Depois de dois anos do lançamento do disco de estreia da Música de Selvagem, a banda agora aposta em outras roupagens para um novo álbum, intitulado VOLUME ÚNICO. A primeira diferença que se nota, certamente é a questão de que o trabalho anterior era totalmente composto por músicas instrumentais, ao contrário de VOLUME ÚNICO, que é feito por canções.
Mas o disco não foi feito somente pelo grupo (formado por Arthur Decloedt (contrabaixo), Filipe Nader (saxofones alto e barítono), Oscar Ferreira (sax barítono), Amilcar Rodrigues (trompete e eufônio) e Guilherme Marques (bateria), como também por outros compositores e intérpretes, Tim Bernardes (O Terno), Pedro Pastoriz (Mustache e os Apaches), Sessa e Luiza Lian.
Os integrantes Arthur e Filipe tiveram uma estada longa na Europa e criaram laços fortes, e é pro isso que o disco será lançado também na Europa pelo selo Shhpuma. Mas foi em uma residência na Associação Cultural Cecília (em São Paulo-SP) que a ideia do disco VOLUME ÚNICO acabou surgindo.
VOLUME ÚNICO tem direção musical, arranjos e produção de Nader e Decloedt e foi gravado no
Estúdio A Voz do Brasil por Gui Jesus Toledo, responsável também pela mixagem e masterização no
Estúdio Canoa. O projeto gráfico e a arte são de Maria Cau Levy.
A banda irá fazer um show de lançamento do disco, confira abaixo o serviço.
Show com participações de Luiza Lian, Pedro Pastoriz e Sessa.
Abaixo, confira na íntegra uma entrevista que fizemos com os integrantes da banda.
Como chegaram na concepção poética e musical do álbum?
Arthur: É muito difícil definir com poucas palavras a concepção poética e musical de um álbum ou trabalho artístico. Eu acho que estamos muito interessados nesse processo de investigar até onde a canção ainda é canção, o que podemos tirar dela e o que acaba sempre permanecendo, aquilo que é essencial.
Acho que a concepção do nosso trabalho, surge naturalmente desse processo.
A voz é outro universo super complexo que a gente quis abordar nesse álbum e que sem dúvida diz muito sobre a concepção poética e musical.
Filipe: Esse disco é acima de tudo sobre a canção, sobre a voz. Sua força e fragilidade.
No disco de estreia, vocês gravaram músicas inteiramente instrumentais. Já em VOLUME ÚNICO, isso mudou. Por que isso aconteceu?
Arthur: A história do VOLUME ÚNICO começou em uma residência artística que fizemos em agosto de 2016 na Associação Cultural Cecília, em quem convidamos o Tim, a Luiza, o Pedro e o Sessa para tocar com a gente em diferentes noites.
O resultado desse processo foi tão positivo e instigante para todos nós, que surgiu a necessidade de transformar essa experiência em algo maior e gravar um disco.
Vocês consideram VOLUME ÚNICO um trabalho independente? Quais foram suas influências nesse meio?
Filipe: Cara, é independente no sentido de que não tem gravadora. Mas temos um monte de gente do nosso lado ajudando a realizar nossas maluquices. O Selo Risco é um parceiro importantíssimo na nossa história e somos eternamente gratos à confiança e estímulo do Gui Jesus Toledo, que é o cara que além de ser uma das cabeças do selo é a pessoa que gravou, mixou e masterizou o nosso disco. Fora o Risco, agora temos a parceria da Shhpuma, selo português que é uma referência internacional nesse tipo de som que a gente curte… coisas que têm uma referência de jazz e improvisação mas não são exatamente isso. Além disso tem mais um monte de parceiros que dão força pra gente e ajudam o grupo.
Sobre influências olhamos muito para o que a Fire Orchestra, All Included, Metá Metá, Negro Leo, Liberation Orchestra, Christian Wallumrød estão fazendo.
Como rolou o convite para as participações especiais? O que esses músicos acrescentaram no disco?
