Somos uma revista de arte nacional, sim! No entanto, em respeito à inúmeras e valiosas sugestões que recebemos de artistas de diversas partes do mundo, criamos uma playlist chamada “Além da BR”. Como uma forma de estende-la, nasceu essa publicação no site, que agora chega a sua 267ª edição. Neste espaço, iremos abordar alguns dos lançamentos mais interessantes que nos são apresentados.
Até o primeiro semestre de 2024 publicávamos também no formato de texto corrido, produzido pela redação da Arte Brasileira. Contudo, decidimos publicar apenas no formato minientrevista, em resposta aos pedidos de parte significativa dos nossos leitores.
M the Myth – “Love Nymphonic” – (EUA)
– Qual a melhor descrição dessa música, seu conceito geral? Love Nymphonic é um hino eletro-pop eufórico e de alta voltagem sobre o caos, a beleza e o prazer de abraçar completamente seus desejos. Ela mistura piano house clássico, sintetizadores glitchy e linhas de baixo marcantes para criar uma sonoridade que é ao mesmo tempo nostálgica e futurista. O conceito da música gira em torno de retomar sua sensualidade, sua autonomia e seu poder—sem pedir desculpas. É ousada, vibrante e intensamente viva.
– O que especificamente você diz na letra da música, e qual sua mensagem? A letra celebra a atração intensa e o desejo sem arrependimentos. Versos como “I’m on it, I want it, your love nymphonic, electronic” falam sobre estar completamente imerso nessa conexão magnética e elétrica com outra pessoa. É sensual, brincalhona e um pouco perigosa. A mensagem é: não fuja do que você quer—assuma, aproveite, e deixe isso te transformar.
– O que originou a composição? A música começou durante uma aula de produção vocal na Berklee College of Music. Eu estava experimentando camadas vocais e texturas eletrônicas, tentando criar algo que soasse primal e digital ao mesmo tempo. O título Love Nymphonic surgiu de uma conversa com o produtor indicado ao Grammy, Rodney Alejandro. Eu disse a ele que a sensação da música era ao mesmo tempo alegre e caótica, como ser um ninfomaníaco de forma cósmica e emocional—e ele respondeu: “Então… é Love Nymphonic?” E tudo fez sentido. A ideia capturava perfeitamente a essência da faixa.
– Em quais artistas e gêneros você buscou inspiração para a sonoridade? A sonoridade foi inspirada no house dos anos 2000, synth-pop dos anos 80 e no eletro-pop moderno. Artistas como Robyn, Rina Sawayama e SOPHIE foram grandes influências. Eu queria algo que você pudesse ouvir tanto na pista de dança quanto gritar no carro, de madrugada. A produção mescla texturas clássicas do house com vocais processados e elementos glitch para um toque futurista.
– Há algo de curioso sobre o lançamento que você queira destacar? Sim! Curiosamente, eu quase deixei essa música de fora do EP porque achava que não se encaixava. Mas meus colaboradores insistiram para que eu a trouxesse de volta. E quando fiz isso, ela se tornou o coração do projeto. O título Love Nymphonic acabou inspirando o nome do EP (Nymphonic) e também seu tema central: a sensualidade como libertação, o caos como transformação e o som como veículo de cura e alegria. Também fui responsável por mixar e masterizar a faixa, o que tornou o resultado ainda mais pessoal e fiel à minha visão artística.
Respostas M the Myth
Lewis Montana – “Impala” – (Venezuela)
– O que especificamente você diz na letra da música, e qual sua mensagem? Falo sobre andar por Miami com meus amigos e minha namorada em um carro modelo Impala. É um modelo icônico da cultura da Costa Oeste dos Estados Unidos. Presto homenagem à música que ouvia quando era criança e me inspirei nas praias e palmeiras de Miami.
– Em termos musicais, o que você propõe, e quais artistas/gêneros são referências? Minhas referências musicais para essa música são Tupac, Snoop Dogg e Ice Cube misturando sons R&B.
– Há algo de curioso sobre o lançamento que você queira destacar? Essa música levou 3 anos para ser feita. No último mês, o laptop do meu engenheiro queimou e ele não conseguiu fazer mais alterações. Isso para mim foi um sinal de que era hora de lançar essa música.
