11 de dezembro de 2024
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Diretamente de Glasgow, Wesley Poison lança novo livro abordando as Eras da vida e o impacto do tempo

16 de novembro de 2024. O escritor brasileiro Wesley Poison publica “O Chamado do Relógio da Vida”, em português e inglês. O leitor terá acesso à uma gama de poemas, ricos em sentimentos, anotações e reflexões, mas questionará se é mesmo um jovem de 30 anos que os escreve, tamanha a maturidade dos versos. Os poemas são organizados em capítulos de acordo com o correr do tempo da vida de Poison. Contudo, as experiências e percepções dele à cerca das presepadas e glórias da vida são universais, é com facilidade que o leitor se vê naquele mundo de queixas e agradecimentos como se fosse o seu próprio. O título da obra é praticamente literal. Wesley Poison está numa dimensão onde o tempo dita as regras, o que se pensa, se diz, como se age, como engole as lágrimas e como abandona o sorriso quando ele se vai. “Diante da cronologia que paira sobre cada um de nós, é sobre a consciência do tempo que tudo consome.”, disse o autor. É tão à fundo, que “O Chamado do Relógio da Vida” encaminha o leitor mais sensível à um universo de sentimentos que não suporta o objetivo, aquilo ser possível tocar com as mãos e não sentir com o pulsar do peito. Cada observação cuidadosa – ou acidental – destrincha possibilidades tão e unicamente pessoais e da alma, que o robô inveja. Neste livro, coisas meramente materiais não existem, existem, sim, o que o tempo fez, faz e fará com elas e como nós, meros humanos, sentimos essas cronológicas e cítricas mudanças.

“É uma viagem sobre as Eras da minha vida e um relato das experiências que nela pude viver e ver ao meu redor; todas em suas mais honestas dualidades em meio a luz e escuridão da alma. É sobre como viver anos centenários e atravessar as mudanças de tudo; arriscar-se em se encontrar, perder e reencontrar, diante da avidez pela busca de um sentido, sobre criar esse sentido; até mesmo viver intensamente quando parecer não haver nenhum sentido. Com o passar do tempo, tenho sentido cada vez mais o chamado do relógio da vida, o que me levou a refletir profundamente sobre a realidade da mortalidade carnal. Minha vida é tudo o que tenho agora, enquanto estou aqui. Sei que, em algum momento, não estarei mais aqui, e essas palavras serão apenas ecos no ar. Às vezes, deixamos de apreciar o momento porque estamos distraídos com o que já passou ou com o que pode vir. No entanto, falo sobre navegar por esses estágios da vida e buscar a consciência de que, em cada momento presente, estou vivo, arriscando tudo. Sou eu falando comigo mesmo, lembrando-me de viver no presente, fiel aos meus sonhos e possibilidades.”, bem descreveu Wesley.

“O Chamado do Relógio da Vida” está perante, é óbvio, das angústias que o autor viveu, mas, sobretudo, de seu empenho em superá-las. Não só superar, entendê-las em profundidade e, assim, e evoluir ainda que banhado de sangue. Os acasos da trajetória de Wesley, estes tão doloridos quanto os dos outros seres humanos, caracterizam as temáticas dos poemas. “Eu relato muito sobre minhas mortes metafóricas, minhas ressurreições cada dia antes da minha morte final e cada vez mais eu compreendo que há algo maior que minha ignorância, maior que meu ego… Por isso, também falo sobre me importar não apenas comigo, mas com outras pessoas, e buscando a humildade diante do fato de que minha vida vem de outra.  Tal humildade extremamente importante nessa vastidão cósmica… tal vastidão que também me possibilitou ladear-me de pessoas maravilhosas que fazem ou fizeram parte da minha vida. Cito por exemplo a minha avó, que trouxe para minha vida lindas cores apenas pelo fato de ter sido ela mesma e por ter me amado profundamente. Hoje não a tenho mais aqui nesse plano físico, e sua passagem de fato afetou muito a forma como vejo as coisas. Agora, mais ainda, acredito que o amor transcende até a morte, em vista que a sinto todos os dias, como também acredito muito na importância sobre passar tempo com as pessoas que amamos. É uma das formas mais maravilhosas de se usar o tempo, em vista de que tudo nessa vida é temporário e efêmero.”

Há, no entanto, uma superação desejada por Wesley, esta que está superior ao nosso ainda pobre entendimento do relógio ditador. É possível ignorá-lo, mas com sabedoria? É possível avançar a consciência sem que o tempo nos escravize, de tal maneira que a noção do ontem e do amanhã seja inferior à noção máxima de hoje, do presente quente e vivo? “Em meio às mudanças em meu núcleo e em minha carne, em minha pele, também se trata da reflexão de superar essa cronologia. O agora é tudo. O que eu faço agora muda o curso do meu futuro para sempre. Consciência é necessária, e atitude é tudo.”, pontuou Wesley.

