Somos uma revista de arte nacional, sim! No entanto, em respeito à inúmeras e valiosas sugestões que recebemos de artistas de diversas partes do mundo, criamos uma playlist chamada “Além da BR”. Como uma forma de estende-la, nasceu essa publicação no site, que agora chega a sua 283ª edição. Neste espaço, iremos abordar alguns dos lançamentos mais interessantes que nos são apresentados.
Até o primeiro semestre de 2024 publicávamos também no formato de texto corrido, produzido pela redação da Arte Brasileira. Contudo, decidimos publicar apenas no formato minientrevista, em resposta aos pedidos de parte significativa dos nossos leitores.
Arca Sánchez – “DEMONIA” – (México)
– E em qual momento surgiu essa composição, o que a inspirou? Escrevi essa música no ano passado (em 2024) com meu produtor Aivan Beatz. Me inspirei em lendas drag como RuPaul e Divine e nas minhas amigas Mama, Lady V, Sonnata e todas as drag queens que me acolheram quando eu era mais jovem, e eu tinha acabado de começar a me apresentar.
Também me inspirei em Thriller, do Michael Jackson, para adicionar os uivos de lobo ao fundo durante o primeiro e o terceiro versos. Gravei-os eu mesmo. Aliás, gravo todos os meus backing vocals e efeitos sonoros.
– Qual o tema da música, qual sua mensagem? Esta música é sobre uma drag queen feroz que se transforma sob o luar. Nesta história, conhecemos DEMONIA , uma jovem drag queen que, secretamente, é uma bruxa metamorfa! De dia, elas trabalham em um emprego normal das 9h às 17h, mas à noite, se transformam em uma drag queen feroz que domina a cena noturna e rouba todas as coroas!
Mas DEMÔNIA só consegue ficar de fora por um tempo, porque assim que o relógio bate meia-noite, DEMÔNIA se transforma NOVAMENTE em uma criatura parecida com um lobisomem! Eles correm noite adentro e uivam para a lua, escondendo sua verdadeira identidade de todos!
DEMONIA , o videogame/aplicativo, será lançado em breve…
– Em termos de sonoridade, como você descreve essa música? Esta música mexicana de reggaeton tem uma linha de baixo pesada e um refrão cativante. Cheia de significado e bem a tempo para o Mês do Orgulho! Este sucesso dançante de verão é um hino para muitos em nossa comunidade!
– Qual a relação dessa música com a cultura musical do seu país, o México? Esta música foi gravada na linda Cidade do México. Tudo, desde a produção até a letra, foi criado por incríveis talentos mexicanos e negros, refletindo a diversidade cultural e a herança do México em um sentido muito moderno.
– Afinal, quem é o artista Arca Sánchez? Arca Sánchez é a ponte entre o mundo urbano latino e o old school. Ele funde Trap, Reggaeton e Afrobeat com música Gospel e Soul. Arca começou sua carreira cantando para muitas lendas do Soul e Gospel nos EUA. Ele infunde essa experiência musical em suas letras e vocais, tornando sua arte algo verdadeiramente inovador e inspirador! Criando músicas para pessoas de todas as culturas e idades. Unindo verdadeiramente as pessoas através do poder da música!
O artista aceita apoios neste link
Respostas Arca Sánchez
Ernest Ranglin – “I’m Right Here” – Radio Dub – (Jamaica)
– Quando essa composição surgiu e o que a inspirou? Essa peça na verdade começou como uma pequena ideia musical – um núcleo de inspiração que Ernest Ranglin e eu exploramos durante as sessões para nosso lançamento de 2011, Avila. Na época, era apenas um pequeno improviso, algo que eu tinha flutuando na minha cabeça. A banda tocou, nós apreciamos o momento, mas não pensamos muito sobre isso.
Anos depois, continuei ouvindo isso na minha mente. Revivi-a com a ajuda do meu colaborador de longa data, Jim Greer. Juntos, nós a reformulamos – adicionando camadas, trazendo bateria e percussão ao vivo – até que se tornasse a poderosa e emocional faixa que você ouve hoje.
