(Foto/Divulgação)
Quando a melodia da música caipira encontra a estrutura musical de uma orquestra, o resultado é uma homenagem emocionante aos compositores que marcaram época cantando as belezas do interior do país. É esta a experiência que o projeto ConSertão propõe ao público, com concertos em homenagem aos compositores da música campesina.
O projeto foi concebido pelo músico Cláudio Lacerda como uma forma de elevar a música caipira a um patamar que ela merece, valorizando a cultura do campo. “Isso é uma bandeira para mim! O repertório é formado por clássicos do gênero, por canções que ajudaram a moldar a identidade cultural de São Paulo e algumas partes de Estados vizinhos, região definida como Paulistânia”, revela Cláudio.
Os principais compositores e intérpretes da música caipira são naturais do Estado de São Paulo, e, portanto, nada mais natural que os homenageados sejam na maioria paulistas, como Teddy Vieira, João Pacífico, Raul Torres, Angelino de Oliveira, Palmeira, Elpídio dos Santos, entre outros.
O projeto iniciou no ano passado, por meio do Programa de Ação Cultural da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo (ProAC ICMS), no formato de itinerância de concertos ao ar livre, tendo já passado por 9 cidades do estado e atingido cerca de 30 mil pessoas.
Sua primeira edição, em 2018, passou por Piracicaba, Barra Bonita, Paraguaçu Paulista, Araçatuba e Araraquara. Com o sucesso das ações, em 2019, a segunda edição chegou a Piracicaba, Brotas, Assis, Andradina e São José dos Campos.
O REPERTÓRIO
É composto por “Boiadeiro Errante” (Teddy Vieira),“Triste Berrante” (Adauto Santos), “Cabocla Tereza” (Raul Torres e João Pacífico), “Disco Voador” (Palmeira), “Cheiro de Relva” (Dino Franco e Zé Fortuna), “Saudade da Minha Terra” (Belmonte e Goiá), “Chitãozinho e Xororó” (Serrinha e Athos Campos), “Você Vai Gostar” (Elpídio dos Santos), “Chuá Chuá” (Pedro de Sá Pereira e Ari Machado), “Tristezas do Jeca” (Angelino de Oliveira), “Chora Viola” (Lourival dos Santos e Tião Carreiro), “Romaria” (Renato Teixeira), “Vide Vida Marvada” (Rolando Boldrin).
SEM ELES, NÃO HAVERIA CONSERTÃO
Cláudio Lacerda, além de idealizar de todo o projeto, apresenta-se como a voz principal nos espetáculos. Sua carreira, dedicada à música caipira, fala por si só. Diretor da Cantoria Produções Artísticas, já lançou cinco discos e coleciona participações de artistas essenciais para o gênero, como Renato Teixeira, Rolando Boldrin, Dominguinhos, Tinoco e Pena Branca.
(Retrato de Cláudio Lacerda e Neymar Dias – Foto/Divulgação)
Acompanhando Lacerda na voz há sempre um artista convidado ligado à música caipira, como Lula Barbosa e Rodrigo Zanc, que participaram das duas primeiras edições. Já o responsável pelos arranjos para a orquestra é Neymar Dias, que também assina a direção musical do projeto e é quem empunha o mais emblemático personagem da cultura campesina: a viola caipira.
As duas vozes e a viola caipira são embaladas por uma orquestra convidada. A Orquestra de Câmara de Piracicaba foi o conjunto que acompanhou as duas primeiras edições do ConSertão.
– Cláudio, obrigado por aceitar essa entrevista.
Imagina, é um prazer falar sobre o ConSertão
– Aquela perguntinha óbvia que não poderia faltar. Como surgiu essa ideia linda (e inusitada) de criar o Consertão?
Nasceu de um sonho de cantar com uma Orquestra Sinfônica. Quando imaginei a possibilidade de juntar esse sonho com um repertório de canções caipiras, me veio o nome ConSertão, que pra mim é muito significativo pra essa união erudito – caipira.
– Houve um processo de estudo para que o show de Consertão seja um sucesso?
O que houve foi um alinhamento planetário para que as pessoas certas estivessem perto de mim e assim pudéssemos sonhar juntos. Os arranjos tinham que ser do Neymar Dias e a produção tinha que ser da NTZ.
