A arte pode ser considerada diversa por poder contribuir com a evolução humana, e desde o tempo passado, temos o teatro como algo extraordinário! Pensando assim, O grupo Novos Arteiros foi fundado em Novembro de 2012 nos Bairros Campinas de Pirajá e Marechal Rondon em Salvador, Bahia.
Desde a fundação, o grupo ajuda jovens em toda área soteropolitana, jovens que acabam tendo o primeiro contato com a arte e se apaixonam…
História contada por Wiliam um dos fundadores
Então, o Novos Arteiros surge em Novembro de 2012. Na época, eu tinha apenas 16 anos e fazia teatro no CRIA (Centro de Referência Integral de Adolescentes), uma ONG que fica no Pelourinho. Na ONG, eu fazia parte de um elenco que circulava com um espetáculo no qual apresentávamos em teatros e escolas públicas.
Na época eu me encontrava no grupo Pessoa Comum e eu trouxe o espetáculo para ser apresentado no colégio Germano Machado Neto, que fica em Marechal Rondon, bairro vizinho onde eu moro e o bairro em que eu comecei a fazer teatro quando criança. Após a apresentação, os alunos do colégio ficaram eufóricos com o produto que viram e se identificaram com os jovens que estavam em cena.
Logo, percebi que muitos deles também queriam fazer parte disto. Também queriam fazer teatro. Como o CRIA tem um número de jovens limitado devido ao local, patrocínio e outros fatores, Rose Silva que na época era a minha diretora, me impulsionou a criar um grupo no bairro. No momento eu achei que seria uma ideia aleatória, mas a surpresa maior foi quando eu saí do colégio e percebi que vinham vários jovens em minha direção interessados em saber como fariam para se inscrever neste tal grupo que eu sequer sabia que já existia.
Como eu tinha pouca idade, fiquei um pouco assustado com tudo aquilo, mas empolgado com o interesse dos jovens. Então para dar início a esse novo trabalho, eu chamei cinco amigos que fizeram teatro comigo no bairro quando criança e junto a eles dei início ao Grupo de Teatro Novos Arteiros, dividindo a direção geral do grupo com Daniel Vinicius, que hoje se encontra mais à frente nesta função.
O nome Novos Arteiros é uma homenagem a um grupo de teatro que também desempenhava um trabalho no bairro. A trama dos Arteiros, que tinha como diretor Marcos Oliveira, era uma grande referência para mim quando criança. Na época eu tinha 10 anos e fazia teatro pelo projeto ‘Escola Aberta’, no mesmo colégio e também tínhamos Marcos Oliveira como diretor. Pela admiração ao grupo, nós mesmos nos nomeamos “A Trama dos arteiros mirins” e assim que me veio a ideia do grupo na cabeça, me veio a ideia de poder homenagear estes grupos que já não mais desempenhavam atividades no bairro.
Fizemos o primeiro processo de identificação e fechamos o primeiro elenco com mais ou menos 17 jovens em novembro de 2012 e de lá pra cá, creio que já trabalhamos diretamente com mais de 300 jovens. Tivemos muitas formações e atualmente no grupo temos um pouco mais de 50 jovens divididos em 3 elencos e uma gestão que contém 11 cabeças à frente do processo.
Em quase 8 anos de trajetória nós já construímos 5 espetáculos sendo eles: “Bairro do Sossego”, “O Portal: Paradoxo dos sonhos”, “O cidadão de Papel”, “Voz Ativa”, e, “Tropicália” e estamos nos preparando para 3 novos projetos para pôr em prática pós-pandemia. Estes espetáculos têm caráter crítico, político, educativo, onde abordamos temas sociais de forma leve, mas precisa. Falamos de violência doméstica, racismo, manifestações escolares, sonhos, drogas, política, tudo de forma artística, com muita música, poesia para ter uma abordagem que possa ser compreendida por todos os públicos.
O grupo não tem um patrocínio, mas isso nunca nos impediu de realizarmos nossos próprios eventos. Com ajuda de parceiros como Marcos Oliveira e a Tríade, e como o CRIA, pudemos realizar diversas Mostras Cênicas, onde estreamos com os nossos espetáculos nos teatros de Salvador como o Xisto Bahia, Solar Boa Vista, SESI Rio Vermelho, Centro Cultural Plataforma, Alagados, entre outros.
