Muitas sugestões musicais chegam até nós, mas nem todas estarão aqui. Esta é uma lista de novidades mensais, com músicas novas, quentes, diferentes. A seleção é eclética, serve para todos os gostos. É importante ressaltar: que as posições são aleatórias, não indicando que uma seja melhor que a outra; essa lista é atualizada diariamente, até o encerramento do mês.
Gilberto Gil e o movimento tropicalista recebe de Paddy League uma homenagem aos avessos
Em linhas gerais, o que é sua nova música, “Empty Glass”?
Esta música é simultaneamente uma homenagem ao grande Gilberto Gil e todo o movimento tropicalista, e meu primeiro experimento em fazer o inverso do que fizeram os artistas da Tropicália: eu estou fazendo nova música através da “canibalização” e digestão de diversos elementos e aspectos da música popular brasileira, adaptando-lhes num contexto rítmico e estético plenamente norte-americano (o suingue da música da minha região do Sul, no litoral do Golfo de México).
O que a letra diz?
A letra é mais ou menos uma tradução da letra da música “Copo Vazio” do Gil, mas tomei várias liberdades, pois quis que minha letra tenha exatamente os mesmos característicos formais – o mesmo metro, o mesmo esquema de rima – então foi necessário sair da tradução literal. O tema geral é o mesmo, e começa com a mesma imagem do copo vazio, cheio de ar… mas, por exemplo, eu canto que o copo vazio está cheio de atmosfera, uma decisão que determina que a letra tome uma direção diferente desde o começo.
Qual a fonte de inspiração desta música?
Como diz, a canção do Gil “Copo Vazio” inspirou minha música, mas assim que comecei a trabalhar a ideia, tomou um rumo bem pessoal e particular: recentemente tinha separado depois de 16 anos de casamento, e estava tocando semanalmente num bar frequentado por várias pessoas bem tristes, passando, como eu, por situações difíceis… então, pensei nas estórias das pessoas que deixavam os copos vazios no bar, e a música chegou!
O que há de música e cultura brasileira nela?
Alem da melodia e harmonia e letra inspiradas das do Gil, creio que há o espírito sincera brincante da Tropicália!
Qual a ideia da capa do single?
A capa é a capa do disco, chamado “Medicine Ball” (podem ouvir aqui: https://paddyleague.hearnow.com/medicine-ball). É ilustração do meu livro preferido da infáncia, uma coleção de poemas satíricos sobre bichos intitulado “A Child’s Primer of Natural History”, do autor anglo-americano Oliver Herford. A imagem mostra um mangusto (famoso pela preferência de comer cobras) tirando um cochilo debaixo da Árvore da Sabedoria, enquanto a Eva estica a mão de pegar uma maça e o serpente sorri contente…
Respostas de Paddy League
Disponível na playlist “Brasil Sem Fronteiras…”
Clebson Ribeiro é guiado pela viola caipira numa aventura multicultural em direção às profundezas da alma
Resumidamente, do que se trata o álbum “Mantras e Amiúdes”?
“Mantras e Amiúdes” é mais do que um simples álbum para mim. É o resultado de anos de dedicação, de exploração sonora e de busca pela essência da música que me move. Cada faixa é um convite para uma viagem interior, um mergulho nas profundezas da alma, onde a viola de 10 cordas é a ponte entre passado e presente, entre tradição e inovação.
Há alguma mensagem ou ideia que é comum a todas as faixas?
Em sua maioria, particularmente nas sete faixas iniciais, o álbum “Mantras e Amiúdes” apresenta uma temática de introspecção e nostalgia. Cada música convida os ouvintes a embarcarem em uma jornada íntima, utilizando a estética da viola caipira como elemento central, e acompanhada por uma fusão de instrumentos como cello, piano e sintetizadores. Essa combinação cria uma sonoridade progressiva/new age, repleta de aconchego e reflexão, evocando uma atmosfera de serenidade e profundidade emocional.
Nas demais faixas temos um clima vibrante com um chamamé em parceria com meus amigos Mel Moraes e Claiton Scout e um blues apimentado na companhia de Marina Ebbecke, que dão uma vibe diferente ao álbum.
O que gerou o álbum, qual sua história até o momento da sua concepção?
