Os avanços dos meios de comunicação que vivenciamos nas duas últimas décadas tiveram um efeito claro: uma espécie de apogeu da globalização. Em nossas terras brasileiras, costumamos resumir inocentemente esse fenômeno às influencias norte-americanas, que, há muito tempo, interfere de forma mais explícita no modo de vida dos brasileiros. Pode ser que seja a isso que Teresa BZ se refere na sua canção “Desamericanizar”, a metade do primeiro EP que a cantora, compositora e poetisa lançou nos streamings em fevereiro deste ano. Digo isso porque, certamente, Teresa não repudia somente a influência norte-americana em nossa cultura, mas, sim, as ameaças à própria preservação da cultura de um povo, de uma nação, sem ser específico.
A faixa “Desamericanizar”, que foi escrita no final dos anos 1990, é filha da contracultura. A sonoridade abrasileirada e de vários elementos musicais acompanha uma letra ácida em termos sociais. Os versos cantados por uma voz rasgada, lembrança nítida de Elza Soares, pensam o Brasil sob comando dos impérios estrangeiros. Contudo, é interessante que, segundo o comunicado de imprensa da artista, Teresa “não faz disso uma bandeira política, apenas uma maneira de demonstrar que tão ricas cultura e identidade devem ser preservadas”.
Teresa tem suas motivações que vão além do teor político, partindo sempre da ideia cultural. Também psicóloga, Teresa compreende os poderes da música na psique humana. Para ela, “Desamericanizar” provoca vários sentimentos, mas o principal é de construção (ou reconstrução) da identidade cultural nacional. Por fim, enxerga esta música como um protesto. A intensidade deste protesto, entretanto, a coloca em destaque em comparação à quem tentar se aventurar por esta temática.
E não é tudo. “Desamericanizar” também foi ilustrado em clipe, com direção de Derek Tatini (Onemax Cinematic) e com imagens registradas no bairro de Pinheiros, na capital paulista. A proposta anda na linha do áudio: a não-Hollywoodização das produções brasileiras, algo implícito na produção modesta (mas não simples) do vídeo.
A outra metade do EP
“Deixa Falar” é a segunda faixa do lançamento. Em termos de mensagem, parece não ter exatamente a mesma linha de “Desamericanizar”, mas em termos musicais pode ser vista como uma afirmação da música brasileira. “Deixa Falar” é um samba com olhares da MPB. Libertária, a letra da canção beira o ideal da vida, com uma exclamação feroz: “Me deixa cantar!”. Esta música, para Teresa, é uma referência à grandes cantoras brasileiras, como Elis Regina, Clara Nunes, Beth Carvalho, e tantas outras.
Se é que dá pra concluir…
O EP “Desamericanizar” é curto. São apenas duas músicas, que, no entanto, dizem o que, talvez, diveros conjuntos de palavras seriam incapazes. Vários são os motivos que sustentam essa conclusão, porém, destaco três: Teresa, como boa poetisa, escreveu versos dourados, condensados de tal maneira que invadem nossa capacidade de reflexão; alinhado à isso, a sonoridade, uma vez que os ritmos usados por Teresa e sua equipe de produção/gravação são essencialmente brasileiros; por fim, o EP é a estreia fonográfica de Teresa, artista já presente há anos no universo artístico, o que nos faz entender a sede que ela estava de, de fato, colocar suas ideias no mundo.
Ficha técnica
“Desamericanizar” – música e vídeo:
Arranjo, teclados, violões, coro e programação: André Henriques
Guitarra: Ney Marques
Gravação de voz: Estúdio Nobilemix
Mix e master: Fausto Nobile
Direção de arte e maquiagem: Lia Morais
Foto de capa: Maria Ribeiro
Direção e pós-produção de vídeo: Derek Tatini (Onemax Cinematic)
Produção executiva: Nobilemix Produções Artísticas
“Deixa Falar” – música e vídeo:
Arranjo, teclados, violões, coro e programação: André Henriques
Guitarra: Ney Marques
Percussão: Marcus Cesar
Gravação de voz: Estúdio Nobilemix
Mix e master: Fausto Nobile
Direção de arte e maquiagem: Lia Morais
Foto de capa: Lia Morais
Direção e pós-produção de vídeo: Lia Morais e Fausto Nobile
Produção executiva: Nobilemix Produções Artísticas
FOTO PRINCIPAL: (Capa do EP – Foto: Maria Ribeiro | Arte: Fausto Nobile)