6 de outubro de 2024
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“Magrelinha” de Luiz Melodia em 2024; Brega rock em sátira sobre relações; Pop nacional para além da felicidade mundana; O “Cavaleiro das Trevas” de Eric Be; Jaco e seu experimento musical com estética tropical [lupa na canção #34]

Muitas sugestões musicais chegam até nós, mas nem todas estarão aqui. Bem vindos ao Lupa na Canção!

Esta é uma lista de novidades lançadas recentemente, de diferentes temáticas e gêneros musicais. Dificilmente você verá no Lupa canções do mainstream. A ideia é apresentar com uma “lupa” coisas novas e alternativas aos grandes sucessos, afinal é este uma das missões da Revista.

É importante ressaltar que as posições são aleatórias, não indicando que uma seja melhor que a outra.

De 1973 à 2024: clássico de Luiz Melodia recebe calorosa interpretação ao vivo de Dude São Thiago

Quem é Dude São Thiago? Apresente-se!

Dude São Thiago é um cara inquieto e curioso que tenta observar o mundo olhando no fundo dos olhos. Sou natural de Campinas, e vim para São Paulo (capital) há vinte anos para me tornar psiquiatra (pela USP) e aprofundar minha formação como ator. Estudei medicina e artes dramáticas simultaneamente, e depois de concluídos os percursos formativos, passei seis anos totalmente dedicado ao teatro. Nesta época, vivi experiências incríveis e terríveis, trabalhei com artistas geniais, enveredei mais para o campo da direção teatral, e experimentei na pele a enorme lacuna de estruturas culturais que nosso país oferece. Em 2012, decidi mergulhar em outra formação, a psicanálise. Passei mais de uma década totalmente dedicado a isso, tornei-me psicanalista, professor e membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP). Mas a veia artística fala alto e é imperiosa. Eu sentia muita falta dessa via de expressão para minhas ideias e fui voltando, meio sorrateiramente, desta vez através da música, como intérprete e compositor. A música sempre fez parte da minha formação, mas sempre como coadjuvante. Desta fez, vesti a camisa das práticas e estudos, procurei mestras e mestres que admiro muito, tirei meu caderno de composições da gaveta, e cá estou, lançando meu primeiro single.

Como você enxerga “Magrelinha”, música de Luiz Melodia lançada em 1973?

Luiz Melodia é um artista grandioso em sua subversão. Ele nunca se submeteu a ser definido como artista de um único gênero, nem dentro do mundo musical, nem entre os diferentes campos artísticos em que atuava. Eu me identifico muito com essa liberdade identitária que ele provocava – por mais paradoxal que isso possa ser. E “Magrelinha” é uma canção que sempre merecerá novas versões, porque tem sua maior potência na própria poética da letra, na palavra aberta que permite as mais diferentes interpretações. O single que estou lançando foi gravado durante o espetáculo “O sexo do vento”, que realizei em 2023. Um monólogo musical, com uma dramaturgia de diversas canções da MPB costuradas com textos poéticos de minha autoria. 

Por que, então, resolveu gravá-la?

Decidi lança-la como single porque, no espetáculo, “Magrelinha” tem um papel de canção-entreato, fazendo uma ponte entre um primeiro ato de denúncias das hegemonias de discurso que nos oprimem, e um segundo ato que vai ao encontro do feminino como potência criativa e inventiva do humano. Leio a canção desta forma – ela carrega tanto denúncias quanto apostas, trazendo em sua poesia a complexidade que é o coração deste nosso Brasil e nossa eterna construção das liberdades. Acho que isso condensa um tanto do meu jeito de construir minha vida, um tanto das minhas lutas e sonhos pessoais. 

O que sua versão traz de especial e o que o texto poético inserido na versão a acrescenta?

