(Foto/divulgação)
Cinco integrantes, regionalismo mineiro dos anos 1970 e muito som psicodélico herdado de conjuntos como Grupo Agreste e Grupo Raízes. Assim que apresento a vocês, a banda A Outra Banda da Lua, a começar pelo clipe “Lua”, em preto e branco. O lançamento que mostra as caras dos integrantes, anuncia a chegada do álbum de estreia, com lançamento cravado pelo selo Under Discos.
“‘Lua’ foi a primeira música que eu compus depois que descobri e entendi a beleza de ser o que eu sou. Foi o momento do firmamento. A Outra Banda da Lua apareceu na minha vida como um lugar onde pude experimentar todas as coisas que eu nunca tive oportunidade, com relação a personalidade, estética, etc. Eu pude pirar de verdade. Me mostrou o que era possível e que todas as coisas que eu sempre sonhei eram possíveis.”, explica a compositora e vocalista da banda, Marina Sena.
“Lua” foi composta por Marina Sena especialmente para a banda, como ela explica: “Demonstrando o que esse momento representava pra mim, enquanto mulher, mulher norte mineira, mulher de Taiobeiras(MG) que não tinha acesso a essa perspectiva tão ampla sobre viver da música, da arte, estar dentro disso de verdade.”
Ela continua seu depoimento: “‘Lua’ é sobre o meu amor pela banda mesmo, “nem sei se vou dormir agora que eu descobri o amor” eu realmente estava descobrindo. A Outra Banda da Lua me mostrou o amor e Lua é como se fosse uma cartinha de amor pra banda.”
SOBRE A BANDA
O grupo se baseia muito no “recente ditado” de que “O Brasil é o mundo”. Isso porquê dentro do país, há um mosaico que mescla várias culturas, ou se não, todas. A explicação é que uma banda de Montes Claros/MG consegue empoderar sua sonoridade e poesia com ritmos e harmonias de todos os cantos do mundo, e cria assim, um som universal, sem fronteiras e sem barreiras.
Apesar disso, o grupo vem de várias influências do movimento tropicalista, do Clube da Esquina, da Vanguarda Paulista, dentre outras. Em 2020, o grupo lança o primeiro disco homônimo.
(Crédito: Sarah Leal)
O grupo nasceu em 2015, e mais de uma vez, foi contemplada com o Prêmio de Música de Minas Gerais. Também se apresentou em festivais como FESTIVALE, Encontro cultural de Milho Verde, Festa Nacional do Pequi, Psiu Poético, Festival CHACOALHA, Mostra de Cinema de Tiradentes, Festival de inverno de Brasília de Minas, Festival de Inverno Grão Mogol e Festival ROLÊ.
A banda é formada por Marina Sena – uma das vozes femininas do estouro mineiro Rosa Neon – e ladeado por Matheus Bragança (baixo e voz), Edson Lima (violão, guitarra e backing vocal), Mateus Sizílio (bateria) e André Oliva (guitarra e percussão).
– Não dá para assistir o clipe “Lua” sem pensar na psicodelia.
MATHEUS BRAGANÇA: A psicodelia com certeza é um dos temperos mais presentes no nosso trabalho. E “Lua” dentre as músicas que compõe o nosso disco, é sem dúvidas a mais introspectiva e a que nos permitiu explorar de forma profunda, sonoridades, ambiências e sensações que até então não havíamos experimentado, e isso de certa forma também foi presente no processo de gravação do clipe, onde Vito Soares (nosso querido amigo e videomaker que dirigiu o clipe), captou essa essência d’uma forma única, chegando num resultado bastante experimental e psicodélico, que mexe muito com as sensações de quem assiste e que nos agradou bastante.
– Qual é a história do clipe? Como foi planejado, os bastidores, as locações, etc…
MARINA SENA: O clipe foi planejado de uma forma muito orgânica, a primeira locação que gravamos foi numa praia em Arraial Dajuda, que por coincidência eu e Vítor estávamos lá juntos na mesma semana em 2017, aproveitamos pra fazer umas cenas no mar pra entender o que seria o clipe ainda. As imagens ficaram guardadas até que decidimos terminar o clipe pra ser o primeiro single do processo de lançamento do disco.
Escolhemos nesse segundo momento paisagens típicas do sertão de Minas Gerais, pra frisar bastante a ideia da música que é a de uma mulher loba/onça, descobrindo o amor próprio, e sendo essa mulher eu, o ideal seria realmente a paisagem que me fez estar completamente presente no clipe.
Convidamos alguns amigos pra ajudarem a gente a produzir isso, um deles foi Bernardo da Super Camera de BH, que fez algumas cenas com uma Super 8, dando aquela dramaticidade analógica pro clipe que fez toda a diferença. Além de Sarah Leal, fotógrafa e artista cabulosa, Gabi Brum, Júlia Marques, Anna Maria Castro, Tainá Castro, Luna Guimarães que atuou no clipe, e várias ajudas indiretas que a gente sempre recebe.
Num outro momento colocamos cenas no estúdio, onde eu estava com um microfone e mais com cara de Diva, pra dar a entender que a mesma Marina diva no palco é a Marina que veio do mato, do sertão, cabocla e que uma não anula a outra, muito pelo contrário, uma fortalece a outra.
