Somos uma revista de arte nacional, sim! No entanto, em respeito à inúmeras e valiosas sugestões que recebemos de artistas de diversas partes do mundo, criamos uma playlist chamada “Além da BR”. Como uma forma de estende-la, nasceu essa publicação no site, que agora chega a sua 258ª edição. Neste espaço, iremos abordar alguns dos lançamentos mais interessantes que nos são apresentados.
Até o primeiro semestre de 2024 publicávamos também no formato de texto corrido, produzido pela redação da Arte Brasileira. Contudo, decidimos publicar apenas no formato minientrevista, em resposta aos pedidos de parte significativa dos nossos leitores.
The Next Movement – “Tear The Roof Off” – (Suíça)
– À principio, o que originou essa música? Fizemos uma excursão emocionante nas Ilhas Canárias no ano passado. Essa viagem nos inspirou para a música e para incluir alguns sabores espanhóis no refrão e no breakdown de violão espanhol na música .
– A letra, o que diz e qual sua mensagem? A letra é ditada principalmente pelo fluxo que queríamos trazer, mas também para levantar o ânimo. Ela representa a alta energia da banda , tornando seu show ao vivo uma experiência explosiva com bom groove e muito poder.
– Como você pode sintetizar o conceito musical dela? Nosso credo é levar o funk para o futuro. Adoramos misturar elementos eletrônicos com instrumentação habilidosa e raps intensos com vocais R’n’B. Nós aprimoramos nosso som analógico de bateria, baixo e guitarra com elementos de produção que gostamos.
– Podemos dizer que a música tem traços da cultura e da arte do seu país? Bem, para esta faixa não, não realmente. Nosso som é bastante exótico para onde viemos. É porque somos fortemente influenciados e estudamos muito do grande funk & soul do final dos anos 60 e 70 até agora.
– Há algo de curioso nesse lançamento que você queira destacar? Como dito acima, a faixa é inspirada em nossa turnê nas Ilhas Canárias. Nós vivenciamos tantas coisas maravilhosas em um curto espaço de tempo que incorporamos a esta música. A segunda música deste lançamento é “more cowbell”, outra faixa extremamente funky destacando o trio com bateria, baixo, guitarra e, claro, o cowbell!
Respostas JJ Flueck
Saint Nick the Lesser – “Catfish Bones” – (Estados Unidos)
– Qual é a melhor descrição dessa música, seu conceito geral? Conceitualmente, a música descreve vagamente uma cena em que um homem está tentando escapar da polícia por um pântano nos bayous da Louisiana. Está implícito que em um ponto ele fez um acordo com o diabo (ou alguma outra força sobrenatural) por riqueza, e que agora o diabo veio cobrar o que lhe é devido, usando a polícia como seus agentes para isso.
– Em termos musicais, o que você está propondo? Musicalmente, a música começa incrivelmente devagar; construindo tensão até culminar no solo de órgão, um tanto caótico, em direção ao final da música. Dada a história contada na música, a construção lenta e sinuosa em direção ao crescendo é justaposta liricamente pela evasão fracassada do homem no primeiro verso, e então sua execução no segundo. O lento aumento da tensão sugere um crescendo inevitável, reforçando o ponto da história: Quando se trata de acordos com o diabo, mais cedo ou mais tarde o preço sempre será pago. Você não pode fugir dele – é inevitável
– O que deu origem à composição? Honestamente, eu estava jogando Red Dead Redemption demais na época. Lembro-me de ir para a cama por volta das 2 ou 3 da manhã depois de uma longa noite de jogo, e então tive esse sonho vívido onde eu era um fora da lei tentando escapar em um rio. Continuo ouvindo essa melodia como o tema abrangente, e isso se tornou o principal riff de guitarra de introdução da música. Todo o resto surgiu daí.
– O que você diz especificamente na letra e qual é sua mensagem?