Diante dessa provocação, fica o convite: leia a entrevista à seguir para a ARTE BRASILEIRA. Mais detalhes e bastidores do livro são comentados pelo escritor.

Capa idealizada/desenhada por Wesley Poison com pintura de Dhabitah Punk

Os poemas nasceram para serem parte deste livro. Como isso aconteceu?

Quando comecei a escrever este livro, eu já sabia que ele seria de fato um livro. Ao contrário do primeiro, que aconteceu de forma inesperada – inicialmente apenas poemas despretensiosos que depois se tornaram uma obra completa -, esse novo projeto foi mais deliberado. Novas experiências começaram a me moldar depois que me mudei para a Escócia, e então o conceito simplesmente surgiu em minha mente. Comecei a escrever com um arquétipo claro em mente, com o objetivo de alcançar uma visão específica. À medida que prosseguia, desenvolvi ainda mais o material por meio de novas experiências quando me mudei para a Irlanda.

É possível mencionar temas/assuntos que foram importantes para a escrita?

Em geral, os poemas tomaram forma em torno de temas como aspirações, medos, ambições, saúde mental, vida, morte e a dualidade de ser humano nessa curta jornada cronológica na Terra.

O que difere o seu primeiro livro e “O Chamado do Relógio da Vida”?

Tem sido uma jornada de novas direções e descobertas como artista e pessoa.  Eu me lembro quando lancei o primeiro livro “Coração enraizado, Pensamento Elevado: em Equação Poética”; havia tanta coisa pra dizer e expressar naquela época, diante do que eu estava vivendo e das observações que eu fazia ao ver o mundo. Aquela foi a minha realidade daquele momento e após isso muita coisa aconteceu. Eu vivi tanta coisa e tantas mudanças. E senti que era a hora de transformar isso em arte. Então comecei a escrever material novo que então se tornaria esse livro e estou muito extasiado em finalmente poder compartilhar.

Eu soube que seria um livro através da necessidade de contar histórias inspiradas nessa minha nova jornada após me mudar do Brasil. Muita coisa aconteceu, coisas que eu nunca imaginei que vivenciaria e isso me fez olhar o mundo com olhos ainda mais diferentes;  me fez crescer como ser humano e artista. Precisamente eu comecei a escrever em agosto de 2022 na Escócia e finalizei em agosto de 2023 na Irlanda. Depois disso, levei 6 meses traduzindo 100% em inglês e mais alguns meses até obter a revisão finalizada.

Qual a proposta da divisão de capítulos?

Quando comecei a escrever, havia a ideia de trazer as Eras da minha vida em seu decorrer, a fim de narrar metaforicamente meu nascer, viver, morrer e renascer.  Eu havia em mente que queria descrever essas etapas da vida em forma de linha do tempo, assim dividi essas etapas por capítulos específicos. O início de cada capítulo contém uma espécie de carta aberta que traz uma introdução de ideias do que será apresentado.

A obra será lançada em português e em inglês. Por que?

Eu busquei evoluir como artista e uma das minhas maiores evoluções como foi nitidamente me arriscar em lançar esse livro também em inglês, o qual não é meu primeiro idioma.  Quando comecei a escrever esse projeto, eu fiz pensando em poder abranger um público maior e internacional. Originalmente a maioria dos poemas foram escritos em português e depois eu traduzi, o que também foi praticamente um trabalho de reescrita pois eu tive de parafrasear os versos e acrescentar novas palavras a modo que rimassem, sem tirar o sentido da versão em português. No entanto, grande parte foi originalmente escrita em inglês então sinto que eu desenvolvi, tecnicamente, como poeta no ponto de vista de me expressar também além da minha língua nativa.

Você é jovem, e o livro trata de uma trajetória de vida, lembranças, aprendizados, sofrimentos, amores etc. Qual sua consideração à respeito desta afirmação que fiz?

Realmente tenho me sentido muito tocado pelo fato de que a vida carnal é temporária; minha chance de viver é agora. Eu passei por longas jornadas até o presente momento, com ganhos e perdas, como por exemplo, de pessoas que já não mais aqui estão ou que não mais posso ver como antes, devido ao fato de eu morar em outro país e a saudade dói na alma.

Diante de dia após dia, tenho me segurado na avidez por algo maior que a mim mesmo e tem sido uma experiência de muito aprendizado, em meio a dualidade da alegria e sofrimento. Acredito que uma vez que nos permitimos sentir, pagamos um preço por isso, embora seja maravilhoso a sensação ser cada vez mais humano. E em meio a minha trajetória, tenho escutado cada vez mais o chamado do relógio da vida e assim tenho arriscado tudo para viver minha vida no anseio de aprender a valorizar o meu tempo; tal tempo que é limitado para cada ser vivo.

