Enquanto no banco, ao lado da janela deste ônibus, lembro-me dos nossos momentos, me pergunto o que te levou a destruir tudo que construímos por causa de um momento de prazer que não demoraria nem cinco horas. N’outro dia tu iria para casa emocionalmente arrependida e triste.
Não esperava isso de você, pois, todos os momentos vividos entre nós dois foram maravilhosos a ponto de não fazer sentido querer viver a mesma coisa com outra pessoa. Éramos o tipo de casal apaixonado que não se abalava com opiniões ou ventos ao contrário. Porém, pensei que houvesse fidelidade, e não havia.
Agora neste barco tento navegar sozinho, indo contra o vento, a bebida e o cigarro só me trazem vazios impreenchíveis. E tudo bem, todo inicio, tem seu meio e fim e entre duas pessoas, só há permanência se ambos quiserem e você não quis. Eu te enxergava com outros olhos, muito mais bonita que a própria monalisa e tão cheia de detalhes quanto os girassóis de Van Gogh; só que, a maneira que você partiu, acabou me partindo ao meio, e agora o vento sopra o resto do meu coração. Estou em uma noite estrelado, tão bagunçado quanto Bukowski e menos amado que o Jorge.
Ouvindo Vento no Litoral, e imagino a linha do horizonte, apontando sozinho, pois, na época nós dois queríamos definir uma direção e traçá-la. Você não foi qualquer pessoa em minha vida, até a sua passagem de ida, somente de ida, me trouxe aprendizado. E até o Tio José disse para mim, ”escreva para ela, e ela entenderá um dia, quando relê a sua carta, daqui há dez anos, quem sabe?”, eu aprendi que o tempo é a resposta, além de curar, fere.
Não desejo o seu mal, de maneira alguma, só espero sua felicidade, e se algum dia se esbarrar comigo pela vida, não me veja como uma passagem ruim em sua vida. Eu te ensinei que o amor é muito mais que palavras ou demonstrações bregas de afetos, ou pelo menos tentei. Fui até um ótimo professor, mas você não quis ser uma ótima aluna…
Eu ainda amo você,
com amor,
Paulo.
[HISTÓRIA FICTÍCIA]