30 de abril de 2024
Música

Ao som do piano, Chico Adnet produz e lança dois álbuns de uma só vez [ENTREVISTA]

 

Parente de grandes estrelas da MPB, como Mario Adnet, apaixonado pelo piano e pelos mais variados ritmos brasileiros, o pianista, arranjador, cantor e compositor Chico Adnet lança duas pérolas de uma só vez, os discos  LEVA NO PIANO (10 faixas) e PIANO (16 faixas), ambos produzidos por ele mesmo, e que trazem ao público o melhor que o piano pode oferecer, além de vozes e outros instrumentos.

“Sou um dinossauro que ama as canções brasileiras e os seus criadores. Acredito que precisamos cultuar a música dos nossos grandes autores ou corremos o risco de fazer um som ralo, sem importância. A música popular pode ser solta, alegre, cantada, do avesso, de trás pra frente, mas não pode ignorar esses mestres”, defende Chico, um trilheiro de mão cheia, sócio da SongBirdTracks, na qual desenvolve a composição de trilhas sonoras instrumentais.

Os discos dão continuidade ao trabalho solo de Chico, iniciado em julho de 2011, com o importante ALMA DO BRASIL, lançado também de forma independente.

 

Abaixo, você confere na íntegra uma entrevista que fizemos com Chico Adnet.

 

Para ouvir as músicas de PIANO completas, clique no botão verde no quadro abaixo.

 

Para ouvir as músicas de LEVA NO PIANO completas, clique no botão verde no quadro abaixo.

 

Para começar. Por que lançar dois álbuns de uma só vez?

Os dois álbuns aconteceram juntos, porque gravei os pianos do LEVA NO PIANO todos em casa. Como o resultado das gravações foi de ótima qualidade, resolvi aproveitar o embalo e registrar também aquele repertório pianístico que estava engavetado desde 1990-92.

Assim nasceu PIANO.

 

De alguma maneira, LEVA NO PIANO e PIANO estão relacionados?

O mesmo compositor, o piano como instrumento eleito, o instrumento da minha paixão.

Mas são discos muito diferentes. LEVA NO PIANO traz canções, músicas com letras, sambas e baladas. Apelidei o disco de “Sambas e Depressões“, um troço um tanto bipolar, pois vai alternado sambas sem vergonhas com canções às vezes tristes pra xuxu.  Mas acho que o ser humano é assim mesmo.

PIANO é música, digamos, de concerto, às vezes mais popular, mas tudo essencialmente piano solo.

 

 Você é um apaixonado pela música brasileira. Nesse sentido, quais foram suas inspirações e influências para a criação dos dois álbuns?

Quando eu era adolescente, eu e meu irmão (o hoje compositor e arranjador Mario Adnet) caçávamos acordes. Me deixe explicar. Tem aquela música linda do Toninho Horta VIVER DE AMOR que tinha uma harmonização encantadora e bastante complexa, mesmo hoje poderia dizer isso. Nós perseguíamos os acordes mais difíceis, às vezes por dias a fio.  Era fascinante. Acho que o nome disso é paixão. E íamos aprendendo as músicas, aprofundando as harmonias… A música foi uma intensa descoberta pra nós.

 E os compositores que estavam no auge naquele momento eram muitos, e de altíssimo nível. Sem querer me alongar, cito apenas o Milton Nascimento de COURAGE de 1969, o Tom Jobim de MATITA PERÊ, 74.  E tinha Deodato, e Zimbo Trio, Luiz Eça  (ANTOLOGIA DO PIANO, de 76),  Ivan Lins , Edu Lobo, Chico Buarque, Hermeto, Gismonti…uma barbaridade!! 

Ali eu fui sendo tragado pela música, pelo bem que me fazia, pela emoção que me causava.

 

De forma conceitual, poético e musical, o que o piano representa em LEVA NO PIANO e PIANO?

Posso responder às perguntas 4 e 5 numa só.  A importância do piano pra mim é muito grande. É o instrumento que elegi depois do começo no violão. O piano que é generoso com compositor e o arranjador. Pode parecer estranho, mas acho que os músicos compreenderiam: o instrumento às vezes como que te sugere uma nota ou um acorde. Os dedos e as teclas também produzem, além da cabeça do compositor.