Honestamente, me dá arrepios toda vez que eu a escuto. Há algo atemporal nisso, algo verdadeiro.
– Qual é o tema da canção? Para mim, o tema é inconfundível: é a história da jornada de um herói – a jornada de Ernie. Uma vida de devoção à música, de dar tudo o que tinha ao seu ofício. Ele nem sempre recebeu o reconhecimento ou a compensação que merecia, mas nunca vacilou. Ele permaneceu fiel à música, às suas crenças, e ao fazer isso, tornou o mundo melhor.
Durante uma sessão de gravação, após uma série de imprevistos técnicos, Ernie simplesmente disse: “Estou bem aqui.” Essa frase me tocou profundamente. Nós a sampleamos e fizemos dela o título. Porque a verdade é – ele está bem aqui. E de muitas maneiras, ele sempre esteve.
– Em termos de som, como você descreveria esta canção? É verdadeiramente old school – gravada diretamente em fita analógica de duas polegadas, com aquele calor rico e clássico. Em seguida, a mixamos no Pro Tools, adicionando bateria e percussão ao vivo para dar profundidade e sensação.
Para mim, é a fusão perfeita: tom e textura vintage com um toque de polimento moderno. Parece tanto enraizada quanto viva.
– Como esta canção se relaciona com a cultura musical do seu país, Jamaica? Tudo o que Ernie toca está conectado ao DNA musical da Jamaica. Ele vem moldando e reformulando o som da música jamaicana por gerações – do ska ao reggae ao jazz e além. Esta faixa é a soma viva de sua vida musical: cheia de ritmo, improvisação, colaboração e alma.
Sua forma de tocar nunca é estática – é uma conversa com o passado, presente e futuro da música jamaicana.
– Depois de tudo, quem é Ernest Ranglin e o que este lançamento representa em sua carreira? Para mim, como alguém que teve a sorte de colaborar com ele, este lançamento representa tudo o que Ernie representa: inspiração, generosidade, esperança.
Ele é uma verdadeira lenda – uma alma gentil e visionária que deu sua vida à música. E mesmo agora, aos 93 anos, ele continua a criar beleza. Esta canção é parte de um esforço maior: lançamos uma campanha no Kickstarter para financiar uma caixa retrospectiva única de sua carreira – para honrá-lo, para apoiá-lo e para lembrar ao mundo do que ele nos deu.
Este lançamento não é apenas uma canção. É uma carta de amor para seu legado.
Respostas de Tony Mindel, produtor da música
David Sven – “Holy Weight” – (EUA)
– E em qual momento surgiu essa composição, o que a inspirou? “Holy Weight” nasceu durante uma noite tranquila quando eu estava pensando sobre o tipo de amor que não é fácil ou leve — o tipo que fica com você porque é importante. Eu estava refletindo sobre o peso emocional que as pessoas deixam em nossas vidas, mesmo quando não estão mais lá. Essa sensação — de carregar o nome de alguém como um fardo e uma bênção — inspirou o coração desta canção.
– E a letra, o que especificamente ela diz? A letra fala sobre a gravidade do amor — não o tipo perfeito, mas o real. É sobre ficar quando é difícil, segurar firme quando dói, e carregar alguém com você mesmo que nunca tenha pedido. Não há glória nesse tipo de amor. É silencioso, pessoal e duradouro. As linhas finais dizem tudo: “Apenas minha voz, e este peso sagrado.”
– Em termos de sonoridade, como você descreve essa música? “Holy Weight” é uma balada slow soul-rock a 70 BPM. Começa com uma guitarra elétrica limpa, levemente tremendo com eco — como uma onda lenta e fantasmagórica. A voz é baixa, rouca e ofegante, cheia de peso e calor. À medida que o refrão começa, a banda completa entra com piano constante, bateria ao vivo, guitarra slide e baixo profundo. A arranjo cresce gradualmente, mas mantém espaço para a emoção. O som é solene, emocional e enraizado — como alguém dizendo a verdade no final de um longo dia.
