Na foto: Eduardo Gudin acompanhado pelas cantoras do disco, Léla Simões e
Naila Gallotta – Crédito: Luis Villaça / Divulgação.
CENSURA ? Ontem (3), o 18º disco do músico Eduardo Gudin (@eduardogudin) chegou aos streamings. “Valsas, Choros e Canções”, álbum navegante além do mar do samba, gênero predominante no trabalho do artista, é especial, como tudo que sempre fez.
No entanto, a Arte Brasileira destaca apenas uma das treze canções, mas condicionada pelo critério contextual. Entre o pacote de inéditas, situa-se como nona faixa a reveladora “Fábula”, interpretada por Lela Simões (@lela_simoes) e Naila Gallota, companheiras do artista neste álbum.
Censurada pelos militares nos anos 1970, a canção não chegou a integrar um dos dois primeiros discos de Eduardo, assim como era planejado. Escrita por ele e Sérgio Natureza, a letra é uma paulada desgostosa para qualquer regime ditatorial e agressivo. Nela, menções nítidas sobre presos e mortos durante a ditadura, e a intenção de relembrar o ocorrido.
Essa vida sob perigo era uma constante para o compositor, que teve mais duas músicas censuradas, ambas compostas com Paulo César Pinheiro, e que, graças a inteligentes alterações, foram gravadas em 1976.
CONFIRA A LETRA NA ÍNTEGRA
Foram anos tão longos
Nós éramos tão moços
Repartindo caroços
E ossos pelos nossos
Destroços do poder
Um vício de quererver
A luz quebrando as vidraças
O sol nas praças, no ar
A voz rasgando as mordaças
Esquecer jamais
Sempre relembrar
Foram anos tão longos
E os poucos que restaram
Contaram-nos histórias
Heroicas, suicidas
Mil vidas eu morri
Amigos que perdi
São marcas na minha memória
Manchas não dão pra apagar
Mesmo com dor e sem glória
A noite passou e amanhecerá
Esquecer jamais
Sempre relembrar…
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?Fonte: matéria de Augusto Diniz @jornalistaaugustodiniz publicada no Carta Capital @cartacapital.