Qual dose de “Wesley Poison” há neste livro, que, aliás, é assustadoramente autobiográfico? Com isso, quero saber o que este livro diz sobre você?

Ao escrever o livro, fui tomado por uma onda de nostalgia. Narro metaforicamente diversas eras da minha vida — coisas que vivi ou observei ao meu redor — e fiquei surpreso ao perceber quantas coisas aconteceram, o quão rápido tudo passou e o quanto tudo mudou. Tal tempo, que no fim das contas, tornou-se o maior tesouro. Cada verso foi escrito com a intensidade de como viver pela última vez aqueles momentos, valorizando a presença das pessoas que amo, as experiências que me moldam e que me fazem ver a vida de uma perspectiva além dos dias que não se curam nem florescem. Sou eu falando para mim mesmo que, enquanto estiver na Terra, em carne e osso, não vou me negar a viver e a morrer quantas vezes for preciso, para poder renascer e buscar minha versão mais humana, mesmo sendo cheio de imperfeições. Não busco a perfeição; apenas desejo tornar meus momentos fiéis ao que busco e, mais uma vez, valorizá-los, pois, de fato, um dia tudo será uma última despedida. Tenho vivido com esse pensamento, de me despedir todos os dias…

Qual o seu atual momento como escritor e qual o lugar deste livro diante dos seus lançamentos anteriores?

A experiência de escrita desse livro comparada ao anterior foi que dessa vez eu me permiti explorar temas que não havia abordado antes. Nitidamente também amadureci mais como ser humano e artista, então me permiti ir ainda mais além com esse projeto; além dos meus pensamentos e sentimentos. Sou eu oferecendo me em uma bandeja, através das minhas palavras.  Também reafirmo o que havia dito antes em relação ao idioma estrangeiro: foi uma experiência de muito aprendizado poder compartilhar minha arte de forma internacional. É maravilhoso ver como estamos humanamente conectadas com cada alma viva e me sinto extasiado por romper as barreiras do idioma com minha poesia.

Há alguma (ou mais) pontuação que queira fazer, que porventura não teve a oportunidade de comentar nas respostas anteriores?

Resposta: O que eu percebi após compartilhar a minha arte com as pessoas é que estamos todos humanamente conectados, embora cada um vive a sua história de forma diferente. No entanto o sentimento é universal e quando comecei a me apresentar em outro idioma, tive mais ainda certeza disso; é maravilhoso vivenciar o fato de que o cerne da minha poesia tem ultrapassado as barreiras da língua. Ao redor do mundo, estamos expostos a uma infinidade de sentimentos e pensamentos em suas mais distintas dualidades; todos nós passamos por momentos bons e ruins e uma das coisas mais fascinante para mim foi ver a empatia das pessoas, assim como também senti empatia para com o universo a minha volta quando escrevi o livro. E acho que isso é uma das mensagens mais importantes por trás da minha arte. Fazemos parte de um todo onde temos um papel, um significado mesmo que seguimos continuamente em direção da busca desse significado. E não importa se o mundo não é um lugar perfeito, pois não é. Mesmo assim há beleza em todas as coisas diante da reflexão de que enquanto houver tempo, haverá chance de algo mais e além; a chance de tocar os sonhos nem que por um breve lapso.

ENTREVISTA EM INGLÊS: Wesley Poison responde as perguntas de Paddy Quinn em vídeo gravado em Dublin (Irlanda).

“Coração Enraizado, Pensamento Elevado: Em Equação Poética”

É o primeiro livro de Wesley Poison, lançado em 2021 de forma independente. Com 196 páginas, a obra também é conceitual, assim como o apelo à existência. É com o abuso das metáforas que Wesley imprimiu nos poemas um dualismo de sentimentos e percepções a fim de refletir os ciclos da vida. Em entrevista à ARTE BRASILEIRA, Wesley explicou: “Em meio ao cenário vital, sendo ele a Terra, o livro trata-se de originar-se, desenvolver-se e passar pela infindável roda dos ciclos da existência. Diante da vida como sendo uma passagem, é sobre metaforicamente, como uma árvore, enraizar o coração e elevar a mente a fim de poder fortalecer a artéria que os une e, na desobstrução, transitar por esses dois mundos; aprofundá-los, estendê-los, elevá-los, assim então gerar frutos deixando sementes como rastros de vida.” Para ele, no entanto, o processo é possível apenas a partir do dualismo do sentir, de experimentar os piores e melhores lados, a caminho de uma revolução interna. A referência matemática no título do livro vem de “uma analogia como uma expressão numérica onde são equacionados os coeficientes do sentir e do pensar na busca do X, em que a interrogação mantém o enraizar do coração e o pensamento em elevação.”, disse ele.

A foto de capa da publicação é de Alex Coppinger

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Fundador e editor da Arte Brasileira. Jornalista por formação e amor. Apaixonado pelo Brasil e por seus grandes artistas.