina” é atacada poeticamente no novo single multifacetado de Nanná Millano

Apresente esta música como se fosse para um amigo, antes dele ouvi-la. 

“Você Quer Tudo” é um groove tropical bailante, que parece doce, mas contém acidez e não passa pano!

Qual a crítica da letra, e qual sua mensagem ao mundo? 

É sobre a sensação de onipotência de uma geração de homens que têm a impressão de ter tudo à um clique, inclusive mulheres em aplicativos, e por isso não conseguem se comprometer. Ficam incapazes de fazer uma escolha, com medo de perder alguma coisa. Quando você faz uma escolha, você sempre abre mão de alguma coisa. Mas num patriarcado capitalista, que é uma fábrica de ilusões, o cara tem a sensação de que pode ter tudo, mas ninguém pode ter tudo… Tem que arriscar, ter coragem de escolher e bancar a decisão. Depois dá pra mudar a rota, mas sem escolher você não sai do lugar.

Musicalmente, o que é “Você Quer Tudo”? 

A música vai mudando de gênero, de Salsa vira Bossa Nova, que vira Pagode, que vira Jazz, vira Samba e termina num Carnaval. Eu queria traduzir a indecisão no som, colocar um pouco de tudo, de um jeito que a própria música não consegue se decidir sobre o que ela é. E pra isso muitos musicistas contribuíram no arranjo pra que ele pudesse passar por todos os gêneros e ter uma coerência sonora, foi um processo divertido. Eu gravei uma faixa de voz guia onde eu ia falando a deixa pros músicos pra eles irem mudando de gêneros e eu fiquei muito feliz com o resultado, que no final mistura tudo e vira essa marchinha de carnaval tropicalista.

Qual a ligação deste lançamento com o “Brasil-França”? O que se pode dizer destes dois países quanto á esta música? 

As faixas do álbum, “Can’t Translate Saudade”, vão se interligando narrando uma história de amor entre uma brasileira e um francês e passando pelas emoções e desafios de uma relação à distância. Essa música fala de desafios da relação, já é o ponto de conflito da história, quando nem tudo são flores e é preciso ajustes pra poder seguir construindo juntos. O álbum toca no ponto de buscar construir um relacionamento saudável, consciente e positivo, onde o amor possa fluir, vingar!

O que esta música diz sobre o álbum “Can’t Translate Saudade” da qual é uma das faixas? 

Ela representa bem o álbum porque reúne sonoramente múltiplas referências que eu tive na minha formação musical, como Caetano Veloso, Gal Costa, Vinícius de Moraes, Tom Jobim, Novos Baianos e também do pagode dos anos 90 que foi super relevante pra minha geração. Foi muito bom poder reunir um pouquinho de tudo isso que faz parte da minha identidade musical e poder fazer algo criativo, uma brincadeira, dando leveza pro tema. O álbum navega entre essas dualidades de um lado solares, românticas, leves, de outro lado lunares, xamânicas, profundas. Esse final que se repete várias vezes e que é como um mantra, evocando algo, é um elemento bem presente no álbum. 

Qual a proposta da capa do single? 

Ela remete a um trecho da música que diz “Acostumado a ser Maomé, mas eu não sou montanha, apesar de ser bastante areia pra sua caçamba”, ou seja, é muita areia pro seu caminhãozinho. E a imagem também fala dessa coisa de não sair do lugar quando você não faz escolhas, fica atolado pela ganância frente a vida. Também acho divertido ilustrar isso usando brinquedos clássicos da infância, porque foi quando a gente absorveu essas ideias que definem dinâmicas que gênero que levam a esses entraves de relacionamento na vida adulta.   

Respostas de Nanná Millano

Disponível nas plyalists “Brasil Sem Fronteiras…” e “MPB – O que há de novo?”

Julia Piedade faz uma leitura “cinematográfica e moderna da bossa nova” em single que retrata sua conexão com o que é elevado

Em linhas gerais, o que é esta música? 

Esta música representa o acordar espiritual, a conexão com a intuição à qual todos temos acesso quando olhamos para dentro. 

O que a letra diz?

A letra dessa música é muito importante pra mim porque ela fala do momento no qual eu me reconectei comigo mesma. Depois de muitos anos vivendo no piloto automático, eu finalmente parei de me dobrar ao ritmo desenfreado do mundo, consegui me aquietar e me surpreendi com os efeitos disso em mim: com os olhos fechados, na solidão e no silêncio eu finalmente me vi de verdade. A letra de “Olhos Fechados” retrata este instante de reconexão.

Qual a fonte de inspiração desta música?

A clareza que o estado meditativo pode trazer pra gente, a sensação de mergulhar profundamente quando paramos de nos deixar levar por pensamentos parasitas e pela mesmice do cotidiano.

Qual a ideia da capa do single?

Essa música é a faixa foco do álbum, logo não tem capa própria. A capa do álbum se inspirou na carta do Tarot “Os Enamorados”, que carrega um forte simbolismo em torno da dualidade e da intuição.

Musicalmente, como você a descreve?

Eu descreveria essa música como uma releitura cinematográfica e moderna da bossa nova, explorando a dicotomia entre os arranjos sinfônicos e os elementos eletrônicos.

Respostas de Julia Piedade

Disponível na playlist “Brasil Sem Fronteiras…”

Suposto fornecedor árabe de Chico Buarque é desejado por Paulo Araujo no choro “O Traficante das Canções”

O que você canta nos versos?

Essa é uma canção que chamamos de metacanção. Ela fala sobre o próprio ato de compor. No caso, é criado um cenário em que eu, o compositor, busco um traficante, um fornecedor de canções para comprar uma canção que seja extraordinária, assumindo a sua autoria. É um imaginário diálogo com o Chico Buarque de Holanda, pedindo algumas dicas. Como a canção diz, é a busca de uma canção que seja única, complexa e ao mesmo tempo cativante. Bem pretensiosa, não é? [RISOS]

Como e porque esta canção surgiu?

