no centro da cidade
um homem invadiu uma antiga loja
de moda evangélica
estuprou os manequins da vitrine
e gritou palavras menstruadas
que bateram asas e encheram as ruas
policiais à paisana se amavam em cima dos telhados postiços sujos de urina e lágrimas
permiti que a multidão em coma me atropelasse
radicais cuspiram fogo
entoaram salmos de adoração a um Deus não específico
do chão eu pude ver prostitutas em pele e osso
a disputar latas de lixo com desembargadores criminais
trovoou
todos olhamos para cima procurando envelopes com dinheiro
e estardalhaços
alguém me beijou com fúria
meninas estúpidas pregaram umas às outras em cruzes metálicas
meus olhos se tornaram Gólgota
pois senti o peso do pecado sobre as pálpebras
possuídas pelo demônio
rituais funerários beliscaram os cus de intestinos derramados
um tamanduá bandeira foi abatido pela infantaria do exército brasileiro
anoiteceu bem diante de nossas narinas emboçadas
de cimento e vômito
senti crianças ganirem abanando o rabo dando a pata
minha garganta entupida de pentagramas recém-abortados pelo rei mago do oriente
amanhã sairá no jornal que uma mãe adolescente
vendeu seu único filho ao sinédrio judaico
por trinta moedas de prata, um campo de sangue
e meia dúzia de borboletas sem útero rasgadas ao meio.