– É possível traçar uma ligação entre essa música e o seu país, a Venezuela? Com certeza, na Venezuela há uma grande comunidade de carros antigos e hoje o hip hop está se tornando cada vez mais popular. Na verdade, minha missão é levar o hip hop venezuelano para o mundo inteiro.
– E, enfim, quem é Lewis Montana? Lewis Montana é um artista venezuelano que tenta se aprimorar a cada dia em todas as áreas de sua vida. Ele é uma pessoa que vem de dificuldades e graças a isso tem uma fome incrível pelo mundo. Ele começou como beatmaker e produtor musical e então percebeu que o que ele realmente queria era expressar algo mais com sua voz. É um som calmo e vibrante que busca seu espaço nos ouvidos das pessoas certas.
Respostas Lewis Montana
Ian North – “Malahat” – (Canadá)
– Qual a melhor descrição que você poderia ter para essa música? Esta é uma canção de estrada itinerante, evocando movimento para frente. É uma peça instrumental acústica de estilo de dedo que representa as belas vistas das montanhas da Colúmbia Britânica enquanto você dirige pela Malahat Highway na Ilha de Vancouver.
– Em termos musicais, o que você propõe e quais artistas/gêneros são referências? Sempre adorei métodos de guitarra finger style e esta peça é no estilo dos ícones canadenses Bruce Cockburn e Don Ross. Ela representa um momento instrumental em um ritmo rápido e evoca memórias nostálgicas de se mover pelas belas paisagens canadenses.
– Há algo interessante sobre o lançamento que você gostaria de destacar? Este lançamento coincide com um vídeo que contém as filmagens de arquivo mais antigas conhecidas de veículos em uma rodovia canadense. As filmagens de arquivo da rodovia Malahat mostram os caminhos da rodovia como estradas de terra. Os pioneiros que se estabeleceram aqui também são exibidos a partir de 1912. As filmagens de vídeo vieram da Biblioteca e Arquivos do Canadá.
– Qual é a conexão entre essa música e seu país, o Canadá? Esta é uma peça instrumental folclórica. Ela se relaciona com a terra, a filosofia e a perspectiva de grandes espaços e viagens. O Canadá é um lugar muito grande e requer um comprometimento de tempo e horas gastas para viajar por estrada. É possível dirigir de uma ponta a outra do país. Isso levaria muitos dias e esta música representa essa realidade.
– E qual é a ideia e o conceito por trás da capa da música? A arte da capa foi criada pela minha parceira Jennifer Claveau. Ela traz uma foto da minha filha que tirei em uma viagem de carro pela Malahat Highway. A foto mostra as florestas e a paisagem atrás da minha filha, que está caminhando em uma saliência que separa a rodovia do Estreito da Geórgia.
Respostas Ian North
Johnny McGuire – “Ridin’ It Out” – (EUA)
– Qual é a melhor descrição deste lançamento? Este lançamento é um hino intenso e sincero que captura a essência da perseverança através das tempestades da vida.
– O que você expressa na letra e qual é a mensagem? Liricamente, trata-se de enfrentar tempos difíceis de frente, seja uma luta pessoal ou o caos do mundo, e escolher seguir em frente em vez de se render. Eu queria manter um pouco de cinismo brincalhão nos versos e transmitir a sensação de que não me levo muito a sério.
– O que inspirou a composição? Eu diria que é realmente uma mistura de muitas influências. O mundo exterior, a mídia, minhas próprias inseguranças e as coisas que considero engraçadas ou assustadoras desempenharam um papel na escrita. Há sempre algo que alguém está te dizendo que você deveria ter medo, e depois de um tempo você percebe que não deveria ter medo de nada.
– Quais são seus comentários sobre a arranjo e instrumentação da canção? A canção é realmente mais sobre melodias vocais do que qualquer outra coisa. Há apenas dois acordes durante toda a canção e eles vão e voltam continuamente. Estou aprendendo que o simples é quase sempre melhor.
– Há algo curioso ou notável sobre o lançamento que você gostaria de compartilhar? Eu sou o eternamente otimista e estarei aproveitando. Chamo parte dessa nova música de “Rock Apocalíptico” e espero que vocês ouçam.
