6 de outubro de 2024
Extras Mais publicações

FAROL DE HISTÓRIAS – Projeto audiovisual que aproxima crianças da leitura

Para Michelle Peixoto e Vinícius Mazzon, a literatura tem seu jeito mágico, prático e divertido de chegar às crianças brasileiras. A formula recém apresentada por eles é “Farol de Histórias – Contos para Acender a Cachola”, projeto idealizado e mediado em parceria com a Travessia – Arte e Educação.

São 46 episódios em vídeo já disponíveis: 23 de contação de histórias, narradas por Vinícius, entre contos da literatura nacional e oral. Os outros 23 episódios são com Michelle, que apresenta ludicamente e discute livros brasileiros e estrangeiros, a fim de causar reflexões.

Clique aqui para ter acesso

Nós entrevistamos Vinícius e Michelle, que se disponibilizaram para oferecer mais informações aos pais e cuidadores, responsáveis por crianças e pré-adolescentes entre 5 a 12 anos de idade, faixa etária à qual o projeto é indicado.

Confira!

Matheus Luzi – Se apresentem, por favor!

Vinícius Mazzon – Tenho 45 anos e nasci em Campo Largo – PR, onde aprendi a montar em onça e tantas outras coisas sem serventia. Muitos anos mais tarde entendi que a vida não é útil, o que reforçou em mim a vontade de jogar conversa fora e observar os marimbondos. Me formei em artes cênicas e há quinze anos me dedico a contar histórias para crianças.

Michelle Peixoto – Eu nasci no Rio de Janeiro e cresci ouvindo estórias da minha mãe, o que me despertou o interesse desde cedo pela literatura. Depois de me formar em Pedagogia e de trabalhar alguns anos em livrarias com literatura infantil, juntei essas duas experiências e tornei-me mediadora de rodas de leitura para crianças, além de ministrar cursos para educadores e bibliotecários. Estou há 13 anos em Curitiba, onde atuei como professora de educação infantil, de ensino fundamental e como contadora de histórias.

Matheus Luzi – Suponhamos que sou a família de uma criança, e pergunto a vocês: o que é o Farol de Histórias?

Vinícius Mazzon – É como um livro para ser assistido. Lá vocês encontram 46 histórias para crianças de 4 à 12 anos. São contos tradicionais e também contemporâneos. Cada episódio dura uns 10 minutos.

Michelle Peixoto – O Farol é um momento pra abrir a cachola com histórias luminosas e também questionamentos instigantes. Nos vídeos que apresento, eu provoco as crianças e as famílias para pensarem sobre as histórias que li, trocando idéias uns com os outros. A proposta é compartilhar e prolongar a experiência da leitura.

Matheus Luzi – Mencionem até três histórias que integram os 23 episódios da série.

Vinícius Mazzon – Histórias que gosto muito: “A Morte e a Velha”, “A Velhinha que dava noma às coisas” e “Um Corcunda no baile”. São indicadas especialmente para crianaçs de 08 a 12 anos.

Michelle Peixoto – Eu tenho afeição especial pela sequência de 4 histórias com a personagem da Jamela, uma menina africana muito divertida. Além das histórias serem adoráveis, as ilustrações também me agradam muito!

Matheus Luzi – O Farol já iniciou sua programação. Quais feedbacks vocês já receberam?

Vinícius Mazzon – Da Secretaria de Educação de Curitiba recebemos um retorno muito positivo. Avaliaram e gostaram muito do conteúdo, que agora está disponíel para as escolas municipais. Mas precisamos de um tempo a mais para avaliar a recepção da série no YouTube.

Michelle Peixoto – Para mim, o melhor feedback é sempre o das crianças. Alguns amigos meus que assistiram com seus filhos me deram um retorno muito gratificante, dizendo que as crianças adoraram. Também recebi com muita gratidão a aprovação de algumas autoras dos livros que eu escolhi para o projeto, como a Georgina Martins e a Rossana Ramos. É uma responsabilidade a gente levar a obra desses escritores para o público e fico feliz em saber que a missão foi bem cumprida!

Matheus Luzi – Qual o processo pedagógico utilizado em “Farol de Histórias”?

Vinícius Mazzon – Nossa idéia é apresentar a literatura como arte e os episódios serem momentos de fruição. Apresentamos a literatura sem a proposição de trabalhos ou atividades extras porque queremos valorizar a experiência literária em si mesma.

Michelle Peixoto – Se há um aprendizado por trás do processo, é o de que a leitura pode ser compartilhada, assim como a escuta de histórias orais. E que as histórias não existem apenas para aprendermos a norma culta da língua, estruturas gramaticais ou coisas do gênero. Elas são antes de tudo um alimento para a alma humana, nos ensinam a nos colocar no lugar de outras pessoas (reais ou fictícias), viver suas experiências e ampliar nosso repertório afetivo, social, intelectual. À parte isso, nós oferecemos no projeto um vídeo especialmente para os professores e agentes de leitura, com dicas de como iniciar um trabalho de incentivo à leitura, que eles podem aproveitar em suas rotinas dentro de escolas e bibliotecas.

Michelle Peixoto em foto de Lucas Rashinski

Matheus Luzi – Vamos de reflexão. De 0 a 10, qual pontuação vocês dão para a dificuldade das crianças/adolescentes de adentrarem no universo da leitura? E mais: qual a origem do problema?

Vinícius Mazzon – A questão da leitura é uma questão cultural. Depende muito da família e dos adultos que rodeiam a criança. Se são leitores, provavelmente a criança será também. Se não são, a criança vai depender que apareça um adulto para mediar a relação dela com o livro, um adulto que apresente a leitura como fonte de prazer e descoberta.

Michelle Peixoto – Não sei se consigo pontuar essa dificuldade, mas percebo que em adolescentes há uma dificuldade maior em manter o encantamento pelos livros do que em crianças. O acesso aos games, à internet e às redes sociais, além da quantidade muito maior de séries e filmes, A linguagem audiovisual acaba tomando um lugar bastante grande tanto na infância quanto na adolescência e na vida adulta. Outra questão é o acesso ao livro, que no Brasil é ainda muito restrito às classes e às cidades mais ricas – que é o caso singular de Curitiba, uma das capitais que mais investe em bibliotecas escolares e públicas. Por fim, há um histórico muito importante a ser considerado: até 50 anos atrás, o Brasil era um país de maioria analfabeta, com um déficit escolar gigantesco. Não é fácil você transformar 450 anos de cultura iletrada, é preciso grande investimento na educação e na promoção da literatura, isso precisa ser uma prioridade.

Matheus Luzi – Deixo este espaço em aberto. Carta branca!

Vinícius Mazzon – Deixo meu convite para vocês conhecerem o Canal Parabolé, no YouTube. Além do Farol de Histórias, tem muito conteúdo de qualidade para crianças, jovens, pais e educadores.

Michelle Peixoto – Eu espero que os leitores gostem da seleção que fizemos de histórias da tradição oral e da literatura infanto-juvenil contemporânea tanto quanto nós gostamos. A leitura é uma aventura, tem seus momentos difíceis, outros muito divertidos, mas sempre vale a pena. Ler é abrir horizontes, é expandir a alma, é alimentar o espírito, a imaginação. A leitura é a arte de enriquecer nossa mente e iluminar nosso coração.

Crédito das fotos: Lucas Rachinski

administrator
Fundador e editor da Arte Brasileira. Jornalista por formação e amor. Apaixonado pelo Brasil e por seus grandes artistas.