– Qual é o conceito de “Lua”? É incrível a quantidade de reflexões que é possível fazer acerca.
MARINA SENA: “Lua” foi a primeira música que eu compus depois que descobri e entendi a beleza de ser o que eu sou. Foi o momento do firmamento. A Outra Banda da Lua apareceu na minha vida como um lugar onde pude experimentar todas as coisas que eu nunca tive oportunidade, com relação a personalidade, estética, etc. Eu pude pirar de verdade. Me mostrou o que era possível e que todas as coisas que eu sempre sonhei eram possíveis.
“Lua” foi uma música que compus especialmente pra banda, demonstrando o que esse momento representava pra mim, enquanto mulher, mulher norte mineira, mulher de Taiobeiras (MG), que não tinha acesso a essa perspectiva tão ampla sobre viver da música, da arte, estar dentro disso de verdade. “Lua” é sobre o meu amor pela banda mesmo, “nem sei se vou dormir agora que eu descobri o amor” eu realmente estava descobrindo. A Outra Banda da Lua me mostrou o amor e Lua é como se fosse uma cartinha de amor pra banda”
(Cena do clipe – Altura: 3:57)
– Eu vejo muito na banda, a partir de “Lua”, que é uma boa oportunidade para todos vocês experimentarem novas sensações na música, e o melhor, de forma profissional.
MATHEUS BRAGANÇA: “Lua” de fato é um marco para nós. Pelo o fato de ser o primeiro single dessa etapa que vai desaguar no nosso primeiro disco, acredito que seja um trabalho que vai proporcionar que o nosso som quebre as barreiras das montanhas de Minas Gerais e reverbere por locais onde a gente ainda não frequentou. E isso para quem produz música autoral no interior das Geraes é muito, mas muito significativo.
– Vocês dizem terem referências musicais direto do movimento tropicalista. Onde “Lua” entra nisso tudo, na opinião de vocês?
MATHEUS BRAGANÇA: O movimento tropicalista sem dúvidas é uma das grandes referencias dentro do nosso trabalho como um todo, especificamente na canção “Lua” creio que isso entre naquele lance de conseguir absorver tudo que nos respiramos musicalmente, tanto a música internacional quanto a regional, digerir isso tudo e conseguir expressar isso d’uma forma que que soe como algo nosso, do nosso lugar. E isso era uma das características do movimento tropicalista e acreditamos que “Lua” seja um exemplo disso também.
(Trecho da entrevista)
– Outra marca forte da banda é a questão regionalista. Peço duas reflexões: a primeira é sobre “Lua” e a relação com MG. A outra é sobre o mercado musical, a cena que está em ativa em Minas Gerais.
MATHEUS BRAGANÇA: Marina compôs “Lua” em um momento em que ela teve uma aproximação mais forte da música mineira. E na música isso fica claro na levada característica de Minas; na introspecção da letra e da sonoridade que é recorrente nos compositores mineiros, aquele velho lance de você olhar para o horizonte e não enxergar o horizonte, enxergar uma montanha, daí o interno se sobressai e você passa a olhar pra dentro e fazer reflexões bem introspectivas; outra questão são os tambores na parte final da música que de certa forma remete ao tambor mineiro que é super presente na nossa região (Montes Claros – MG).
Sobre o mercado e cena que está ativa em Minas, eu acho que é um cenário que está se reinventando de uma forma muito interessante. Os artistas mineiros estão conseguindo, mesmo que de forma ainda tímida, tendo referência a quantidade de trabalhos incríveis que nós temos no estado, a conseguir projeção, figurar em listas, festivais e chamar atenção do resto do pais pro que se passa por aqui. E isso, acredito eu, se dá muito pelo fato da cena estar em um momento único e efervescente como há tempos não se via, e além disso, ter começado a entender d’uma forma profissional como o atual mercado da música tem funcionado, e partir daí ter feito a roda girar. Trabalhos como “Djonga”, “Hot e Oreia” e “Rosa Neon” são exemplos de que é possível sim quebrar essa barreira, mesmo que ainda seja difícil.
– Um projeto tão intenso como o de vocês, causa curiosidade nos bastidores. Dentro disso, como é a relação entre vocês? O processo criativo, ensaios, gravações, produção, etc.
MATHEUS BRAGANÇA: A nossa relação se dá d’uma forma bem natural, a amizade que nós construímos permite que o processo aconteça de forma fluida, mas pela intensidade que vivemos o nosso trabalho requer também cobranças e disciplina durante o andamento das coisas. Mas de maneira geral o processo criativo é quase sempre bem prazeroso e horizontal. Cada um chega com sua musicalidade e essência e tudo se une num caldeirão bem quente onde o ponto é essa “mistura” que é o resultado final. Mas de fato é um trabalho coletivo que vai além dos cinco integrantes, passa por Rafael Carneiro que é quem assina a produção musical desse trabalho e foi uma peça fundamental durante o processo, e creio que vai além, acho que passa por todos que nos circundam, amigos, artistas, público e por ai vai.