
O projeto Aurora Boreal, de Erika Silva, entona 11 faixas que passeiam por vários ritmos, e com poesias afinadas. O disco tem a participação de vários instrumentos, violão, guitarra, sintetizadores, ukulele, gaita, cajón e escaleta, todos gravados e produzidos pela própria compositora.
O projeto já entregou ao público outros trabalhos. Quando Erika e Cleiton Gomes, em 2015, decidiram tirar suas ideias do papel, veio o lançamento do EP UMA COR. No ano seguinte, surgiu o EP NUNCA MAIS, PRA SEMPRE E ATÉ MAIS. Enfim, o projeto Aurora Boreal lança PEDAÇOS, um álbum completo e cheio de vida, poesia e aromas.
Abaixo, confira na íntegra a entrevista que fizemos com Aurora.
Ouvindo o álbum, percebe-se muita poesia, e sentimentos em todas as faixas. Falem um pouco sobre isso.
Posso dizer que devo parte desse lado poético ou sentimental aos livros do curso de Letras, ao meu sol em escorpião (risos) ou à minha maneira de olhar pra coisas do cotidiano, dos relacionamentos etc. e achar que tudo pode ser musicado. Parece um pouco com a visão do personagem do Mark Ruffalo no filme MESMO SE NADA DER CERTO, quando ele defende que qualquer cena banal se enche de significado com música. É bem por aí. Eu componho desde os 12 anos e isso virou meio que uma terapia dentro dessa correria de trabalho, casa, estudos…Talvez eu tente passar pra quem está ouvindo um pouco do que senti ou do que penso sobre determinada situação que qualquer um de nós poderia viver – acho que música tem a ver com identificação. Se eu puder fazer isso de uma maneira minimamente satisfatória, eu já fico bem contente rs.
Ainda nessa pergunta, qual a mensagem que vocês pretendem passar com as músicas de PEDAÇOS?
Gosto muito de um livro chamado AO NORTE DE MIM MESMO, do Gabito Nunes. O enredo conta com uma passagem maravilhosa que é fonte de inspiração pro que eu pretendo fazer com PEDAÇOS ou com qualquer outro trabalho que eu venha a produzir…diz mais ou menos assim “as pessoas me perguntam onde quero chegar com isso, com meu parco estúdio alojado dentro do meu quarto, lá onde componho e gravo singelos rocks de amor […] Não importa…são minhas canções, meu sangue jorrando em ondas sonoras…Eu só quero cantá-las…fazer todos escutarem de qualquer lar, em qualquer conexão”. É meio assim pra mim. E penso que a Internet viabilize isso da maneira ideal! A mensagem é meio o que falei lá atrás – escrever sobre coisas que a gente vive – nossas perdas, nossas pisadas de bola, nossos acertos, nossos vínculos… – daí tentar cantar e tocar isso da melhor forma que eu puder.
Pelo o que vi, PEDAÇOS é uma junção da identidade musical e poética de vocês dois, não é?
PEDAÇOS é um disco solo, em sua essência. Escrevi todas as letras e fiz todos os arranjos. Tive a participação especial de meu ex-parceiro musical, Cleiton Gomes, na faixa PRA GENTE CANTAR, cantando uma das estrofes. Ele também fez a arte do disco. Todas as outras canções foram gravadas e produzidas apenas por mim.
Além de vocês dois, quem mais participou das gravações e produção do álbum?
Como eu disse, gravei todos os instrumentos e produzi todas as faixas…
Como vocês diriam que é a musicalidade de PEDAÇOS?
Bom, se a gente pensar em uma classificação de gênero musical, eu acho que fica entre o folk e a MPB. Algumas faixas expressam isso de uma maneira mais clara, como DESCANSEI NO AMOR, que traz uma afinação da Joni Mitchell ou de viola caipira, que me agrada bastante. Algumas sonoridades podem lembrar um pouco umas coisas meio indie que sempre ouço, mas seria um erro meu dizer que me aproximo dessas referências em termos sonoros – falo de bandas como Cage the Elephant, Keane ou Elbow. MINHA CASA já tem uma coisa mais “violão e barzinho”, eu diria. Não sei…Na verdade, eu escuto de tudo. Costumo dizer que vou de Diana Krall a forró e faço isso de mente aberta. Não sei especificar exatamente a musicalidade do disco ou do projeto Aurora Boreal, mas trago coisas de vertentes variadas e tento trabalhar em melodias e harmonias que passeiam por essa diversidade também.
Tem alguma história ou curiosidade interessante que envolva o trabalho?
PEDAÇOS é um disco de gratidão. Reflete momentos meio conturbados desse ano de 2018 – que envolve desde uma cirurgia às pressas até uma apresentação acadêmica em Londres. Ele é fruto da correria de uma professora universitária que tenta usar a música como válvula de escape e como forma de se expressar melhor. Não sei se é curioso ou interessante dizer isso, mas sei que é importante ratificar o quanto sou grata por tudo que resultou no disco.