11 de dezembro de 2024
Entrevista Fotografia Música

[ENTREVISTA] Rodrigo Simas, fotógrafo que viaja o mundo registrando a música

Registro da banda americana Gogol Bordello, no Rio de Janeiro – Brasil, em 2012

 

Ser fã de um artista e trabalhar com ele é um sonho para muitas pessoas. E o carioca Rodrigo Simas realizou esse objetivo. Designer de formação, ele se dedica à fotografia profissional há pelo menos 12 anos, trabalhando especialmente com música, excursionando pelo mundo e fazendo exposições. Autodidata, ele começou a fotografar em 2008, sem focar muito em técnicas e pensando essa atividade como mais uma vertente que poderia oferecer como serviços de profissional freelancer.

Eu sempre fotografei como hobby mas nunca levei a sério. Como designer, tinha uma relação com a imagem e fazia algumas fotos em alguns eventos das bandas que produzia. E com isso fui aos poucos aguçando o olhar”, conta ele.

Na época, Simas trabalhava fazendo serviços de redes sociais da Dave Matthews Band, grupo do qual era e é muito fã. Em 2010, a banda incluiu o Brasil em sua nova turnê latina e passaria pela América do Sul sem fotógrafo. “Eu disse ‘olha, eu vou estar nos shows e posso fotografar’. E foi a primeira grande turnê que eu fiz, assim meio no susto. Eles gostaram e partir dali já comecei a ir para o exterior todos os anos para acompanhar eles para alguns shows. Em 2016, começamos a fazer turnês inteiras juntos”, explica Rodrigo.

 

Divertida imagem de Carlos Malta, integrante da banda Riviera Maya, (Mexico. 2019)

 

O RECONHECIMENTO…

Desde então, já fotografou em eventos como Bonnaroo, Rock in Rio, Monsters Of Rock e o ProgPower Atlanta e já pegou a estrada com Ben Harper, Epica e Blind Guardian. Além de diversas publicações, tem fotos usadas em encartes, artes e capas de CDs, incluindo discos da Dave Matthews Band, do vocalista Ed Kowalczyk (Live), Hamilton de Holanda e artes para Ben Harper. Simas participou de exposições fotográficas com ícones do gênero como Danny Clinch e Rene Huemer, em Charlottesville e em Seattle, nos Estados Unidos, e fez uma individual em Lisboa.

“Quando comecei a ir muito pro exterior, via o trabalho de outros fotógrafos e comecei a me esforçar para melhorar para chegar naquele nível. Afinal, tinha que convencer o pessoal a me tirar do Brasil e me levar pra fotografar quando tinham profissionais perto”, se diverte.

 

Paul McCartney, no Bonnaroo Festival (ESTADOS UNIDOS – 2013)

 

“Minha intenção principal é sempre capturar as emoções que acontecem em um show: os olhares, os sorrisos, a troca.”

 

Matheus Luzi – Rodrigo, muito obrigado por topar esta entrevista. Vamos a primeira pergunta. Seria uma aventura fotografar bandas/artistas, ainda mais em grandes eventos, como por exemplo, no Rock In Rio?

Rodrigo Simas – Sempre é. E isso faz parte da vontade de continuar trabalhando nesse ramo. Ainda mais pra um fã de música como eu – participar de tudo que acontece antes desses shows por exemplo, até a banda entrar no palco, e documentar isso, é uma das partes mais legais do trabalho.

 

Matheus Luzi – O que de fato lhe mostrou este caminho de “fotografar a música”? Quero dizer, o que o estimulou a realizar essa atividade?

Rodrigo Simas – Na verdade foi a Dave Matthews Band, que acreditou no meu trabalho e “deixou” eu fotografar os shows da turnê sul americana deles em 2010. A partir daí o hobby se tornou profissão.

 

Matheus Luzi – Além de fotografar, você teve mais relações com os artistas? Como, por exemplo, trocar ideias?

Rodrigo Simas – Varia muito de artista pra artista e quanto tempo você tem pra ficar com ele viajando ou não. Se você vai fotografar o show apenas uma vez, mesmo que diretamente pro artista, seu contato é pequeno. Mas se você entra em turnê com uma banda e participa de todas as suas atividades, você vai acabar tendo um contato. Os músicos da DMB são amigos pessoais, por exemplo. O saxofonista deles é padrinho da minha filha, inclusive. O vocalista do Blind Guardian se aproximou, o guitarrista do Fates Warning, o pessoal do Epica.