Então, quis fazer um álbum em que o piano fosse mais do que a base das canções, mas que carregasse muito dos arranjos também. Assim, não sobrou espaço para muitos outros instrumentos. Mas isso nos proporciona ouvir o timbre belíssimo do clarone do Pedro Paes, conversando com a melodia no SAMBA DA FEIRA; o flugelhorn do Aquiles Moraes que parece uma trompa em EU QUERO AS TUAS CANÇÕES; as flautas do musicalíssimo Edu Neves em SAMBA DE COR e da ótima Andrea Ernest Dias, em RUA DA CONCEIÇÃO 25. Todos os participantes são pessoas muito bacanas e músicos competentíssimos, e muito me honraram.  Me permitam citar os outros:  um perfeito trabalho de arranjador do baixista Paulo Brandão em SETE PECADOS CAPITAIS, este também responsável pela gravação e mixagem dos 2 discos; o baixo acústico de Jorge Helder, que além de musical é mais preciso do que um relógio suiço.

Everson Moraes com seu trombone carioquíssimo em SETE PECADOS CAPITAIS, o excelente trabalho do querido Marcelo Costa nas percussões em todos os sambas, a delicadeza do clarinete de Joana Queiroz em BEM VINDA, e o pandeiro do Marcos Suzano,  que parece ter reinventado o instrumento na faixa que emprestou parte do título ao álbum, LEVA NO PIANOLEVA NO PANDEIRO.

 

E quais são os outros instrumentos usados nas gravações? E seus valores?

LEVA NO PIANO tem sambas e baladas, a maioria criados nos últimos 6 anos, desde que lancei ALMA DO BRASIL, meu primeiro trabalho solo, em 2011. Verdade que tem também a balada tristíssima SOLIDÃO, que foi composta há quase 30 anos, e dormia numa gaveta. 

 

Da onde vem o repertório dos álbuns?

PIANO traz composições essencialmente pianísticas que colecionei ao longo dos anos, algumas como estudo, outras com diversas motivações.  A maioria delas foi composta de 1990 a 1992, como é o caso das PEQUENAS PEÇAS, as quais aproveito, na contracapa, para homenagear dez das pessoas que me “empurraram” no meu início como músico.

 

Chama a atenção o fato de que você assina a direção artística e a produção dos álbuns. Como foi essa experiência?

Estar à frente da direção artística do trabalho foi uma coisa natural pra mim, já que me permiti gravar em meu próprio instrumento, em casa, e já que escolhi livremente o repertório e as formações um pouco esquisitas (tem samba sem contrabaixo, tem coisa só de piano com percussão e clarone)…

Um disco assim seria simplesmente impossível no largo tempo em que as gravadoras eram soberanas para decidir o que era bom e o que não era. Seria talvez taxado de desigual, eclético demais.  Só eu mesmo para me dar, como artista, o direito de ser apenas o que sou: desigual.

 

Tem alguma história ou curiosidade interessante que envolva os lançamentos?

Não chamaria curiosidade, mas gostaria de mencionar as participações de Minhas irmãs cantoras Maucha e Muisa Adnet, que fizeram comigo um “dueto de três” no SAMBA DA FEIRA, que lembra aqueles números do Grande Otelo dialogando com vedetes como Virginia Lane em clássicos como BONECA DE PIXE, de Ary Barroso e Luiz Iglesias.

E me diverti muito cantando a satírica SETE PECADOS CAPITAIS com o Pedro Miranda, que canta samba como ninguém.  Simulamos uma apresentação ao vivo e dissemos as bobagens da letra às gargalhadas.

 

 Fique à vontade para falar o que quiser.

Ser pai de gêmeos aos 55 anos há 2 anos e meio me mostrou definitivamente que a vida precisa ser vivida da maneira que se apresenta. Tive que cuidar das crianças, dormir pouco, etc, e mesmo assim toquei dois discos e não deixei de fazer as coisas todas que todos somos obrigados a fazer.

Com um saldo de alegrias bem maior do que o das tristezas, tenho o privilégio de fazer um tributo ao instrumento que tanto tem enriquecido a minha vida, sempre reverenciando também aqueles grandes compositores brasileiros, sem os quais eu não teria trilhado o caminho da música.

 

 

 

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Fundador e editor da Arte Brasileira. Jornalista por formação e amor. Apaixonado pelo Brasil e por seus grandes artistas.