Estreou na Amazon Prime o filme “Um ano inesquecível – Outono”, dirigido por Lázaro Ramos. Com ele, nasce uma atriz, com seus pés nordestinos pisando o chão de um musical com alcance internacional, no ritmo do Samba de Coco, representando e expressando, em essência, a região Nordeste desse tão nosso Brasil. Ao mundo, Calu Manhães e, com ela, a afirmação de uma identidade sonora que encanta a vida no girar das saias que colorem a luta, estampas que sambam sorridentes e fortes, em corpos que cantam com voz de peito e coração aberto a labuta diária, sobre o fazer de gente trabalhadora e resistente, que cuida de pessoas que, como a Maria descrita por Milton Nascimento, misturam a dor e a alegria, carregando na poesia do seu cantar a força do seu viver e o pertencimento ao seu lugar.
Calu também é Maria, Maria também é Calu. Como ela bem canta em sua música “Parte de mim”, disponível no youtube. “Maria é sábia, Calu sabiá. Os cantos de luz clareiam Maria. Cantos de força, Calu vem apresentar.” Ambas coexistem no ser múltiplo e de talento multipotencial de Calu Manhães. Diretamente das manhãs inspiradoras da Chapada Diamantina, no interior da Bahia. Uma menina de vilarejos tão pequeninos que cresceu banhada por cachoeiras tão procuradas pelos turistas do mundo inteiro que buscam contato com a Natureza e com a Arte. Ela nasceu no Vale do Capão (distrito de Palmeiras) e se firmou em Igatu (distrito de Andaraí).
E o Nordeste cantado pela nordestina nas telinhas da Prime Vídeo é uma composição do nordestino Nilton Júnior, do grupo Pandeiro do Mestre, em homenagem à Ataulfo Alves. “Eu de saudade chorei, hoje nada mais importa, vou seguindo pela vida nessa estrada sem volta. Só nunca vou abrir mão de ouvir meu coração.” E quando “bate no peito o tambor” é impossível não se arrepiar, é custoso segurar as lágrimas que jorram da felicidade e do pertencimento, como as fontes cristalinas que banham os nossos sertões de uma esperança verbal em dias melhores, em amanhães repletos de comida e moradia para essa gente que “ri quando deve chorar” e que “não vive, apenas aguenta”. Parafraseando Milton outra vez, para chegar à pergunta de Calu na música de sua autoria: “Quantas Marias caladas, Marias intocadas, Marias silenciadas, quantas Marias habitam em você?”
“Aqui cada um é mais que um” (Gui Amabis). E Calu Manhães é bem mais que Isabel nesse filme. Ela é cada um de nós! E o canto que Calu apresenta ilumina todas as Marias. Se você é do país Nordeste e não assistiu ainda, caminha! Que o elenco ainda conta com a ilustre presença da baiana Larissa Luz e também marca a estreia da cantora Iza como atriz. Contracenando com Lulu Santos e outros grandes nomes da cena brasileira da música, do cinema e da televisão, como os protagonistas do enredo, Gabz e Lucas Letto.
Perde tempo não, meu povo! É sério! Corre pra assistir.
Sobre a colunista: Fernanda Lucena é colunista da Revista Arte Brasileira, Assessora de Comunicação do Grupo de Percussão da UFBA e Produtora Cultural da equipe Tabuleiro Produções. Bacharela Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia (UFOB), pós graduada em Marketing Digital (UNOPAR), em Produção Cultural, Arte e Entretenimento (FACUMINAS), cursando MBA em Direção de Arte para Propaganda, TV e Vídeo (FACUMINAS).
Crédito da foto de capa: Rodrigo Montenegro @panoramicafilmes