Água suja, roupas enlameadas
Lua pálida e coaxar de sapo-boi
Engasgando com os ossos do peixe-gato
Homens da lei chegando
Na mão esquerda de Deus
Está um revólver .45
E uma promessa de absolvê-lo
De seus pecados
Flutuando rio abaixo hoje
Não consigo ver as coisas indo do meu jeito
Porque vendi minha alma por um pouco de prata e ouro
Não sei para onde vou a seguir
Mas sei
Que não é mais o paraíso
Dedos podres e carne rançosa
Ferimentos de bala e calor escaldante
Sangrando nos juncos
Eu posso senti-los me arrastando
Para o centro do mundo
Onde um lago de fogo ardente
Que nós, pecadores na pira
Chamamos de lar
Flutuando rio abaixo hoje
Não consigo ver as coisas indo do meu jeito
Porque vendi minha alma por um pouco de prata e ouro
Não sei para onde vou a seguir
Mas sei
Que não é mais o paraíso
Eu realmente queria criar uma sensação de sentimento mais do que qualquer coisa com essa música, então o objetivo era mais descrever o cenário desse homem fugindo da polícia e, finalmente, tentando escapar do destino.
– Quais são os traços de bandas de rock mundial nessa música? Eu fui muito inspirado pelo Delta Blues americano do século XIX. Artistas como Johnny Shines, Blind Lemon Jefferson e Robert Johnson. Eu amo as melodias assombrosas desses artistas dessa música. Além do peso emocional inerente carregado em seus estilos de tocar e performances vocais, para mim, pessoalmente, essas músicas sempre fizeram um trabalho incrível de capturar a surrealidade inerente por trás do sul profundo dos EUA. A lentidão da água do bayou, a vida selvagem e o misticismo dela.
Além de Red Dead Redemption, uma grande inspiração temática para mim foi a mitologia por trás de Robert Johnson. Se você não conhece, há uma lenda de que ele vendeu sua alma ao diabo em troca de maestria na guitarra e, após experimentar sucesso comercial por um curto período, morreu em circunstâncias misteriosas. Eu amo o sobrenaturalismo em torno dessa lenda e realmente queria traduzir como me sinto sobre aquele lugar nos EUA: agourento, misterioso, escuro e que não deve ser adulterado.
Respostas Saint Nick the Lesser
Michele Viglietti – “Even if you don’t know how” – (Itália)
– Qual a melhor descrição dessa música, seu conceito geral? É uma canção pequena, intimista e delicada, baseada em instrumentos acústicos como violão e ukulele, em que até a intervenção da guitarra elétrica e do baixo respeitam a atmosfera onírica e confidencial.
– O que especificamente você diz na letra da música, e qual sua mensagem? O texto tenta expressar o sentimento de inadequação que muitas vezes nos atinge em vários estágios e momentos de nossas vidas, especialmente quando estes colocam desafios que no momento parecem intransponíveis, mas dos quais não devemos ter medo.
– O que originou a composição? Como em todas as minhas composições, o ponto de partida é a ideia musical, a partir da qual surge quase espontaneamente um texto apropriado à atmosfera e que tenta, tanto quanto possível, “soar” bem, mesmo com as palavras.
– Musicalmente, como você a descreve? Minha música é essencialmente folk em suas diversas declinações. A inspiração principal vem do folk clássico irlandês, inglês e americano, mas em cada música você também pode ouvir influências mais contemporâneas do indie ou até mesmo do rock e, às vezes, até mesmo do mediterrâneo.
– O que essa música diz sobre o seu país, a Itália? Tirando algumas inevitáveis influências mediterrâneas e melódicas no aspecto musical, como disse antes, não vejo minha música e minhas letras como particularmente ligadas ao meu país, pois prefiro tentar falar com ouvintes internacionais, tendo escrito, pelo menos por enquanto, principalmente sobre temas íntimos ou sentimentais que são, portanto, comuns a pessoas de todo o mundo.
Respostas Michele Viglietti
Halfway to neptune – “Detonate” – (Estados Unidos)
– De uma maneira geral, como você define a ideia desse lançamento? sentimos que o dia dos namorados era um momento perfeito para lançar o detonate, a razão para isso é que nem todo mundo tem seu amor mútuo. Detonate é uma música na qual você daria seu amor infinito àquela pessoa especial, mas essa pessoa especial não sente o mesmo.
– A letra diz o quê, qual sua mensagem?
meu coração é uma granada
para você, para você
e agora detona
para você, para você
mantenha meu coração perto de você
é o que eu queria esse tempo todo
então por que você não me deixa ir
Eu me sinto enganado e sem esperança
me recomponho pedaço por pedaço
procurando desesperadamente por uma pista
despedaçado no chão
porque sou irremediavelmente devoto a você
meu coração é uma granada
para você, para você
e agora detona
para você, para você
seu toque me faz girar
você está pensando em mim também?
você nunca vai entender minha mente
tão estagnado, tão verdadeiro
por que você faz as coisas
que me fazem girar e girar e girar?