O texto poético que inseri nesta versão explode a complexidade da canção. Porque ao mesmo tempo em que ela me pega pela identificação com o oprimido em busca do amor e da liberdade, ela também me pega pela identificação com o opressor. Sou um artista branco e cheio de privilégios, cantando a música de um artista negro que lutou muito para construir um lugar de existência. Sim, o pôr-do-sol revela o sorriso, no lusco-fusco é possível amar para além das questões identitárias, mas não encaro isso como uma solução romântica para as injustiças. Sublinhar essa tensão, ao meu ver, marca ainda mais a grandiosidade desta obra de nosso cancioneiro. 

Há alguma(s) curiosidade(s) que vocês gostariam de destacar sobre este lançamento?

Como eu disse antes, o single foi gravado ao vivo no espetáculo “O Sexo do Vento”. E este projeto vai virar um álbum, que já estamos gravando. Será um disco estruturado como uma narrativa, desses discos que devem ser escutados do início ao fim, algo que vai muito na contra-corrente dos tempos atuais, em que as pessoas mal escutam uma música até o fim. Achei importante insistir nessa proposta, de um brecha na nossa loucura cotidiana. E estarei muito bem acompanhado de compositores como Chico Buarque, João Bosco, Marina Lima, Marisa Monte, Aldir Blanc, Vitor Ramil, Vinicius Calderoni, dentre outros. E Luiz Melodia, e sua “Magrelinha”, obviamente farão parte do álbum, numa nova roupagem. 

Respostas de Dude São Thiago

Disponível nas playlists “MPB – O que há de novo?” e “Brasil Sem Fronteiras…”

Relacionamento em conflitos acaba no judiciário; é esta a sátira da banda Jogo Sujo no brega rock “Ela Me Processou”

Qual a melhor sinopse deste lançamento?

“Ela Me Processou” é o mais novo single da banda Jogo Sujo, uma faixa que mistura brega rock com uma dose generosa de humor e irreverência. É uma canção que desafia convenções, narrando a história de um casal que, em meio a conflitos, acaba se envolvendo em um processo judicial. 

O que diz a letra da música e qual sua mensagem? 

A letra de “Ela Me Processou” conta a história de um relacionamento que se desmorona de forma dramática e cômica, levando a um processo judicial. A mensagem principal é uma crítica bem-humorada às complicações e absurdos que podem surgir em relacionamentos amorosos. Com isso, a música convida o ouvinte a rir das situações difíceis, abordando o drama com uma leveza que só o humor pode proporcionar.

A letra e a sonoridade são bem curiosas. De onde elas vieram? 

A sonoridade de “Ela Me Processou” é uma fusão do brega rock com elementos do rock gaúcho e do funk, refletindo as influências diversificadas da banda. A letra surgiu de uma inspiração em tramas dramáticas e intensas, quase como as que se vê nas histórias de Nelson Rodrigues, mas sempre com um toque de humor. A banda queria criar algo que fosse ao mesmo tempo profundo e divertido, capaz de fazer as pessoas rirem e refletirem.

O que esta música diz sobre vocês? Afinal, quem é a Jogo Sujo? 

“Ela Me Processou” é uma amostra perfeita de quem é a Jogo Sujo. Somos uma banda que não tem medo de misturar gêneros e desafiar o status quo. Nossa música é uma combinação de intensidade emocional e leveza, sempre buscando a conexão com o público através de temas que, embora cotidianos, são universais. Somos irreverentes, autênticos, e sempre prontos para explorar novos caminhos na música.

Há alguma(s) curiosidade(s) que vocês gostariam de destacar sobre este lançamento? 

Uma curiosidade interessante sobre “Ela Me Processou” é que a ideia original para a letra veio de uma conversa casual sobre relacionamentos e as situações absurdas que podem surgir. A inspiração para o tom humorístico veio das comédias clássicas e dos contos dramáticos que viram a vida pelo prisma do exagero e da ironia. Além disso, a música foi gravada em um clima descontraído, quase como se estivéssemos contando uma piada entre amigos, o que transparece na energia vibrante da faixa.

Respostas assinadas pela banda

Disponível na playlist “Brasil Sem Fronteiras…”

“Ser feliz não é o suficiente”, diz Danni Guerra sobre sua música “Aladdin”

Danni, o que sua música “Aladdin” retrata?

