O músico alagoano Felipe de Vas, uma das mais sinceras aparições recentes da música brasileira, mais específico, da MPB, lançou muito recentemente seu terceiro disco, que sucede “Silêncio” (2019) e “Gravidade” (2015). Neste novo trabalho autoral Felipe se mantém dentro da nova MPB, mas traz vários flertes com outros vários gêneros musicais, inclusive com a inserção de beats.
“O álbum escancara exatamente essa evolução natural do mercado fonográfico que me insiro, que cresce das canções cruas e boêmicas de apartamento à necessidade de inserções dos artifícios mais modernos digitalmente, como os próprios beats, que se sobrepõe aos instrumentos orgânicos e balança a letra/composição com um ar enérgico pseudo-jovem. Eu quero muito ser jovem novamente, sigo tentando.”, explica o artista.
A poética
Essa simplicidade sonora também é aposta de Vas nas letras. Talvez seja por isso que o nome do mesmo é “Bagagem de Mão”. A respeito disso, ele comenta: “[o álbum] reflete bem o conceito de um disco de bolso, fácil de ser carregado e absorvido em sua substância, uma analogia aos livros de bolso que sempre comprei nas saudosas bancas de revista.”
Ainda sobre as letras, ele comenta: “São sete faixas que resumem alguns estados emocionais que enxergo relevância de viver intensamente, desde a ruptura e da distância física que vemos na primeira faixa, até a auto realização e agradecimento catártico, culminando na última faixa.”, e continua seu discurso:
“Esse ‘disco de bolso’ com sete faixas acabou sendo um recorte válido nesse tempo em reclusão, nessa ideia de se carregar leve, com letras menores, com menos instrumentos e enaltecendo a carga sentimental concentrada na voz íntima e na letra emotiva. A repetição dos refrões e a simplicidade crua como guia, como orações para si mesmo, como a busca de uma síntese sentimental prática que ajude nesse teatro social ansioso e repressor de hoje em dia. Talvez não seja o momento pra fazer malas grandes, talvez não seja momento pra carregar demais. ‘Bagagem de Mão’ pra mim é uma ode à leveza literal.”
Na hora de compor
Tirando do jogo “Drummond” e “Flores no Jardim”, que são canções compostas há um tempo consideravelmente mais distante, Felipe diz que todas as bases das músicas foram arranjadas e compostas em 2018, por ele mesmo, quando residia em São Paulo, e que na época vivia um relacionamento intenso que acabou por findar-se.
“Vivia sempre muita felicidade e muita tristeza em curtos espaços de tempo e nessa correnteza incontrolável que é sentir demais as coisas, passei a escrever mais sobre aceitação desse processo, principalmente da sombra que paira sobre ‘o fim’ das coisas, sobre o fim, sobre reconhecer que o fim é a única certeza que temos e que só assim gozaremos de todo o processo sem tanta tensão paralisante, todo o disco trata desse ciclo natural de começo, meio e fim.”, descreve, e finaliza: “Reconhecer e retirar o peso sobre esses ciclos, é sobre se carregar um pouco mais leve, daí o nome ‘Bagagem de Mão’”.
Muitas referências, um só disco!
Em “Bagagem de Mão”, Felipe e sua equipe beberam de várias fontes, das mais tradicionais às mais contemporâneas. “As referências que escolhemos pra o disco são sintetizadas numa esfera de Caetano e Bruno Berle no início do álbum; e Jonh Mayer, FKJ, Men I trust, Amem Jr, Leisure e Céu, a partir da terceira música em diante. É uma mistura louca de MPB, R&B e indie meio depressivo meio sexual.”
No entanto, a literatura também influenciou bastante. “Preciso falar que nesse tempo eu li muito João Anzanello Carrascoza, a obra dele ‘Caderno de um ausente’ me marcou bastante e inevitavelmente traz uma referência lírica subexposta no disco. Assim como próprio Carlos Drummond de Andrade que tem uma música com seu nome no álbum.”
Nós pedimos para felipe descrever as faixas, e a sua resposta não poderia ser melhor.
“Prefiro não me dar ao luxo de comentar demais tão especificamente as partes das obras que crio porque eu já falo pelos cotovelos e penso demais sobre isso, então eu poderia viciar o pensamento fresco de quem pode vir a escutá-las e destruir uma possível narrativa que faça mais sentido para as lacunas de cada um, na real, essa força subjetiva é uma das grandes graças das expressões artísticas”
Ele não está sozinho
“As participações especiais são todos dessa nova safra alagoana de artistas da nova MPB, que já vinha ganhando espaço nos streamings e nos shows, e acabou se destacando também na forte atuação no disco novo do Wado que concorre ao Grammy Latino 2021.”, conta Felipe, que cantou ao lado Lore B, em “Deixo-me Ir”, Pedão em “Lisérgico”, e Lari em “Flores no Jardim”.
Todos os instrumentos, as segundas vozes e a direção artística são assinados por Júnior Bragazions. “[…] e se desse gravaria todos os instrumentos do mundo, ele é desses gênios que se cair de paraquedas num estúdio, grava um disco em dois dias e entrega mixado e masterizado, famoso camisa 10, enfim, eu gravei as vozes e os instrumentos de corda, com exceção de ‘Drummond’ cuja os riffs mais marcantes foram gravados pelo músico convidado Ismael Simão.”, acrescenta a artista.
Daqui para frente…
Para 2022, os projetos são muito interessantes. No próximo ano, Felipe deve lançar 5 singles, que, inclusive, já estão prontos. O primeiro deles chega às plataformas de streaming em fevereiro, e seu nome é “Rango Vegano”. No entanto, Vas deve fechar 2021 com o DVD “Vagagem de Mão, Em Cores”.
“Próximo ano será marcado também pela minha parceria com Fernando Nunes (músico, produtor) que lançará uma coletânea de músicas inéditas só de artistas alagoanos denominado “Sururu Music”, que também será um movimento artístico e coletivo, chamando todo estado de Alagoas de vez para as atenções do cenário nacional.”, explica ele.
“Além da música, não se surpreenda em me ver em 2022 como roteirista de cinema, escritor de livros de poesia, apresentador de podcast estranho e digital influencer semi-jovem. Enfim…”