Foram meses de trabalho árduo até alcançar a sonoridade desejada, buscando o equilíbrio entre a viola e os demais instrumentos, além de conciliar o folclore com a exploração de outros estilos musicais. A ideia central do álbum sempre foi poder expressar-me de forma livre, utilizando a viola como guia e explorando uma ampla gama de estilos que fizeram parte da minha jornada musical. Desde concertos clássicos até bailes no Mato Grosso, de shows de rock a festas no interior onde o sanfoneiro tocava apenas três músicas a noite toda, cada experiência contribuiu para a riqueza e diversidade deste trabalho.
O que o álbum diz sobre você, sua carreira e trajetória?
O álbum é uma expressão genuína da minha identidade musical, priorizando a sonoridade e a melodia sem negligenciar a importância da técnica. Ele reflete quem sou como artista, capturando a essência das minhas experiências e influências musicais, e destacando a dedicação e o cuidado colocados em cada aspecto sonoro.
Qual ou quais faixa(s) você indica para iniciar o álbum?
As três faixas iniciais evocam uma espécie de ópera caipira contemporânea, dialogando entre si com elementos folclóricos da música brasileira que se entrelaçam com influências eruditas, new age e folk rock. É como se fosse a história de um caipira que percorreu diversos gêneros musicais, absorvendo novas sonoridades, e retornou para casa com um tesouro de “novidades” musicais.
Respostas de Clebson Ribeiro
As três primeiras faixas estão disponíveis na playlist “Apenas Instrumental BR”
Toninho Almeida é nordestino, vive na França e é atingido pela música mundial; este hibridismo cultural está em seu novo single, “SLAMBOLANDO”
Com quais palavras você pode apresentar este lançamento?
Primeiro single de uma viagem chamada “Slambolando”. SLAMBOLANDO foi, num primeiro momento, um projeto de viagem, no sentido próprio da palavra: Ir ao Brasil (Salvador, Euclides da Cunha, João Pessoa, Fortaleza, Crato, Belo Horizonte etc.), conhecer pessoas, tocar, cantar e escrever viajando. Como a viagem começava em Lille, na França, a música “Trois mille et une nuit” (Três mil e uma noites) tem a ver com a cidade de Lille. Nessa música eu defendo o direito de criar ou achar para si um sentido, o direito de ser diferente, de pegar um desvio. Vem até, em última instância, uma ideia do filósofo e escritor Albert Camus (“O estrangeiro”): como a vida não tem sentido, o livre arbítrio é de achar o seu.
O que os versos dizem e qual sua mensagem?
Bem, difícil fazer um resumo… acho que poderia dizer que o “humano, demasiado humano, do Nietzsche” que há em mim deu um pontapé nessa ideia esdrúxula “champanhe à saúde do povo… “ minha resposta é “eu não tô fora”. Mas não fica por aí, a viagem poética leva em conta mundos, preferências e pontos de vista diferentes. Escrevendo me veio a explicação da música “Cálice” de Gil e Chico. Não que tenha a ver diretamente, ainda que as duas músicas falem de bebida e do fato de rejeitá-las. Mas o que mais me ligou à música “Cálice” foi o fato de que às vezes uma coisa corriqueira ou sem importância pode ser lido com outro prisma, como o prisma poético por exemplo.
Qual a fonte de inspiração desta música?
Na verdade, a inspiração é um protesto contra a Champanhe às 11h da manhã. Absurdo em princípio, mas como essa proposta veio de uma associação que me convidou, como brasileiro, com o objetivo de fazer um trabalho em bairros populares da cidade onde moro, na França… me senti um tanto fora do meu eixo. Daí o refrao “du champagne à la santé du peuple, me neither I’m out” – tradução literal – “champanhe à saúde do povo… eu não tô fora”.
O que esta música diz sobre a música brasileira e mundial?
Sou nordestino, nasci e cresci lá onde o vento faz a curva… Mas além do forró, dos cantadores de feira, muita coisa estrangeira veio aos meus ouvidos, pois ao lado da fazenda dos meus pais, um sanfoneiro e empreendedor musical, seu Joãozinho do Sanches, fazia ensaios com todos os instrumentos modernos e músicas internacionais. Depois, uma sucessão de choques culturais – Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Salvador, Paris… construíram em mim uma miscelânea infinita, sem esquecer a música eletrônica, que era uma febre aqui na Europa e particularmente na região em que vivo, quando aqui cheguei. Daí, penso eu, essa natural fusão de estilos que caracteriza minha música. Não me esforço para chegar aí, as coisas vão fluindo e deixo vir, pois todas essas misturas fazem parte de mim.