 

Dave Matthews Band, Charlottesville, (ESTADOS UNIDOS, 2018)

 

“Como ser humano, viajar por aí só comprova que todos somos iguais e todos queremos a mesma coisa.”

 

Matheus Luzi – Como fotógrafo e como ser humano, o que você tem aprendido nessa sua aventura de fotografar os artistas?

Rodrigo Simas – Como ser humano, viajar por aí só comprova que todos somos iguais e todos queremos a mesma coisa. As culturas mudam, os costumes são diferentes, mas todos dependemos de amor e de um ao outro. O resto é só baboseira no caminho. Como fotógrafo, o mais incrível é ter acesso a casas de shows históricas e trocar experiências com outros artistas.

 

Matheus Luzi – Como funciona a questão da monetização deste seu trabalho?

Rodrigo Simas – Essa é uma parte complicada. No mercado brasileiro é uma profissão extremamente desvalorizada e é difícil mostrar seu trabalho. Lá fora é mais organizado, não tem tanta gente fazendo de graça (ou quase de graça). Fazendo uma turnê com um artista dá pra ganhar uma grana legal – tem a questão de vender as imagens também.

 

Matheus Luzi – Seria muito legal você falar das suas exposições…

Rodrigo Simas – Participei de exposições sobre a Dave Matthews Band, com ícones da fotografia americana como Danny Clinch. É bem legal ter o nome junto com outros fotógrafos respeitados. Fiz uma exposição só minha em Lisboa, Portugal, e agora estou tentando organizar minha primeira aqui no Brasil.

 

“Essa [A monetização do trabalho do fotógrafo] é uma parte complicada. No mercado brasileiro é uma profissão extremamente desvalorizada e é difícil mostrar seu trabalho. Lá fora é mais organizado, não tem tanta gente fazendo de graça (ou quase de graça).”

 

Matheus Luzi – O quê os artistas fotografados representam para você? E o que você acredita que suas fotografias representam para eles?

Rodrigo Simas – As fotos representam um momento na carreira desses artistas. Um documento de como eles estavam na época, suas turnês e sua interação com os fãs. Minha intenção principal é sempre capturar as emoções que acontecem em um show: os olhares, os sorrisos, a troca.

 

Matheus Luzi – Você tem alguma(s) história(s) ou curiosidade(s) para nos contar sobre este assunto?

Rodrigo Simas – Mesmo já fotografando profissionalmente desde 2010, eu não me considerava um fotógrafo profissional, simplesmente porque nunca tinha estudado pra isso, não tinha conhecimento técnico e talvez ainda não acreditasse 100% no meu trabalho. Um dia, despois de um show, numa festa num hotel estava John Mayer, que eu não conhecia. No meio da festa me apresentaram pra ele como fotógrafo da banda e eu, meio sem graça, falei que “não era um fotógrafo profissional”. Ele olhou pra mim, botou a mão no meu ombro e perguntou “esses caras tão te pagando? Então você é um fotógrafo profissional”. Engraçado ter que o John Mayer me falar isso pra ficha cair.

 

Matheus Luzi – Rodrigo, agora deixo você a vontade para comentar o que quiser.

Rodrigo Simas – Obrigado pelo espaço. Acho importante registrar que aqui, no Brasil, a Dave Matthews Band ainda é uma banda relativamente desconhecida. Mas lá nos EUA eles são uma das maiores da história (foi a banda que mais vendeu ingressos na década passada e a única no mundo que tem 7 discos consecutivos em primeiro lugar na Billboard). São gigantes e viajam em turnê com uma estrutura incrível. As pessoas aqui não têm essa noção. Nesse sentido, me sinto orgulhoso de ser brasileiro e estar nessa posição. É um privilégio e ao mesmo tempo uma escola de valor incalculável.

 

Hamilton de Holanda, Jones Beach, (Nova York. 2017)

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Fundador e editor da Arte Brasileira. Jornalista por formação e amor. Apaixonado pelo Brasil e por seus grandes artistas.