Essa é a pergunta crucial pra explicar a canção. Ela surgiu a partir de um vídeo do Chico Buarque, que está no documentário “Desconstrução”, de 2006, que mostra os bastidores do álbum “Carioca”. O Chico, que é um contador de histórias e de fina ironia, brinca dizendo que compra canções de um árabe chamado Ahmed, e detalha como ele negocia. O patrulhamento ideológico que se contrapõe às ideias políticas do Chico Buarque distorceu o assunto, tomou como “verdade vazada” e espalhou que Chico Buarque era um embuste. Então eu resolvi fazer essa homenagem, afirmando que se esse árabe existe, eu também quero comprar uma canção no mesmo nível.

Musicalmente, o que é “Traficante das Canções”?

Bem, musicalmente falando “O traficante das canções” é um choro. Não tão tradicional, porque existem algumas alterações que dão modernidade. O Choro geralmente é dividido em três partes, e esse é mais livre. Mas de todos os gêneros musicais, acho o Choro o mais autenticamente brasileiro, e me identifico muito. O gênero ainda, pela quantidade de notas que geralmente tem, é bem propenso a textos maiores, e consequentemente quando a história a ser contada é extensa, facilita, né? Vale destacar que estou muitíssimo bem acompanhado nos arranjos e na instrumentação: Swammi Jr. Fez os arranjos e toca Violão, Requinte e Baixo e Alexandre Ribeiro toca Clarinete e Clarone. São dois artistas sensacionais.     

Qual a trajetória desta música? Ela venceu um prêmio internacional, inclusive.

Essa canção foi composta para fazer parte de meu segundo álbum autoral de 2021, e é a faixa título. Antes de lançar, apareceu a oportunidade de inscrevê-la no IV Prêmio Ibermúsicas de Criação de Canções. Ibermúsicas é um programa de cooperação internacional dedicado às artes musicais ibero-americana que congrega 14 países sendo 12 da américa além de Portugal e Espanha. Para minha surpresa, em um evento com 1111 canções inscritas, ela foi premiada pelo Brasil. Fiquei extremamente feliz, pois é um reconhecimento de que estamos fazendo algo que tem uma importância estética, independente do alcance no que se refere à divulgação, que aí já é outra novela.     

Há alguma curiosidade sobre esta música que você queira destacar?

Bom, existe uma lenda de o Chico Buarque ouviu a canção, mas não sei detalhes sobre isso. Somente me repassaram essa informação, sem saber se ele até aprovou, fez careta ou foi reclamar com o árabe… [RISOS]

Respostas de Paulo Araujo

Disponível na playlist “MPB – O que há de novo?”

Geopolítica e sedução; Luiz Amargo canta um casal com conversas atípicas

Com quais palavras você pode apresentar este lançamento?
“Mapa da Mina” é uma cartografia surreal que trafega pela Vanguarda Paulista, Tropicália, Samba Rock e Disco Music. Fazendo referência a expressão popular que significa algo como ”caminho para o sucesso’‘, a canção é uma mistura sobre relacionamentos, flertes e geopolítica, como uma conversa de bar em que tudo se mescla em uma névoa de embriaguez. Tudo isso é acompanhado de uma batida dançante de disco music e melodias grudentas.

O que os versos dizem e qual sua mensagem?
Pode-se dizer que os versos retratam um casal que está se conhecendo e que discute a ascensão da China, ao mesmo tempo que tenta navegar uma situação de sedução, tendo a situação econômica brasileira e as incertezas geopolíticas atuais como cenário. A letra é irreverente e cheia de trocadilhos, brincando com o clichê ”boy meets girl” e fazendo várias alusões ao tema geopolítico. A principal ideia da canção é fazer um paralelo entre os dramas da política mundial e as trocas afetivas do dia a dia.

Qual a fonte de inspiração de “Mapa da Mina”?
A fonte de inspiração foi aquela clássica conversa de bar entre amigos em que se misturam assuntos da vida política do país e da vida romântica de cada um. Percebi como essas coisas muitas vezes são discutidas em termos análogos. Como a ascensão da China e todas as questões que isso suscita tem sido um assunto constante nessas conversas, misturei isso com a situação de encontro romântico e sedução, outro tema frequente dos bares da juventude, e que, como a política, também é um campo marcado pela incerteza e por um certo medo, mas também uma excitação frente ao que pode acontecer.

O que esta música diz sobre a música brasileira e mundial?
Esta canção é uma mistura de estilos bem característica da Música Popular Brasileira. A batida de disco music e os sintetizadores remetem à música pop estrangeira oitentista, já a letra e o aspecto rítmico do violão são bastante brasileiros. Ela também fala de um assunto global de maneira irreverente e o sobrepõe a assuntos locais.

Como o clipe nos proporciona a visão ampliada da música?
O clipe enriquece as cenas que a música retrata, contribuindo para o tom irreverente da coisa toda. A repetição de takes cria um aspecto meio farsesco, tratando de um assunto sério com humor e mostrando uma espécie de comédia de erros entre o casal. Também retrata a questão geopolítica através dos soldadinhos de brinquedo e da leitura de um livro que o casal compartilha e que, não por acaso, se chama ”A História do Medo no Ocidente”. 

Respostas de Luiz Amargo

Disponível na playlist “Brasil Sem Fronteiras…”

administrator
Fundador e editor da Arte Brasileira. Jornalista por formação e amor. Apaixonado pelo Brasil e por seus grandes artistas.