“Aladdin” fala do coração como lugar da alma que só pode ser acessado pelo Dono da vida. Seu amor é mais que mágica e maior do que qualquer tipo de ideal de felicidade construído a partir de nossos próprios anseios e ilusões.

Com “Aladdin”, o que o mundo aprende com você, em termos de mensagem e musicalidade?

“Ser feliz não é o suficiente”. Essa é a mensagem central de Aladdin. Na música, a mítica do gênio e da lâmpada com os três desejos simboliza o anseio humano de realização e felicidade. Vivemos a cultura individualista que procura e possui auto felicidade como um objetivo vital, um tipo de felicidade privada, não compartilhada, que é almejada como um prêmio desde a infância até a velhice, essa felicidade deve ser conquistada, ainda que num passe de mágica.

Somos atores de um mercado da felicidade vendida num conta gotas de ilusões. Em “Aladdin”, esse objetivo de ser feliz se desfaz como a areia do deserto entre as mãos, quando se descobre que a felicidade almejada com a lâmpada é uma miragem, um mito contado e reproduzido pela cultura, um capital cultural. Assim, ser feliz não é o suficiente. Em nossa interioridade há um lugar perdido que nenhum gênio pode achar, um lugar escondido que só Alguém pode encontrar. Esse é o lugar da alma que grita pelo Sentido da vida, maior do que apenas ser feliz.

E como ela surgiu, o que a inspirou?

“Aladdin” é uma composição autoral, feita por mim em abril de 2024. Sentei no piano e deixei vir a melodia, o feeling do coração para os dedos. Inspirado em “Ribbon in the sky” de Stevie Wonder, compus o riff de piano que dá origem ao refrão e introdução da canção. Logo após fui abençoado com o insight da letra sobre a lâmpada de “Aladdin”. A música nasceu como nascem as canções que surgem da alma, em um momento de inspiração inesperado, não premeditado, típico do fazer arte. Sua sonoridade tem pegada pop, influenciada pela Black music, sobretudo, o jazz e o R&B.

Qual o poder do clipe de “Aladdin”?

O clipe de “Aladdin”, se encaixa na categoria das obras cinematográficas que possuem agnetismo próprio, sincronizando canção e imagem em um enredo desértico e groovado no qual a lâmpada de Aladdin é deixada para trás no final. O videoclipe produzido e dirigido por Genialdo Costa já conta com mais de 140 mil views desde seu lançamento e pode ser assistido no meu canal do Youtube.

E o que esta canção diz sobre você, Danni Guerra?

Tanto a composição como a produção de “Aladdin” se estabeleceram como formas de me expressar artisticamente, encontrar as melodias da alma, por pra fora sentimentos guardados no coração, aplicar minhas concepções sobre produção musical e imprimir minha digital sonora na obra como um todo. Feliz com o resultado, penso em “Aladdin” como porta de entrada para o mercado e cena pop brasileira.

Finalizo abrindo o espaço para você comentar o que achar necessário sobre este lançamento.

Espero que “Aladdin” cumpra sua função enquanto obra de arte, ser e estar no mundo sem justificativa (Rookmaaker) e encontrar o olhar e a alma do que a recebe a interpreta. Se isso acontecer, já valeu.

Respostas de Danni Guerra

Disponível na playlist “Brasil Sem Fronteiras…”

“Cavaleiro das Trevas”: Eric Be lança nova versão desta música que “gruda fácil-fácil na cabeça” e é peça indispensável do seu repertório

“Cavaleiro das Trevas” é parte da sua estreia como músico profissional. O que esta música diz sobre esta estreia e sua persona artística?

“Cavaleiro das Trevas” é minha composição mais antiga, e por ser uma música simples, good vibe e com refrão chiclete, ela tem atravessado os anos comigo. Sempre que toco músicas de outros artistas, meu público mais próximo pede pra tocar “Cavaleiro das Trevas”. O título às vezes engana, alguns acham que a música vai falar do Batman, outros acham que é uma música mais “trevas”, mas ela não passa de uma música bem humorada, e que tem trevas no nome simplesmente porque Eric Be é uma pessoa muito mais noturna que diurna.

