Este artigo é dividido em três partes. Esta é a primeira, intitulada por seu resenhista Tiago Santos Souza como “EU”, onde é feita ligação entre o curta e o processo criativo pessoal de Tiago
“Eu sou virginiano. E os virginianos são assim. Eles pensam tanto na hora de fazer alguma coisa que na hora de fazer “eu tô de saco cheio”, “tô cansado”. E é aí que vem o problema. Porque… foi muito tempo investido. Em projetos… pensando… e o resultado disso é que na pratica, o filme não acontece. E a gente acaba colocando a culpa nas pessoas que realizam. E o filho do artista famoso que realiza seus filmes… ou então no produtor que não descobriu sem talento… nas políticas públicas porque você não consegue vencer um edital. Mas as vezes nem entra no edital você entrou e fica falando mal… é uma situação muito triste. Ou transfere a culpa pra astrologia. Que é o que estou fazendo agora. É uma espécie de auto sabotagem. A parte mais triste é que o filme não é feito.”
Gilberto Scarpa, diretor
Assisti este curta mudou totalmente o meu cronograma. O filme que estava programado para ser o próximo depois de “O Dia que Dorival Encarou o Guarda” era “Lulli”. Filme lançado em dois mil e um estrelado por Larissa Manoela. Eu até tinha feito o texto e estava pela metade. Mas… este curta mudou toda a dinâmica. Não me perguntem como eu vim parar neste projeto. Porque eu também não sei. Ou pelo menos não consigo me lembrar enquanto eu escrevo este artigo. Eu cheguei a assistir duas vezes seguidas. Ali, eu tinha achado algo melhor e mais impactante para mim. A maneira como eu me identifiquei com a história foi… como eu posso descrever? Mágico? Talvez? Místico? Não sei. Só sei que apareceu justamente quando eu estava pensando nisso. Pensando em finalmente investir na minha carreira. Até parecia que o diretor estava lendo a minha mente. E se você estiver lendo isso, Gilberto Scarpa. Eu gostaria que parasse com isso. Por favor.
Mais o que tem de tão especial neste curta? Simples. Somente um grande artista contando sobre seus projetos não realizados. Simples assim. Santo joystick! Isso é tão… triste e verdadeiro. Quando se fala em projetos não realizados, a primeira coisa que vem à mente é o que? Ah, o estúdio não gosta de bancar filmes de novatos, o filme é o original demais, é genial demais para ser realizado agora, ninguém vai entender a grandiosidade do filme, estão sabotando o diretor e coisas assim. Mais aqui não. Aqui encaramos a verdade. O que realmente para o artista. Ele mesmo! Não que isso tudo não aconteça, mas eu tenho certeza que a grande maioria das vezes, somos nós mesmos que nos paramos. Nossa autossabotagem, nossos medos de fracassar, de virar uma piada entre os amigos mais experientes e outras coisas.
Eu mesmo escrevo desde de criança. Eu gostava muito de criar continuações de filmes e animes. (mais tarde, jogos também) eu me lembro de uma sequência do “Senhor dos Anéis”. Se tratava de uma história com o foco em Aragor. Focava no reino dos homens. Aragor, agora como rei (alguns anos depois do “O Retorno do Rei”) teria que lidar com um suposto novo senhor do escuro tentando fazer outro anel do poder. Não só isso, como também o reino dos homens era constantemente atacado por criaturas das trevas. Não cheguei ir muito longe. Mais o Aragor não teria muita paz neste livro. Ele até perdia um braço. Mais no futuro era recompensado por isso. Mas eu não consigo me lembrar do resto.
Eu não sabia na época, mas o que eu tinha escrito era uma fanfic. Se eu tivesse esse conhecimento e de como colocá-lo na internet…. o que aconteceu com o texto, você me pergunta? Bom, digamos que eu dei para o meu professor de português corrigir e ele nunca mais devolveu. Eu poderia ter ido atrás? Poderia. Mas era algo constante que acontecia comigo. Eu não achava minhas ideias boas para um projeto. Eu não me achava suficiente. Eu escrevia e jogava fora. Desenhava e rasgava. Toda arte feita por mim, eu considerava fraca, feia e sem nenhum traço de genialidade. Eu me comparava com os homens que eu queria alcançar. Akira Toryama, Masashi Kishimoto, Kentaro Miura, Tolkier, R.R. Martine, muitos outros. Isso acabou me colocando num eterno limbo de “quando eu chegar numa determinada altura e conhecimento, eu faço.” Passei anos me dizendo isso, até que em dois mil e dezenove, eu cansei disso. Finalmente, depois de poucos dez anos de pura auto sabotagem. Eu finalmente decidi seguir meu coração e escrever primeiro livro. Descobri que tinha uma plataforma chamada Whattpad que publicava seus livros gratuitamente em seu site, tudo que precisava fazer era uma conta. E foi assim. Em março daquele mesmo ano eu comecei a escrever meu livro. Era mágico! Finalmente! A história era sobre um homem que desaparecia numa noite ao ser confrontado por uma presença possivelmente sobrenatural. A trama seguia de quatro pontos de vista: (1) a da esposa dele investigando o que aconteceu; (2) a dois detetives também investigando; (3) a do homem que desapareceu (essa era interessante porque revelava o que estava acontecendo com ele enquanto os outros investigava) e (4) trama de pessoas normais tendo suas vidas afetadas por este fenômeno. Resumindo, era uma trama alienígena. O homem que desapareceu era um cientista. trabalhava em uma descoberta de um buraco de minhoca que dava para outra dimensão. A dimensão do povo das sombras. Uma raça que não sabia da existência da luz. Literalmente. E foram atraídos pela sonda magnética que eles enviaram. O problema? Eles estavam em guerra com outra raça. Adivinha para quem sobrou? Acertou! Pra nós!
Mais aí… adivinha de novo? Eu terminei a história? Não. Eu nem sequer cheguei nesta parte que acabei de contar. Esta abandonado desde dois mil e dezenove. Isso mesmo. Em março irá fazer cinco anos. Cinco anos!!! Isso porque eu nem falei dos meus curtas, roteiros, peças, mangas, quadrinhos e um monte de outras coisas que acabei desistindo de realizar.
A questão principal aqui é: Quem você seria se aquilo que te paralisa hoje não existisse? Quem você seria se escrevesse o livro que tanto desejava? Quem você seria se os desenhos que você julgava ruins, fossem apresentados ao público? Quem você seria que estes longos anos, meses, dias e horas que você está perdendo de autossabotando, estivesse feito tudo aquilo que disse que ia fazer? Quem você seria se tivesse este conhecimento lá trás? Eu sei que não é bom ficar se comparando e contando com algo que provavelmente nunca existiu. Mas até isso é um pensamento perigoso. Pensando assim, isso te mantem num grau de “está tudo bem e tudo ao seu tempo”. O mantendo numa zona de conforto produzida por sua auto sabotagem. Logo, toda a sua vida e existência será marcada com “O momento certo vira”.
Sinopse: Nos moldes dos documentários em que diretores de cinema famosos falam de seus filmes, com o respaldo de comentários de grandes atores hollywoodianos sobre seu talento e genialidade, “Os Filmes que não fiz” mostra de forma divertida e cínica a filmografia de um realizador completamente desconhecido que tem muitos projetos e roteiros, mas não tem nenhum filme produzido. (Fonte: Porta Curtas)