Respostas de Toninho de Almeida
Disponível nas playlists “Novidades do Reggae Brasileiro” e “Brasil Sem Fronteiras…”
O planeta e em especial as lindezas da fauna e da flora do Rio Grande do Sul agradecem à homenagem cantada por Clarissa Ferreira e Vitor Ramil
Com quais palavras você pode apresentar este lançamento?
Preservação dos campos sulinos.
O que os versos dizem e qual sua mensagem?
Essa música descreve uma paisagem e nela reflete a relação que o ser humano tem com o meio ambiente, mas precisamente com o bioma pampa do Rio Grande do Sul. É um alerta sobre a ameaça das mineradoras à hidrografia do sul do Brasil. Fala sobre como a fauna e a flora lutam por sobreviver em meio à expansão do agronegócio e sua escassez de culturas, das monoculturas.
Qual a fonte de inspiração de “Pampa”?
Foi composta com Lucas Ramos ao ver essa natureza toda que resiste ao atravessar a Estação Ecológica do Taim, em Santa Vitória do Palmar/ RS.
O que esta música diz sobre a música brasileira?
Tem uma harmonia que bebe na escola da MPB, com um ritmo que dialoga com os ritmos ternários latino americanos. Traz como instrumentação violões, bombo leguero e acordeon, identificando regionalmente mais ao sul.
Através de uma poética imagética e uma harmonia crescente, Pampa nos transporta para os campos abertos, onde as árvores testemunham e observam a tomada pelo lucro. Pampa simboliza a potência da natureza contra as adversidades impostas pela intervenção humana, exaltando, apesar de tudo, resiliência e vitalidade.
Com sonoridade que evoca a nueva canción latino americana, Pampa nos convida a refletir sobre a importância da preservação ambiental e a necessidade de proteger os ecossistemas naturais que nos cercam.
Como o clipe nos ajuda a entender a canção?
A arte de capa foi feita por Sérgio Rodriguez, artista que também cria a partir da experiência contemplativa no território do pampa. Sua arte para Pampa apresenta uma variação da série ‘Monopaisagem ou Antropoceno Rural’ de sua autoria.
Respostas de Clarissa Ferreira
Disponível nas playlists “MPB – O que há de novo?” e “Brasil Sem Fronteiras…”
Ritmo Alujá em uma ode à Bahia; é essa a máxima de Emiliano Sampaio em faixa do novo disco do seu grupo instrumental Meretrio
Se tivesse que apresentar rapidamente esta música para alguém, o que diria?
Essa música faz parte do novo disco do meu grupo Meretrio. O disco será lançado em Setembro na Europa e se chamará “20 Years”. O Meretrio surgiu em 2004 em São Paulo e agora 20 anos depois lançamos nosso 11 disco juntos com muita alegria. Essa música em especial mostra um pouco do novo som do Meretrio, misturando trombone e guitarra através do uso de loop-machine. Isso significa que o trio toca essa música ao vivo e ela soa exatamente como na gravação sem usarmos playback.
Por trás do instrumental, há alguma mensagem?
Essa música é uma homenagem à Bahia! Embora eu tenha nascido e crescido em São Paulo, minha mãe é nascida em Cícero Dantas, no sertão baiano. Tenho uma grande família na Bahia e sempre visito esse lugar lindo, cheio de música, ótima comida, lindas paisagens e um povo cheio de alegria!
Como esta canção surgiu, o que a inspirou?
Essa música foi inspirada pelo ritmo do Alujá. O ritmo vem direto do candomblé e foi minha maior inspiração. Tentei adaptar os toques dos tambores para o violão e baixo e tentamos desenvolver as melodias a partir da clave do Alujá, que é muito sugestiva!
Há alguma curiosidade sobre este lançamento que você queira destacar?
Eu gostaria de destacar que o Meretrio completa 20 anos e estamos muito felizes de fazer música juntos e de comemorar esse aniversário com o lançamento de mais um disco, que foi feito com muito amor!
Respostas de Emiliano Sampaio