é proibido admirar
mas eu quero você por perto
agora meu coração é uma granada
para você, para você
e agora detona
para você, para você
você olha para mim como se fosse falar
mas acho que você viu através de mim
se você soubesse, você me decepcionaria gentilmente
mas eu quero que doa
agora meu coração é uma granada
para você, para você
e agora detona
para você, para você
aquelas promessas que fizemos
elas eram verdadeiras para você?
mas eu juro que esperaria a vida inteira
para você, para você
– Em que contexto e como surgiu essa música? Bem, acho que a maioria de nós já passou por isso, por estar comprometida com o amor de alguém que simplesmente não ama de volta. Então, dito isso, todos nós nos sentimos apaixonados por essa faixa e trabalhamos juntos para escrever sua letra.
– Dentro do universo do rock, o que você trabalhou na música? Nós trabalhamos para tentar encontrar um novo equilíbrio entre o punk antigo e o som moderno. Estamos constantemente tentando experimentar e criar nosso próprio som.
– Como foi a produção musical do single? a produção musical foi incrível neste single, definitivamente o nosso favorito até agora. trabalhamos com produções de áudio mech e Jonathan Mireles sempre sabe o som e o equilíbrio que estamos tentando alcançar.
Respostas Halfway to neptune
Brock Geiger – “Early August Rain” – (Canadá)
– O que inspirou essa música? Early August Rain foi escrita enquanto eu simultaneamente vivenciava partes do meu mundo pessoal pegando fogo (figurativamente) e testemunhava um verão de intensos incêndios florestais canadenses. Foi uma época que exigiu que eu realmente praticasse a aceitação com coisas que estão fora do meu controle. Conforme o sentimento evoluiu e o cenário musical tomou forma, a música se tornou meu pequeno hino otimista – uma espécie de auto incentivo para procurar a luz em tempos sombrios.
– A letra, o que ela diz e qual é a mensagem? Gosto quando uma letra pode evocar um senso de lugar ou ambiente, preparando o cenário para como um ouvinte pode interpretar a declaração.
“A tempestade perfeita derrota o dia perfeito
Talvez o vazio ainda seja um lugar que brilha”
A linha do vazio brilhante é uma homenagem a uma das minhas faixas favoritas de todos os tempos, “Tomorrow Never Knows”.
Embora alguns dos sentimentos ao longo da música não sejam, o título desta é bem literal. Começo a pensar muito sobre chuva, clima e nosso relacionamento com o mundo natural com essas ameaças climáticas catastróficas parecendo mais onipresentes.
– Como você pode resumir o conceito musical? Esta é a primeira música em que começamos a trabalhar nas nossas primeiras sessões no Sound City. A demo que trouxe do meu estúdio estava bem arranjada e parecia boa, então nossos objetivos eram trazer seletivamente certos elementos à vida com algumas abordagens de gravação que não consigo alcançar na minha sala de gravação menor. A primeira coisa que gravamos foi eu em uma bateria montada no saguão. Lembro-me de dizer meio brincando para Will, “tipo, cara, o que diabos estamos fazendo? … estamos no Sound City, com acesso a equipamentos e salas infinitamente incríveis, e você me fez tocar bateria, no saguão com um par de 57’s no kit?” Claro que esse som acabou sendo a base da nossa parte de bateria massivamente encharcada de reverb e é um dos meus tons favoritos no disco.
– Descreva como foram os processos de produção musical e gravação em estúdio. Comparado ao resto do disco, o pano de fundo harmônico para esta música cai no que considero ser uma zona mais direta e séria, então eu queria compensar a flutuação descontraída com elementos que recontextualizassem a natureza orgânica e bonita das coisas. Eu amo a maneira como as texturas de percussão do sintetizador e os tons de guitarra rasgando o alto-falante na ponte trazem alguma urgência e ousadia à faixa.
– Fale sobre seu próximo álbum. Quanto mais eu tive que pensar sobre a escrita e produção dessas músicas retrospectivamente, mais eu entendi o quão interligados esses processos são para mim. Na criação deste disco, o único objetivo era que os sons sempre precisassem dar suporte aos sentimentos nas músicas. Eu gosto do enigma do ovo versus galinha com esta parte porque sempre há espaço para as coisas evoluírem e assumirem um novo significado.
Respostas Brock Geiger