Respostas Johnny McGuire
Jennifer Harper – “I Am a Queen” – (EUA)
– Qual é a melhor descrição dessa música, seu conceito geral? Essa música é uma ativação musical da frequência feminina divina.
– O que você diz especificamente na letra e qual é a mensagem dela? música é um convite para se render, suavizar, abraçar e confiar em seu poder interior.
Durante grande parte de minha vida, resisti à feminilidade, temendo que ela me tornasse fraca.
Por meio de experiências pessoais, algumas profundamente dolorosas, eu acreditava que a força exigia dureza e achava que tinha de me esforçar e incorporar a energia masculina para ser ouvida e levada a sério.
Como mulheres, isso é muito comum. Também somos condicionadas a dar demais e, muitas vezes, temos dificuldade em receber. No entanto, receber é o que fomos projetadas para fazer!
Muitas mulheres têm medo de falar e de serem vistas como realmente são. Também lutei contra isso durante grande parte de minha vida. Nossa cultura em geral não foi projetada para dar apoio e segurança às mulheres. A pressão da sociedade para atingir determinados padrões é muito opressiva e silencia muitas vozes necessárias.
Eu já passei por esse caminho e o conheço bem.
A mensagem da música veio do que aprendi ao longo dos anos sobre como incorporar a energia feminina.
O desenvolvimento de minha voz como artista teve um papel importante.
Aprendi que forçar demais a voz me deixa tensa, e que meu som é muito mais bonito quando me suavizo a partir de um ponto de apoio profundo.
Quando dei à luz meus filhos e os criei, aprendi ainda mais que meu verdadeiro poder não está em uma energia maternal controladora, que na verdade é uma energia masculina, mas no feminino, em minha intuição, graça, sabedoria e amor.
Aprendi que meu poder pessoal está dentro de mim – autoconfiança, criatividade, comando sobre minha própria energia e a frequência que trago para o ambiente. Esse tem sido um caminho de profunda devoção e prática contínua. Agora estou em um estágio em que atingi um nível de domínio pessoal e é a isso que me refiro na música.
Essa música foi escrita para ativar a energia de recepção, a facilidade, a entrega. É um lembrete do poder potente do feminino e desperta esses códigos.
Algumas letras:
“Eu sou uma rainha, rendendo-me, suavizando-me em minha maestria.
É seguro ser vista, é fácil receber.
Eu lidero com amor e facilidade, tudo o que preciso está dentro de mim.”
– Em termos musicais, o que você propõe e quais artistas/gêneros são referências? A música começou como uma peça de piano meditativa pela qual me apaixonei e que tocava com frequência, pois era edificante, calmante e centrada. Durante anos, a única letra que vinha era “I am a queen – surrendering”. Deixei que ela se desenvolvesse organicamente.
Uma citação de David Bowie me incentivou:
“Nunca jogue para a galeria… O pior trabalho de um artista vem de atender às expectativas dos outros.”
Confiar em minha intuição no processo criativo tornou-se parte da mensagem da música.
Ao me render ao que a música estava querendo e não apressá-la, a música tomou forma em total alinhamento, honrando a energia da rainha durante toda a sua criação, em vez de forçá-la a uma estrutura tradicional.
Ao ouvir o que a peça estava pedindo, senti o chamado para incluir a palavra falada. Ela se tornou mais do que apenas uma música – é uma ativação.
– Há alguma curiosidade sobre o lançamento que você gostaria de destacar? Embora tenha sido escrito para mulheres, muitos homens compartilharam como o livro ressoa com eles, especialmente em relação às mulheres que amam. Essa resposta me comoveu e me deu esperança.
Também toquei a harpa de cristal nessa faixa – um instrumento celestial que me senti atraída a trazer para o estúdio sem um plano. Ela acrescentou um som etéreo único que aprofunda a experiência.
Essa música é uma personificação da energia feminina divina, que é tão necessária no mundo neste momento. Para a cura pessoal, para a humanidade e para o planeta.
Foi importante ter essa energia forte e tive que me esforçar para falar. O simples fato de fazer minha voz sair foi uma vitória. Quanto mais potente, quanto mais força, mais eu sentia que estava vencendo as vozes que tentavam me manter em silêncio como uma jovem mulher.
Respostas Jennifer Harper