Fizemos também o ComuniAtro, um festival que teve como objetivo ocupar os teatros com o nosso público alvo que são as pessoas das comunidades. Fizemos também duas edições do ComuniArte, que foi o contrário do ComuniAtro, onde a ideia era promover a arte na própria comunidade. Fizemos dois festivais ComuniArte nos bairros de Campinas de Pirajá e Marechal Rondon, onde ocupamos escolas, associação de moradores, igrejas e espaços públicos dos bairros.
Além de nossos eventos participamos de festivais de teatro como os festivais e mostras do CRIA, o FESTAC (Festival de Artes da UFBA), o “Cabrito Berra”, o “Castelo Cultural”, além de participar de programas de TV como o “Conexão Bahia”, da Rede Globo, o programa “Tudo Novo” do SBT e do programa “Soterópolis” da TVE.
Luan FH – Qual foi o evento que mais gerou público e comoção?
Wiliam: Bom, geralmente os eventos que mais geram público são as estreias dos nossos espetáculos que sempre acontecem nas nossas Mostras Cênicas. Realizamos a nossa primeira Mostra Cênica no ano de 2015 no Cine Teatro Solar Boa Vista e ano após ano começamos a estrear com os espetáculos nas edições posteriores a essas mostras. Eu não consigo definir qual rolou maior comoção, pois todas as apresentações promoveram momentos ímpares para as pessoas presentes, onde o público pôde de certa forma se emocionar, rir, interagir com os espetáculos ali apresentados. Foram muitos momentos especiais para nós que não consigo escolher apenas um.
Luan FH – Em todos esses anos, existiu algum momento no qual você olhou para o grupo e sentiu um orgulho por fazer parte da história?
Wiliam: Existem diversos momentos. Eu tenho muito orgulho do grupo, desde que ele foi criado, pois eu tinha muita vontade, mas não sabia as proporções que este grupo poderia tomar. O grupo começou de forma contida, sendo comandada por dois jovens que tinham pouca experiência e eram muito novos para comandar um grupo de teatro num bairro onde a arte não era muito valorizada. Foi um desafio muito grande então, principalmente nos dias de hoje, eu sinto muito orgulho de olhar para trás e ver o quanto foi construído, ver o quanto conquistamos, quantos jovens tocamos no processo, quantas vidas pudemos transformar diretamente no dia a dia nos ensaios. Perceber que hoje temos um grupo com 50 meninas e meninas, 3 elencos, 11 jovens à frente só me faz crer que tudo o que eu fiz durante estes 7 anos valeram à pena. E que é só o começo pois almejamos muito mais.
Luan FH – Se você pudesse mudar algo no Brasil em relação a arte, o que mudaria?
Wiliam: Eu poderia dizer que mudaria a política que rege a arte o cultura no país, que favorece apenas uma classe e à tempos não funciona de modo a contemplar à toda a população, mas eu estaria sendo muito utópico. O que eu de fato mudaria é o olhar para com os profissionais desta área que tanto se dedicam e são pouco valorizados. Principalmente nesta época de quarentena e pandemia que estamos vivendo. Acho que as pessoas nunca tiveram tanta noção do quanto a arte é importante e necessária para o ser humano e mesmo assim, ainda há muitas críticas e desvalorização. Eu acho que eu mudaria este modo mesquinho de ver a arte no país.
Luan FH – O Novos Arteiros significa o que para você?
Wiliam: O Novos Arteiros significa a minha vida. Foi algo que eu dei o pontapé inicial, foi algo que eu construí, que eu vi nascer e render bons frutos. Eu sou apaixonado pelo Novos Arteiros, sou apaixonado pelo que fiz q que faço e tenho muito orgulho de ver que mesmo após 7 anos de trajetória, o grupo continua com todo gás e só faz crescer. Eu hoje não consigo mais falar de mim, sem falar do Novos Arteiros, o grupo é uma grande parte de mim.
Uma pequena resenha sobre o grupo
É de extrema importância grupos de teatros, danças, qualquer grupo que envolva a arte, devam existir. É de extrema importância! Assim, jovens podem depositar seu tempo em algo bom, bonito e saudável.
A arte modifica as pessoas de uma maneira intensa, possibilitando até mesmo um futuro profissional e promissor; claro que o artista precisa persistir e insistir. A arte no Brasil é completamente desvalorizada, porém, grupos como Novos Arteiros muda o conceito de alguém sobre a arte. Traz energia, alegria e digo mais: Esperança!
O Wiliam e o Daniel são peças fundamentais nesse projeto que deu certo, e realizam todos os anos apresentações espetaculares. Eu quero parabenizar todo o grupo pelo brilhante trabalho e deixar registrado: Salvador tem cultura!