(Capa do álbum)
“Nossos Amigos e os Lugares que Visitamos”, é o nome do novo álbum da banda El Toro Fuerte. Este título, assim como a capa do trabalho (acima) remete ao ir e vir da vida, das correrias e do caminho. É dessa forma, que o álbum traduz os sentimentos de terem conhecido lugares e pessoas em música.
“Minhas músicas especificamente nesse novo disco dizem muito sobre a sensação de sair de casa, de se perder, mas acho que esse processo sempre pressupõe a volta às origens. Se perder e se encontrar, acho que esse é o paradoxo das nossas cidades hoje, e Belo Horizonte [onde foi criada a banda] e a nossa relação com os outros lugares que visitamos encarna muito esse movimento”, reflete João Carvalho (baixo/guitarra/voz).
Abaixo, confira na íntegra uma entrevista que fizemos com os integrantes da El Toro Fuerte sobre o álbum “Nossos Amigos e os Lugares que Visitamos”
É muito original a ideia de colocar esses sons ambientes nas músicas, o que torna até, de certa forma, algo psicodélico. Queria muito saber quais foram suas referências, tanto nesse sentido, como na questão musical toda do álbum.
João Barreira: Obrigado. Como somos 6 pessoas, as referências são muitas. Ainda por cima, nossas músicas não costumam ser muito parecidas entre si, o que torna mais difícil apontar pra essas referências. De qualquer forma, a gente tem dito que Wilco, Radiohead, Rodrigo Amarante, Gilberto Gil, Posada e o Clã e Duda Brack foram algumas das influências que ecoaram nesse CD. Com relação aos sons ambientes, eu acho que o fato de termos muitas “mãos” possibilita e faz com que a gente busque preencher as canções com mais barulhos interessantes. Às vezes fica difícil saber o limite entre as funções clássicas dos instrumentos, os barulhos acidentais ou experimentais desses instrumentos e os sons ambientes propriamente ditos. O Hugo Noguchi, que produziu o CD, contribuiu com essa linha mais ruidosa e sempre botou pilha nas experimentações.
Ainda nessa pergunta, como foi criar todos esses sons? Quais os bastidores por trás disso tudo?
Pedro Chabudé: Geralmente nos encontramos na casa do Gil e do Leon pra elaborar os arranjos. A composição cantada ao violão é o ponto de partida. Depois disso fazemos em conjunto um escopo geral do arranjo (estrutura da canção, andamento, dinâmicas e etc) e trabalhamos individualmente nas partes de cada instrumento.
Apesar de cada um compor a linha do seu próprio instrumento, sempre rola uma interação muito prolífica com sugestões rítmicas, pitacos sobre timbre, começam a surgir as convenções também, coisa que amo muito, por sinal (risos). Na produção de “Disco Adulto”, levamos esses arranjos prontos pro estúdio, lá o Noguchi deu seus toques de mago e com muita maestria, contribuiu muito com texturas, vibes, timbres lindos e fritações pós-gravação.
E toda essa criatividade que envolva a parte musical e poética, como surgiu? Foi algo unanime entre vocês da banda?
João Barreira: Como o Chabudé disse, a gente costuma partir de composições já prontas e quase sempre feitas individualmente, para depois trabalharmos os arranjos. Para esse CD, fomos juntando as composições numa pasta online, para que todos pudessem ouvir com calma, e depois fizemos uma votação, na qual cada um votou nas suas preferidas. Também atribuímos pesos para as posições das músicas nas listas individuais, onde as músicas mais bem colocadas ganharam mais pontos, e depois somamos as pontuações de todas as listas. Além dessa parte mais objetiva da seleção das composições, também debatemos muito. O restante da parte criativa, como o arranjo e a parte visual, costuma ser decidida na base do debate, da experimentação e de pequenos ajustes para que o máximo de pessoas se sinta satisfeita. Ainda assim, é difícil haver unanimidade. Acho que o importante é haver um certo equilíbrio entre os gostos no resultado final.
Qual a proposta de vocês para a capa do álbum e para o nome em si do álbum? Qual o conceito?
Gabriela Autran: Foram muitos processos criativos até chegarmos à arte final. Daniel Porto ilustrou o distanciamento das relações e a partir disso a Dri Araújo traduziu as sensações de cada música em formas e cores. Sintetizando a ausência e o vazio em cores frias, o “ruído” em texturas e sobreposições gráficas e a fluidez sonora em formas redondas. A proposta é simbolizar a solidão e o amadurecimento, achamos que o “bonequinho” (como chamamos) no globo resume essa questão muito bem.
O nome do CD, “Disco Adulto”, reflete o amadurecimento da banda, que carrega angústias e reflexões muito próprias, trazendo uma nova visão do meio social e musical. Talvez um conceito mais sério, mas com um quê de ironia.
E por falar em conceito, o que vocês trazem nas letras das músicas? Elas parecem serem muito subjetivas, não é?
A gente percebeu, depois de selecionar as músicas, que o tema mais recorrente entre elas era a distância humana, a perda, a carência, o isolamento… Essas temáticas são liricamente abordadas de diversas formas durante o álbum: em “Amor Concreto”, “Alguém Por Perto” consola o eu-lírico no espaço urbano; “Mãe” aborda, de certa forma, a distância entre familiares; “Pouso” é uma reflexão sobre o vazio interno, sobre a distância entre a pessoa e ela mesma (“eu, sobre mim, não pouso, plano…”), e assim por diante. Mesmo com um tema que conecta os discursos, as músicas são bem subjetivas sim, têm muitas figuras de linguagem e abrem espaço para diversas interpretações. Eu acho que isso rola porque as músicas são mais devaneios, recortes mentais, fluxos de pensamentos, do que narrativas ou descrições definitivas sobre alguma coisa.
Pela complexidade de tudo que envolve o álbum, tenho a impressão que os processos de criação, produção e gravação tenham sido uma “loucura” em questão de tempo e “mão de obra”. É isso mesmo?
Leon Navarro: Sim, nossos processos sempre são um pouco megalomaníacos, de difícil execução. Termos resolvido tocar e gravar instrumentos que não dominamos (clarinete, trompete, baixo acústico) é só um dos exemplos de decisões que deixam o processo um pouco mais lento. A gente levou um bom tempo gravando o disco, testando timbres, mudando… Acabamos demorando mais ou menos dois anos entre a pré-produção do disco e o seu lançamento. Por um lado, isso tem um aspecto positivo, porque acaba que a minúcia e a atenção aos detalhes viraram características associadas ao nosso trabalho.
Vocês têm alguma história ou curiosidade interessante que queiram nos contar?
Leon Navarro: Gosto de ideias e detalhes de arranjos que surgem no momento da gravação, e acho que essa é uma das melhores coisas de se trabalhar com o Hugo, porque ele é muito criativo e compra muitas das nossas doideiras também. A bateria eletrônica doida do solo de “Mãe” apareceu assim, por uma ideia que ele teve na hora. As vozes de Gabi com efeito reverse, no final dessa mesma música, surgiram durante a gravação também, se não me engano.
Fiquem à vontade para falarem algo que eu não perguntei e que vocês gostariam de ter dito.
João Barreira: Eu gostaria de agradecer pela oportunidade de responder a questões bem específicas do nosso trabalho. Gostaria também de indicar o trabalho outros amigos: Rebeca, Hugo (Noguchi) e Rosabege.