14 de outubro de 2025

“Os americanos acreditam que ainda se ouve muita bossa no Brasil atual”, diz o músico brasileiro Dado Sá

8 de outubro de 1962. Aproximadamente 2.800 pessoas na plateia do Carnegie Hall, a casa de shows mais importante de Nova York à época, recebiam e aplaudiam de pé um grupo de músicos brasileiros, os mesmos que na capital fluminense compuseram e cantaram “Garota de Ipanema”, “Desafinado”, “Samba de Uma Nota Só”, entre tantos outros. O show foi gravado por veículos da imprensa internacionais (como CBS, Voz da América e BBC) e transmitido no Brasil pela Rádio Bandeirantes.

Com identidade musical original, a bossa nova uniu o jazz à percussão típica brasileira do samba. Diferentemente da característica espetaculosa da música brasileira midiática que a antecedeu, com sua elegância e simplicidade o gênero ganhou o mundo à partir do histórico show no Carnegie Hall.

Mas e hoje, século XXI, ano 2025, essa ainda é uma realidade? A bossa nova permanece referência para artistas e públicos estrangeiros? Dado Sá, cantor, compositor, instrumentista e produtor musical brasileiro há mais de 25 anos nos EUA confirma a tese com base na sua vivência, em seus shows e nos shows que assiste e nas ruas e bares da Terra do Tio Sam. Para ele, a influência da bossa nova é inquestionável e de importância ímpar principalmente no universo do jazz, ontem e hoje.

“Os americanos tem muito respeito pela bossa nova. Sobretudo ela, mas toda música que vem do Brasil é considerada de alta qualidade por sua complexidade melódica, percussiva e credibilidade de artistas brasileiros em geral. A música brasileira dentro de qualquer métrica ou ritmo possui muita melodia e ginga, balanço… e isso é associado de imediato. É muito como o futebol que tem a reputação… se vem do Brasil vai ser bom.”, disse ele, que vive em Denver, capital do colorado.

O músico, que tem a bossa nova como referência principal em suas composições e gravações, reforça a importância histórica do movimento, o que já garante o respeito e a admiração dos americanos, que tiveram seus gêneros musicais, artistas e mercado fonográfico influenciadas por ela. “Tudo começou no final dos anos 50 e foi se transformando e influenciando vários gêneros musicais ao redor do mundo, principalmente nos EUA. Acho que a receita inicial foi aquela mistura de samba e jazz com uma sincopação inusitada que causou admiração no mundo musical… e isso é o que mais me atrai pessoalmente.”

Esse cenário foi propício para Dado Sá. “Isso dá tanto uma oportunidade para o músico brasileiro como uma responsabilidade de manter um patamar de excelência e criatividade. Para mim é um desafio sempre animador. As músicas que componho são muito relacionadas a Bossa Nova não só por um aspecto melódico, mas também a tendência de navegar num ritmo um pouco assimétrico das cordas, percussões ou canto… E sempre tenho espaço com este repertório”.

Não é à toa. A bossa está presente no cotidiano do americano. Dado Sa conta que as músicas brasileiras, sobretudo a bossa nova, tem espaço garantido nos bares e até mesmo nas ruas dos EUA. “É muito fácil encontrar em uma apresentação de jazz em qualquer parte do país, algumas canções de bossa, se não várias nos repertórios. De uma maneira pessoal eu fui uma vez convidado por um baixista amigo que se formava em um mestrado em música de uma Faculdade muito conceituada, para uma apresentação conjunta. Um dos requerimentos era interpretar uma bossa… veja só a credibilidade do estilo, que bacana!”

Para Dado, todos os músicos da fase inicial da bossa nova estão eternizados na cultura americana, mas ele destaca João Gilberto, Tom Jobim, Astrud Gilberto e Sérgio Mendes, e diz que a influência da bossa, por ter presença forte no mercado atual, faz com que novos artistas do gênero apareçam. “Com isso, os americanos acreditam que ainda se ouve muita bossa no Brasil atual, e também samba. É importante mencionar que alguns americanos mais musicais e em sintonia com gêneros também conhecem baião, pagode e muitos outras modalidades brasileiras, assim como conhecem e apreciam os músicos Yamandu Costa, Edgberto Gismonti, Sivuca, Luiz Gonzaga e muitos outros que fazem muito sucesso.”

Contudo, a bossa é hoje parte de uma cultura world music nos Estados Unidos da América. “O público americano é muito vasto e diversificado em matéria de apreciação musical. E hoje em dia o público americano também é muito diversificado culturalmente… existem americanos de todas partes do mundo, o que cria uma apreciação musical e influências muito lindas e ricas.”, definiu Dado Sa.

Escute a discografia de Dado Sá no Spotity

Crédito da foto de capa: Dado Sá em saio fotográfico de Jefferson Alcântara, registrado neste abril de 2025 em Sousas, São Paulo.

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