Filipe: Os convites vieram dessa residência que fizemos na Associação Cultural Cecília. A escolha dos convidados foi totalmente afetiva. Somos admiradores dos trabalhos de todos e temos uma proximidade grande com eles. O Arthur toca com o Pedro e gravou/arranjou em uma música do disco MELHOR DO QUE PARECE do Terno, além de ter gravado no disco solo do Tim. Eu toco com o Terno e gravei no disco solo do Tim, além de ter gravado também com a Luiza. O Sessa é um velho amigo e trabalhamos juntos há muito tempo quando ele ainda tocava com o Garotas Suecas, mas aí estamos falando de 10 anos atrás (risos). Os nossos convidados adicionaram uma camada totalmente nova para a gente. A letra, a canção e a voz são coisas completamente novas para o grupo. Encontrar maneiras de falar a nossa verdade musical dentro do universo da canção foi uma das coisas mais legais de fazer esse disco e sem o Tim, Luiza, Pedro e Sessa isso nunca seria possível.
Ainda nessa pergunta. Vocês gravaram apenas uma faixa inéditas, MÚSICA. Pensando nisso, como foi o processo de escolha de repertórios?
Filipe: A proposta do projeto era justamente pegar músicas que os compositores estivessem já totalmente acostumados a cantar e entortar elas do nosso jeito. Inclusive a música do Sessa já estava feita e tinha uma gravação demo que ele mandou para a gente ouvir. Os convidados deixaram completamente a nosso critério a escolha. Conversamos um pouco com cada um e fizemos algumas propostas. Mas todo o processo foi realmente tranquilo. A Luiza me mandou alguns poemas que ela estava trabalhando na pré produção do último álbum dela, Oyá Tempo, e o Sessa me mandou algumas demos de músicas dele para eu ouvir e escolher o que me interessava mais. O divertido foi mostrar para eles as músicas depois que fizemos os arranjos.
Arthur: No meu caso também foi bem relax, eu sugeri o ASSOVIO para o Pedro e ele topou na hora, ela era perfeita para nós e equilibra bem as tensões do disco. Já o MORTO foi uma ótima sugestão do Tim também. Não houve discordância em nenhum momento!
Dessa forma, vocês criaram um som sem amarras. O que vocês diriam a respeito da sonoridade e ritmos presentes no disco?
Arthur: O som do música de selvagem é acústico. Desde o começo é assim, inclusive tocamos muitas vezes sem microfonar os instrumentos. Nesse caso não foi diferente, a voz é o que há de mais “acústico” na música talvez. Mas foi interessante ver como a sonoridade em cada canção mudou, porque esse formato trouxe a tona novas questões que não estavam presentes em trabalhos precedentes do grupo.
O disco será lançado no Brasil e na Europa. Falem um pouco mais sobre isso.
Filipe: Eu e o Arthur moramos quase 7 anos na Europa seguindo nossos estudos de música que começaram aqui no Brasil. Eu morei em Bruxelas e fiz meus estudos no Conservatório Real de Bruxelas e o Arthur morou em Paris e estudou no Conservatório Nacional Superior de Música e Dança de Paris. Criamos laços muito profundos lá e até hoje eu volto regularmente para tocar com grupos belgas, com pessoas que inclusive inspiraram a gente a fazer o Música de Selvagem. Nosso primeiro disco foi lançado na Bélgica pelo El Negocito Records, que é um excelente selo belga de jazz contemporâneo, inclusive vale a visita ao site deles para ouvir um monte de coisa massa que eles produzem.
Tem alguma história ou curiosidade interessante que envolva o álbum?
Arthur: Esse disco foi gravado em duas madrugadas na Voz do Brasil, tudo foi feito muito rapidamente, mas com muito carinho. A história é essa: a residência na Cecília, o convite à esses amigos queridos que estão sempre com a gente, a parceria incrível do Gui Jesus Toledo que gravou, mixou e masterizou o disco pra gente nos estúdios d’A Voz do Brasil, tudo feito com amor, com baixo orçamento e com muita sinceridade.