A letra desta música é inusitada, se permite dizer, Eric. Conte, então, aos leitores do LUPA NA CANÇÃO, o que ela diz e qual sua mensagem.

Alguns tímidos usam o violão não só como instrumento musical, mas de inserção social, de conquista… Como mencionei, “Cavaleiro das Trevas” é uma música bem humorada, quase uma história de pescador. Acho que o músico tímido que vivia em mim desejava que sua viola fosse encantada (às vezes ela era… rs) e transportou seu desejo ao cavaleiro…

Você se recorda em qual momento surgiu a ideia desta canção e como esta ideia transitou até ser finalizada?

Eu estava alguns dias compondo minha primeira bossa nova, o samba triste de “João e Maria”, uma música de harmonia e letra mais complexas, e no dia em que terminei essa canção, “Cavaleiro das Trevas” surgiu em questão de 5 minutos. Eu anotei as duas músicas, gravei e 1 ou 2 dias depois fui mostrar para os meus amigos. Quem era músico gostou do samba triste, e quem não era não deu a mínima atenção, mas pediu para eu repetir o “Cavaleiro das Trevas”. Incluí a música no meu repertório e segui tocando. A versão lançada em 2024 tem um arranjo novo, e o que mais me encanta nele é a combinação do violão com o violino de um romeno chamado “Florian Cristea”.

Sobre a musicalidade de “Cavaleiro das Trevas”, quais são suas considerações?

Trata-se de uma música simples, com ritmo envolvente, um bom arranjo e um bom refrão. Acho que ela carrega muito das minhas influências de fins dos 90, de Skank e de uma banda de Santa Catarina que eu gosto muito, o Dazaranha.

Você tem alguma curiosidade sobre este lançamento que queira destacar?

A música foi produzida por Rodrigo de Castro Lopes, vencedor do dois Grammy, e executada por alguns dos melhores músicos do Brasil. Na sequência dela, devo lançar mais 12 canções de minha autoria, provavelmente encerrando esse ciclo de lançamentos ao final de janeiro de 2025.

Respostas de Eric Be

Disponível na playlist “Brasil Sem Fronteiras…”

“Um conte de pleine lune”, música com estética tropical é um experimento musical ousado e assertivo de Jaco

Conte-nos o que é esta música, em resumo?

Esta música é um ensaio sobre bolero em B menor, testando algumas possibilidades e experimentos de arranjo orgânico, reforçando um refrão também em menor.

O que a música retrata na letra e qual sua mensagem?

A letra retrata as conjunções do amor em suas nuances de aspectos do micro ao macro, mostrando o que a palavra não pode atingir como sensação: “ah, rapaz, nem dizer nada mais… só viu nos olhos dela; e eram dois olhos loucos que nem mais querendo dizer nada”.

Quanto a sonoridade, quais são suas considerações?

A tentativa de auto produção de uma estética um tanto quanto tropical, talvez falha, mas quem sabe, presente mistério.

Em qual situação esta música surgiu?

Essa foi uma daquelas canções feitas totalmente ao final do processo de produção do disco “Triste Alegre”, de maneira quase que instantânea, como um pequeno sopro vital, completamente descompromissada, cheia de leveza e fantasia.

Há alguma curiosidade sobre este lançamento que você queira destacar?

A presença do músico francês Léo Blomov na guitarra, e talvez o fato de esta ter sido escolhida como primeiro single pelo distribuidor francês – mesmo tendo sido uma track adicionada nos últimos dias… também o título ser em francês e a letra em português, parece fazer bastante sentido com o universo desta canção, que não é senão um conto de lua cheia.

Respostas de Jaco

administrator
Fundador e editor da Arte Brasileira. Jornalista por formação e amor. Apaixonado pelo Brasil e por seus grandes artistas.