Com apenas dois álbuns de estúdio e alguns singles lançados, Ana Frango Elétrico
tem conquistado seu espaço no novo cenário da música brasileira e reafirmou isso na noite de quinta-feira, 28/04/2022, no Teatro Riachuelo. Seu som é único, diferente daquilo que se ouve com mais frequência, até difícil de descrever. A cantora e compositora de carreira sucinta e 24 anos de idade transformou o elegante teatro carioca, localizado nas imediações da Cinelândia em um verdadeiro festejo da juventude. Festejo esse repleto de texturas e atmosferas diferentes dentro de forte proposta sinestésica e psicodélica.
O início da apresentação, com “Saudade”, deu a tônica daquilo que seria assistido
pelo restante dela. Esses primeiros minutos foram um grande e hipnotizante convite para a plateia ficar atenta ao que seria tocado na noite e, mais ainda, como seria tocado. Ana foi acompanhada de volumosa banda, seguindo com fidelidade a proposta sonora mais sofisticada e cheia encontrada em Little Electric Chicken Heart, seu segundo álbum. Canções desse trabalho como “Se no cinema” e “Torturadores” soaram, assim, bem parecidas com suas versões originais na medida em que outras mais antigas foram remodeladas. Já que o primeiro álbum de Ana Frango Elétrico é mais cru e propositalmente desleixado, aquilo que
foi tocado dele ganhou dimensões mais interessantes e intenção mais coletivas dada importância aos arranjos de banda. Com duas guitarras, baixo, bateria, percussão, duas backing vocals e sopros, há de se imaginar que as possibilidades para explorar seriam muitas, e de fato foram.
O estilo da cantora e compositora, porém, mantém uma essência muito própria.
Espontânea, criativa, inventiva e pouco convencional. Falou pouco com seu público, mostrando certa timidez, mas estabeleceu uma conexão muito verdadeira com ele. Ana Frango Elétrico conseguiu dar unidade para sua obra em seu show, deixou a ligação entre início de carreira e momento presentes firme enquanto solidifica as próprias características artísticas e as amadurece. Dessa forma, a jovem carioca mostrou um panorama sólido de sua ainda curta carreira, passeando entre aquilo que fez de mais relevante nela.
Por outro lado, os elementos cênicos foram colocados de forma simples, até
minimalista, mas funcionaram de forma muito coerente com a proposta do show. O uso de cores fortes e de contrastes entre luz e escuridão combinaram com o som de Ana Frango Elétrico e sua banda, evocando caráter mais sensorial e envolvente. Pelo som, mas também pelas imagens, a artista construiu uma ideia muito marcante para suas apresentações ao vivo.
Não à toa, já em seu terço final, grande parte do público levantou das cadeiras e
assistiu o show de pé. Se movimentando pelo teatro, pulando ou dançando, a catarse coletiva foi real e diz muito do tipo de show proposto por Ana Frango Elétrico e como seus admiradores o recebem. Foi a transformação de um local tão singelo e sóbrio quanto um teatro em um grande espaço para uma celebração alucinante promovida por jovens e pela música consumida coletivamente por eles.
Sobre Ana Frango Elétrico
Nome artístico de Ana Fainguelement, Ana Frango Elétrico iniciou sua carreira
musical em 2018, com o lançamento de seu primeiro álbum, “Mormaço Queima”, e desde então tem ganhado cada vez mais popularidade dentro do nicho mais alternativo de música brasileira. Enquanto seu som é caótico e criativo, as letras são divertidas e se pautam pela musicalidade dos fonemas interagindo entre si pelos versos cantados. Em 2019 lançou “Little Electric Chicken Heart”, inclusive indicado ao Grammy Latino na categoria “Melhor álbum de rock em língua portuguesa”.
Também é conhecida por outras incursões no meio artístico. Experimentou com
pintura, poesia, escultura e ilustração. Por isso, lançou livro em 2020, “Escoliose: paralelismo miúdo”, reunindo uma série de obras concebidas pela artista entre 2015 e 2019.
Atualmente se apresenta ao vivo se despedindo do repertório de “Little Electric
Chicken Heart” enquanto também se encontra gravando em estúdio para, no futuro, lançar seu terceiro álbum de inéditas.
Crédito da foto de capa: Hick Duarte (@hickduarte) / Reprodução do instagram da artista.