– Como foi o processo de produção musical e gravação em estúdio? A faixa foi escrita e dirigida vocalmente por mim. Eu usei algumas ferramentas baseadas em IA como parte do processo — principalmente para apoiar a arranjo e dar vida à visão musical. Mas cada escolha emocional, desde o ritmo até o tom e a textura, foi guiada por mãos e coração humanos. A masterização foi mantida minimalista para deixar a respiração e a crueza da voz se destacarem. Meu objetivo era simples: fazer com que a música parecesse real, honesta e vivida.
– Qual a relação dessa música com a cultura musical do seu país, os EUA? “Holy Weight” continua a tradição de contar histórias do soul e folk-rock americano. Ela se inspira em artistas que não têm medo de ser vulneráveis — que falam suavemente, mas deixam um impacto profundo. Há um longo legado na música americana de carregar a dor com dignidade, e essa canção se encaixa nessa linhagem. Não tenta impressionar — tenta ser honesta.
Respostas David Sven
Indie Soull – She’s Got It (Main Theme From The Musical, “Who Breaks A Butterfly On A Wheel?”) [Concept Cast Recording] – (EUA)
– Qual é a melhor descrição deste lançamento? “She’s Got It” é o tema principal do musical “Who Breaks A Butterfly On A Wheel” de Indie Soull
– Que tema dá a música, que mundo dirige ou ouve a música? O Musical explora temas de justiça, amor proibido, perseguição e redenção.
– Qual foi a origem da composição? A canção foi escrita por Indie Soull para refletir a euforia do protagonista quando encontra o seu interesse amoroso.
– Qual é a estética musical desta música? A canção é um conceito de gravação de elenco apresentado acusticamente com a utilização de áudio panorâmico para uma experiência de audição envolvente, fazendo com que o ouvinte se sinta na primeira fila de um espetáculo de teatro musical.
– Há alguma curiosidade que gostaria de realçar? Indie Soull já escreveu mais de 100 canções originais que não incluem este novo musical. Segue-me no Instagram: @soullindie
Respostas Indie Soull
Starsetz – “Mochlos Night” – (Dinamarca)
– Qual a melhor descrição este lançamento? “Mochlos Night” é uma faixa divertida e animada, com uma atmosfera onírica de um verão sem fim. Vocais femininos suaves, uma rica paisagem sonora de saxofone, violino e violão, e um groove cativante de bateria e percussão que pode te fazer querer dançar nas sombras.
– Qual o tema da música, qual mundo a música direciona o ouvinte? É uma música onírica de verão sobre noites de luar na praia. Sobre não se cansar.
– E o que originou a composição? A faixa de bateria foi inspirada no ritmo básico que ouvimos muito nas ruas da Grécia no verão passado. Encontramos algumas congas antigas em uma casa onde ficamos e gravei o Tomas tocando. Você ainda pode ouvir o som do oceano na faixa.
A melodia e os vocais foram inspirados pela faixa de bateria e pelo oceano.
De volta a Copenhague, finalizamos a produção com a participação dos nossos filhos, o saxofonista de jazz Teis Ortved (Musvit) e a violinista clássica Thera Ortved (Absalon String Quartet).
– Quais estéticas musicais há nesta música? É uma música que transcende gêneros, com elementos do nu jazz e do dream pop.
– É possível traçar uma relação entre o seu país, a Dinamarca, e este lançamento? “Mochlos Night” é sobre nunca querer sair da festa na praia. Os bons momentos de diversão.
“Mochlos Night” celebra a ânsia pela vida, mas a letra também descreve como a fome por mais nunca acaba.
Há um anseio e uma esperança de união – “no Oceano estamos sonhando” e também, de forma abstrata, um toque de medo ou conhecimento de um futuro de mudanças climáticas com uma Corrente do Golfo em colapso (AMOC) e uma cidade congelada (Copenhague) – “a cidade está congelada”.
Na Dinamarca, somos, em geral, muito privilegiados e ricos, mas também temos uma consciência crescente de como nosso estilo de vida contribui para as mudanças climáticas. Podemos continuar assim?
Mochlos Night é uma canção multifacetada — como a vida — tanto clara quanto escura.
Respostas Starsetz