– Particularmente, eu gostei muito da parte didática do show. Achei lindo (e aprendi muito) com as “aulas” que você fez antes e depois de apresentar cada uma das músicas do show.
Muito obrigado! Eu sempre tive um compromisso muito grande de dizer de quem é a música quando a interpreto. Acho muito respeitoso e merecido. Só conheço a Rádio USP em São Paulo que cita os autores além dos intérpretes quando tocam uma canção. Gosto de me aprofundar na biografia dos compositores… isso me faz construir um painel imaginário da história da música caipira e do povo daqui.
– Também achei bacana vocês homenagearem os compositores, dando assim visibilidade a eles, e mostrando que sem o compositor “a vida seria um erro” [HAHAHA].
Não há rio sem nascente!
(Foto/Divulgação)
– Acredito que fazer os arranjos para estas pérolas sertanejas deve ter sido uma tarefa árdua. E quero saber se você já enxergava uma ligação da música erudita com a música sertaneja antes da idealização do Consertão.
Nosso arranjador, Neymar Dias, tem formação erudita, tocou 18 anos em Orquestras, mas seu primeiro e principal instrumento até hoje é a viola caipira. Ele tem essa intimidade com o universo caipira, e capacidade de sobra! E sim, a concepção do projeto foi justamente unir os universos erudito e caipira.
– De que maneira você enxerga as mais variadas fases da música sertaneja (a música raiz, aquela feita nos anos 80 e 90, e a atual conhecida como universitária)?
A música caipira tem uma poesia profundamente enraizada nos valores do campo e de sua gente. É um estilo musical que tem por volta de 30 ritmos diferentes, talvez o mais rico de toda a música brasileira. A música sertaneja dos anos 80 foi modernizada com a introdução de guitarras e maior peso musical, um visual carregado, para conquistar grandes multidões, mas manteve durante algum tempo ou melhor, em certos casos, a raiz campesina. Acho o termo sertanejo universitário duplamente equivocado. Não falam do campo, não se vê poesia e há uma predominância monorrítmica muito pobre, no meu ponto de vista.
– No começo deste ano, o Consertão se apresentou em Andradina-SP, cidade conhecida no meio sertanejo, por ser “tema”, digamos assim, da canção “Rei do Gado” (Teddy Vieira), que se consagrou nas vozes de Tião Carreiro e Pardinho. Eu imagino que a emoção de vocês foi intensa. Estou certo? Como foi essa sensação de se apresentar na Terra do Rei do Gado?
Tivemos a sorte de apresentar o ConSertão em algumas cidades berço de compositores: Piracicaba (Piraci), Barra Bonita (Belmonte), Paraguaçu Paulista (Nhô Pai), Assis (Jacó e Jacozinho). É sempre uma emoção a mais. O mesmo aconteceu em Andradina, quando de improviso, cantamos “Rei do gado” do Teddy Vieira. A plateia vibra e a gente vibra junto!
– Você tem alguma(s) história ou curiosidade(s) interessante(s) para nos contar referente a esse projeto?
Uma coisa interessante de se lembrar, para aqueles que não tiveram oportunidade de nos assistir, é que o ConSertão foi concebido para acontecer em praças públicas, ao ar livre, exatamente para oferecer o acesso à toda a população. Logo na primeira reunião, lembro que tanto eu quanto o Marcos Librantz da NTZ falamos isso quase ao mesmo tempo. Seria uma encrenca do tamanho dum bonde realizar um concerto ao ar livre, mas sabíamos que deveria ser assim.
– Sinta-se a vontade para falar algo que eu não perguntei e que você gostaria de ter dito.
Te agradeço pela entrevista e gostaria de terminar agradecendo também meus parceiros que fazem o ConSertão ser o projeto grandioso que é! A Agência NTZ de São José dos Campos, a Batuta Eventos, também de São José, o Neymar Dias, solista e arranjador, os dois cantores que já estiveram comigo: Lula Barbosa e Rodrigo Zanc, e a Orquestra de Câmara de Piracicaba. Deixo também o convite para que seus leitores conheçam um pouco mais do ConSertão por nossas plataformas digitais no face (facebook.com/consertao) e insta (instagram.com/consertao.oficial).
(Entrevista e edição de Matheus Luzi – Textos da Assessoria de Imprensa)